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sábado, abril 28, 2007
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sexta-feira, abril 20, 2007
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Já lá vai algum tempo desde o primeiro leilão de fotografia de 1 de Junho de 2006. O catálogo, prefaciado por António Barreto, apresentava na capa uma fotografia de cavaleiros na lezíria ribatejana da autoria de Carlos Relvas, que foi comprada, praticamente pela base de licitação, por um coleccionador do Porto. O episódio é aqui destacado pelo facto de ser uma fotografia de Carlos Relvas e ser a fotografia da capa do catálogo. No entanto, os leilões têm destas coisas. Nessa noite, muita gente terá ficado surpresa pelo sucesso do evento. Confesso que não foi o meu caso. Surpreendeu-me, isso sim, o enorme profissionalismo com que este leilão e o outro que se lhe seguiu foram organizados. Nem parecia que estávamos em Portugal. Muitas vezes, estas iniciativas são pautadas por algum amadorismo e desorganização. Não foi o caso. Quantos de nós já estiveram em leilões sem qualquer conforto, em espaços que mais pareciam vãos de escada? A Potássio Quatro, com os primos Trindade, levou à praça, neste primeiro leilão, entre outras curiosidades: um álbum com a visita presidencial de Óscar Carmona às províncias ultramarinas; um retrato de Arpad Szenes e Vieira da Silva da autoria de Denise Colomb; uma caixa com positivos em vidro, de grandes dimensões, sobre S. Tomé e Príncipe no final do século XIX; e o livro “Lisboa, Cidade Triste e Alegre”, (1959) de Victor Palla e Costa Martins. A sala no CCB estava a transbordar, muitos ficaram de pé. No final, o regozijo era generalizado e percebia-se a satisfação entre organizadores e o público. O primeiro embate estava ganho. No dia 12 de Maio, a senda continua. Às quatro da tarde, vai ouvir-se o martelo que dará início ao terceiro leilão de fotografia. No CCB, na “sala laman”, com catálogo mais ecléctico do que os anteriores, muito diversificado e com peças de maior qualidade. Fotografia do séc. XIX, fotografia moderna, máquinas fotográficas antigas, livros, cartazes e outros objectos ligados à fotografia. Lá estarão os coleccionadores e também os negociantes do ramo. Para ver e para comprar, lá estarão representantes de instituições públicas e privadas, cada vez mais interessadas nestes eventos. Nem podia ser de outra maneira. Se houve tempos em que estes acontecimentos podiam passar ao lado das instituições, hoje isso é cada vez mais difícil. Lá estará a fotografia como arte, como documento histórico, ou ambas as coisas, arte e documento. De todo o modo, como objecto de colecção a suscitar paixões. A informação sobre o leilão está completamente disponível em linha (online), em http://www.potassioquatro.com/ num design bonito, graficamente apelativo, inovador, muito sugestivo e de grande simplicidade na consulta. O público terá à sua disposição um CD com (catálogo em PDF, imagens JPG e um auction - vídeo) por 10 €. Estará também à venda um catálogo de edição limitada (colorido, assinado e numerado de 1 a 100, com capa especial em acid-free e um CD – Multimédia) por 90 €. O facto de esta edição ser limitada torna-a a partir de logo uma peça de colecção. Salta à vista o arrojo dos primos Trindade. Cabe-nos agora a nós estarmos à altura da sua coragem, marcando presença no dia 12 de Maio de 2007 no CCB.
As duas primeiras gravuras, a que se refere a ephigraphe, são completamente novas para os leitores do Diário Ilustrado, que procura sempre, pela gravura que se veja. Traser em dia os seus leitores sobre todas as actualidades de alcance e valor.O Gungunhana que temos dado é o do sertão, em toda a força da sua vida e do seu poderio; o que hoje damos é tal e qual como elle chegou a Cabo Verde, onde foi tirada a respectiva photographia, e pode dizer-se que representando o seu estado physico e moral no momento em que entrou em Lisboa.
A segunda é a de Godide, que seria regulo de amanhã, na dysnatia dos Vátuas, tão bom como o seu avô e seu tio: um déspota sanguinário para com os seus, um inimigo da civilização portuguesa da África Oriental.
Já dissemos, e já muitos collegas referiram episódios de vida aventureira d’este sagacíssimo preto, que foi quem, por parte dos Vátuas, commandou a acção de Coellela. Com uma certa instrução... relativa, pois que chegou a frequentar a escola d’arte e officios de Moçambique; fallando, bem que mal, o portuguez; sabendo até fazer o seu nome, n’uma calligraphia rudimentar, é ao mesmo tempo um Lovelace, um D. Juan do sertão, o terror dos maridos... com dez, vinte, trinta, cinquenta mulheres. Heroe lascivo amante aos centos!
No pele-mêle do África, atraiçoou... o pae, e tanto d’elle se enamorou uma das favoritas, que chegou – o amor não conhece cores! – a querer suicidar-se por causa do ingrato.
Gidide é uma organisação complexa: valente, como poucos; manhoso, como um politico. A pequena ilustração não fez mais do que aperfeiçoar-lhe os maus instinctos nativos.
É um verdadeiro personagem de romance.
O Gungunhana a bordo do transporte África é já conhecida dos nossos leitores, mas a sua reprodução foi-nos pedida por muitos que não alcançaram o número em que primeiramente a déramos; a outra, que representa alguns dos filhos do regulo, só foi dada no suplemento que posemos à venda no dia 13.
A galeria de retratos do Diário Ilustrado, com respeito á campanha de Lourenço Marques, está ainda muito longe de se completar. A cada momento, por obséquios que registramos agradecidamente, nos são enviadas photographias para mandarmos reproduzir em gravura.
É o que fazemos seccessivamente, no desejo, que é nossa obrigação, de corresponder á curiosidade dos nossos leitores, que tanto se enthusiasmaram, num santo patriotismo, com as immorredoiras glorias alcançadas pelas armas portuguesas.
Temos verdadeiras novidades, que previamente annunciaremos, esperando a continuação do favor publico.
Texto integral do Diário Ilustrado de 15 de Março de 1896.
Gungunhana a bordo do vapor "Africa", quando da sua chegada a Lisboa, posando para o fotógrafo com duas das suas sete mulheres. Diário Ilustrado, 15 de Março de 1896. Gravura a partir da fotografia ao lado. Esta foto estará a leilão na Potássio Quatro, no dia 12 de Maio de 2007, no Centro Cultural de Belém em Lisboa.
Forte de Monsanto em Lisboa, 1896. Em pé Zixaxa e Godide (filho de Gungunhana). Sentados, Gungunhana e as suas sete mulheres, antes de embarcarem para os Açores.
No dia anterior, o governo tomara, finalmente, a decisão de os desterrar para a Ilha Terceira, nos Açores. Tentara guardar segredo para que não se repetisse a agitação, quase distúrbios, da populaça, verificada três meses antes. No entanto, a imprensa tinha conseguido furar o sigilo e cinco repórteres estão de plantão junto aos portões do forte.
Os prisioneiros entram em pânico quando os vão buscar. Sobretudo Ngungunhane que se convence que chegou, finalmente, o momento da sua execução. Recusa vestir-se, rola pelo chão, faz o gesto de ser lhe cortada a cabeça. Pergunta, como à chegada a Lisboa: "Vai morrer?".
As sete mulheres parecem enlouquecidas quando se dão conta que vão separá-las dos companheiros. Tal como o cozinheiro Gó, ficam no forte até serem enviadas para a Ilha de S. Tomé.
A muito custo, os guardas vestem Ngungunhane com as roupas novas mandadas fazer para a viagem. As calças de brim estão tão apertadas que se rompem ao subir para o "trem de praça". Zixaxa troça da triste figura do rei destronado. Desde Moçambique que ele e Ngungunhane lançam um ao outro as culpas da rebelião nguni e nutrem um ódio recíproco.
Ao chegar ao Arsenal, esperam-nos o ministro da Marinha, jornalistas, cavalheiros e damas munidos de convites especiais. Godide dá mais autógrafos.
Ngungunhane tem de ser levado em braços para a canhoneira "Zambeze". Está exausto, perdeu o último vestígio de dignidade, mas já desistiu de implorar a audiência a D. Carlos.
São todos revistados porque o comandante do navio teme que escondam facas para se suicidarem. Depois empurram-nos para o "bico da proa da coberta de vante" onde ficam alojados.
A imprensa fustiga o governo pelo "cúmulo da crueldade" de separar os prisioneiros das mulheres.
Fotografias de Chaves Cruz(1870-?)
Chegada a Lisboa de Gungunhana a 13 de Março de 1896
Bibliografia
segunda-feira, abril 16, 2007
Foi criada no dia 13 de Abril a Associação Portuguesa de Photographi@. Cem anos depois de ter sido fundada a sua antecessora, a Sociedade Portuguesa de Photographia.No Cartório Nacional de Georgina Martins, em Lisboa, assinaram a escritura de fundação e legalização os seguintes doze sócios fundadores: Alexandre Ramires, Ângela Camila, António Barreto, António Faria, António Pedro Vicente, Carlos Miguel Fernandes, João Clode, João Loureiro, José Pessoa, Madalena Lello Colaço, Sérgio Gomes e Vitória Mesquita. A associação conta já com várias dezenas de futuros sócios fundadores.
Sem propósitos de especulação comercial nem fins lucrativos, a APPh tem como objectivos o estudo histórico e o progresso científico e artístico da fotografia nas suas implicações técnicas, históricas e sociológicas e aplicações científicas e artísticas, designadamente a investigação sociológica e histórica da imagem fotográfica; a memória fotográfica e a sua preservação; a aplicação de métodos de inventariação e catalogação; a investigação estética e artística inclusivamente na fotografia moderna. A Associação procurará dignificar o património fotográfico nacional, estimular a organização de uma biblioteca e de um centro de documentação. Assim como se esforçará por organizar exposições, cursos, conferências e colóquios. A APPh pretende ainda contribuir para o fomento do ensino da fotografia em todos os níveis e graus de ensino.
A APPh. criará também, logo que possa, uma página na net (website) http://www.apphotographia.com/ com o fim específico de servir de ligação e de informação sobre as actividades da associação.
Podem contactar-nos através do E-mail apphotographi@gmail.com
Lisboa, 15 de Abril de 2007
Acto de escritura notarial da Associação Portuguesa de Photographia
quinta-feira, abril 12, 2007
"Estas são imagens retiradas ao álbum de fotografias de Ruy Cinatti, deambulações por Timor, sobretudo, e pelos seus passos em redor do mundo. As fotografias de Ruy Cinatti constituem, se reconstituído o seu espólio completo, um valioso manancial de imagens para reconhecer o próprio olhar do poeta nas paisagens que visitou.", in revista "Ler" n.º 39 1997.
REALISMO POLÍTICO
Ruy Cinatti, Timor-Amor
Luro. Faldas do Tata-Mai-Lau, com vista ao sul.
Fotografia © Ruy Cinatti

Ruy Cinatti deixou os seus bens e espólio literário à Casa do Gaiato, de Lisboa.
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Hurlements en faveur de Sade - Guy Debord - 1952
Com e Contra o Cinema
Foi uma sociedade específica e não uma tecnologia específica, que fez o cinema tal como é. Em vez disso, podia ter sido análise histórica, teoria, ensaio, memórias. Podia ter consistido de filmes como o que faço neste momento.
O cinema ocupou um lugar central no pensamento e na prática de Guy Debord, na sua crítica das formas de representação e do papel social das imagens. As estratégias e modos de composição formal que caracterizam os seus filmes estão já contidos no seu primeiro gesto cinematográfico, o filme Letrista, Hurlements en faveur de Sade (1952) em que as frases ditas, “desviadas” do seu contexto original, e a poesia concreta, alternadas no ecrã branco (sonoro) e preto (em silêncio), contêm já o seu projecto para uma “dialéctica da desvalorização/revalorização” dos diferentes elementos em jogo e da negação do cinema tal como o conhecemos. Os filmes posteriores prolongam a prática da apropriação e montagem de imagens de fontes diversas (excertos de jornais filmados, filmes publicitários, filmes de ficção, imagens de banda desenhada, fotografias), de imagens realizadas por Debord, conjugadas com os textos escritos e lidos, igualmente desviados do seu contexto original (citações, textos do próprio autor) a que se acrescenta a utilização pontual da música que serve de contraponto lírico às imagens. As imagens utilizadas constituem ao mesmo tempo documentos e artefactos, contendo de forma imanente a sua própria crítica, em comentários sobre o cinema e os géneros cinematográficos, as combinações entre a imagem e o texto, as relações pessoais e sociais, a ideologia, a luta de classes e a política e o lugar do Homem na História e no sistema espectacular que expõe e critica. Os filmes de Guy Debord intensificam aquilo que na obra do seu autor reflecte um discurso sobre o potencial revolucionário da juventude, sobre a amizade, o amor, conjugando o lirismo e as suas reflexões sobre a cidade, o urbanismo e a arquitectura, num constante olhar retrospectivo sobre o exercício do seu pensamento. As obras cinematográficas de Guy Debord estiveram praticamente invisíveis, interditadas de qualquer projecção pública pelo próprio realizador, após o assassinato do seu produtor Gérard Lebovici em 1984. Disponíveis sobretudo na sua forma escrita numa compilação de textos e imagens organizada pelo autor, os filmes de Guy Debord foram recentemente disponibilizados de novo para circulação, o que permite que possa ser exibida, neste ciclo, a sua obra integral.
Em complemento apresenta-se o filme Letrista L’Anticoncept de Gil J Wolman, de 1952, um dos mais importantes filmes de vanguarda do pós-guerra e influência determinante para Guy Debord. O filme vai ser apresentado no seu dispositivo original, projectado num balão sonda.
Comissário Ricardo Matos Cabo
Sexta 13 de Abril
Sábado 14 de Abril
Classificação: M/16
Filmes apresentados em v.o. francesa
Informações e reservas 21 790 51 55 culturgest.bilheteira@cgd.pt
Bilhetes à venda Culturgest Fnac lojas Abreu www.ticketline.pt
quinta-feira, abril 05, 2007
Tendo crescido em Lisboa, no quinto andar do mesmo prédio onde moravam os seus avós, Daniel Blaufuks viveu a infância imerso num universo de vestígios dessa experiência dos refugiados – um mundo de alusões, fotografias, alguns objectos, comidas, costumes e memórias que não eram as suas, mas que acabariam por o atrair e marcar de forma indelével.
Utilizando algumas dessas reminiscências, bem como filmes da época e de família, excertos de memórias e textos de refugiados, relatos de família e materiais de arquivos europeus e americanos, Blaufuks oferece-nos um vivido documento com uma bela imagem sobre um momento significativo da história do século XX.
O resultado – belo, delicado – é testemunho de uma importante, ainda que muitas vezes menosprezada, verdade. Apesar da natureza imperfeita, apesar da sua incapacidade para captar e comunicar a experiência através da memória, a transmissão entre gerações é envolta em valores e em lições que podem efectivamente passar de pessoa para pessoa, de geração para geração, através dos tempos.
Leo Spitzer, professor de História, Dartmouth College














