domingo, janeiro 07, 2007

Salomão Nunes de Carvalho.

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Salomão Nunes Carvalho, auto-retrato daguerreótipo n.d.

Colecção - Biblioteca do Congresso, Washington
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Os Nunes Carvalho daguerreotipistas sefarditas


...............A 22 de Agosto de 1853, o americano Salomão Nunes Carvalho (1815-1897), judeu sefardita de origem portuguesa, pintor e fotógrafo, com atelier inaugurado a 1 de Junho de 1849 em Baltimor, encontrou-se com o coronel John Charles Frémont (1813-1890), astrónomo, geógrafo e expedicionário de prestígio, que fora incumbido de organizar uma expedição que fizesse o levantamento orográfico para a execução do futuro traçado da primeira linha de caminho de ferro transcontinental que atravessaria o Kansas, as montanhas rochosas do Colorado, Utah até Los Angeles, entre o rio Mississipi e a Costa do Pacífico. Frémont procurava um desenhador e fotógrafo para acompanhá-lo na expedição. Salomão Nunes Carvalho aceitou de imediato o convite e assim juntou-se à expedição como desenhador e fotógrafo oficial. Teve apenas dez dias para preparar todo o material fotográfico necessário para esta viagem arrojada, que lhe apresentava problemas acrescidos pela necessidade de cumprir com as orações da religião que professava e com regras muito especificas quanto aos alimentos kosher, e ainda, as adversidades climatéricas de um Inverno impiedoso, que se imporia no cume das montanhas com temperaturas que chegariam a rondar os 30 graus negativos e que previa fizessem alterar todo o processo comum das aplicações correntes para a preparação, revelação e posterior conservação de todas as chapas de daguerreótipos.
...............As suspeitas de S. N. Carvalho quanto à morosidade do processo fotográfico naquelas circunstâncias climatéricas viriam a concretizar-se. O fotógrafo fez-se valer dos seus conhecimentos em química e estudos sobre a incidência da luz, dedicando-se diariamente à preparação de todo o material fotográfico e obrigando à paragem da expedição por um período de 12 horas em cada local, onde eram efectuadas as tomadas de vista, para que efectivamente se tivesse a certeza que as imagens haviam sido bem captadas e resistiriam às vicissitudes das intempéries. Isto contribuiu para uma sucessão de atrasos na expedição, o que veio a revelar-se desastroso pois para além de ter trazido um maior desgaste físico ao grupo fez com que este chegasse às Montanhas Rochosas do Colorado numa altura em que o clima era mais severo.
...............A Expedição viria a revelar-se um desastre. Salomão Nunes Carvalho, depois de ter suportado o frio e a neve, a fome e a doença, enfrentado índios e animais selvagens, ter quebrado as regras rígidas da alimentação da religião judia (Kashrut), numa aventura em que nem todos chegaram ao fim e que para muitos o preço foi a morte; em Utha, o fotógrafo sefradita viu-se obrigado a abandonar a expedição por motivos de saúde.
...............Salomão Nunes Carvalho regressa desta aventura com 300 daguerreótipos tornando-se o primeiro daguerreotipista a fotografar o Kansas. Segundo Robert Faft “...As mais antigas fotografias feitas no Kansas que eu tenha conhecimento e que sejam mencionadas são atribuídas a Salomão Nunes Carvalho – durante a expedição Frémont em 1853/54” in A Photographic Históry of Early Kansas.
Antes da expedição ao Far Weste, Salomão Nunes de Carvalho trabalhou na Broadway em New York City para Mathew Brady (1823-1896) e também para o atelier fotográfico de Jeremiah Gurney (1812-1886), provavelmente, na mesma altura em que aí se encontrava o fotógrafo português Joaquim José Pacheco (Joaquim Insley Pacheco), ver Registo Daguerreian de Craig (Pesquisa sobre os fotógrafos americanos entre 1839-1860), John S. Craig actualização de 2003. Acrescento agora, ao que aqui tenho vindo a escrever, o comentário de Carlos Miguel Fernandes do blog No Mundo http://no-mundo.weblog.com.pt/, e ao qual aproveito para agradecer: "There was another young newcomer to Broadway's photography row within the next few months. Brady undoubtedly saw him, S.N. Carvalho, a brisk youn man with a short black beard, probably the first American to penetrate America's Wild West with a camera."in Mathew Brady - Historian with a Camera, Bonanza Books, New York, 1955.

...............Em 1856, Salomão Nunes Carvalho descreve as suas experiências durante a expedição, num livro intitulado “Incidents of Travel and Adventure in the Far West”, publicado por Derby e Jackson, Nova Iorque 1859. http://www.jewish-history.com/WildWest/Carvalho/index.html Nestes testemunhos, é mencionado que as primeiras vistas foram captadas perto de Westport a 17 ou 18 de Setembro de 1853.
...............Desta expedição que ficou para a história norte americana como um feito para a época, onde Salomão Nunes Carvalho viu reconhecida a sua habilidade e mestria profissional e John Charles Frémont alicerçou condições para se lançar na corrida ao Senado, não foi feito relatório escrito e a memória da expedição registada por S. N. Carvalho, assim como as cópias feitas pelo conhecido fotógrafo norte americano Mathew B. Brady, perdeu-se para sempre aquando de um incêndio em Nova Iorque em 1881, num armazém onde estavam guardados os daguerreótipos desta epopeia e grande parte das cópias de Brady. Ao que se sabe, de 300 daguerreótipos restaram apenas 3 que estão conservados e preservados pela Biblioteca do Congresso, em Washington. Conhece-se ainda 34 gravuras que haviam sido abertas a partir dos daguerreótipos feitos durante a expedição.

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Aldeia Cheyenne, daguerreótipo S. N. Carvalho


Colecção da Biblioteca do Congresso, Washington


Genealogia da família Nunes Carvalho


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David e Charity, filhos de Nunes Carvalho, Colecção da Biblioteca do Congresso...
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Auto-retrato Nunes Carvalho, Colecção da Biblioteca do Congresso.


...............A ascendência portuguesa de Salomão Nunes Carvalho reporta ao início do século XVIII, quando persistia a perseguição e expulsão dos judeus em Portugal pela igreja católica.
...............Não conheço as datas de nascimento e morte do avô do fotógrafo daguerreotipista que tinha o mesmo nome. Apenas sei, que casou em Londres em Abril de 1765 com Judite Henriques Pimentel e que do matrimónio nasceram cinco filhos, entre os quais, David Nunes Carvalho (Londres, 1784 – Baltimor, 1860) que casa em 1814 com Sarah d’Azevedo e tem cinco filhos, um dos quais é o fotógrafo sefardita Salomão Nunes Carvalho que nasceu a 27 de Abril de 1815 em Charleston, Carolina do Sul e que foi o primeiro daguerreotipista a atravessar os EUA e a fotografar o lendário oeste selvagem, http://ruadajudiaria.com/index.php?p=80. Salomão Nunes Carvalho casou a 15 de Outubro de 1845, em Filadélfia com Sarah Miriam Solis e morreu em Nova Iorque a 21 de Maio de 1897. O pai do fotógrafo, David Nunes Carvalho também foi daguerreotipista, estando referenciado no “Directory of Baltimore Daguerreans” de Ross J. Kelbaugh
http://www.bcpl.net/~images/baltodagsa-j.html .

DAGUERREÓTIPOS DE ROBERT SHLAER, 1996


Robert Shlaer um daguerreotipista contemporâneo
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Robert Shlaer, 1998


Robert Shlaer é um fotógrafo americano apaixonado pelo processo da daguerreotipia e fascinado pela expedição que em 1853/4 John Charles Frémont e o fotógrafo de ascendência portuguesa Salomão Nunes Carvalho haviam empreendido para fazerem o levantamento orográfico e tomadas de vistas da região entre o rio Mississipi e a Costa do Pacífico. Shlaer, resolveu em 1994, por um período de quatro anos, seguir os passos destes homens, tentando transpor para os nossos dias as paisagens vistas por estes exploradores que durante o Inverno e em condições climatéricas extremamente adversas conseguiram realizar 300 daguerreótipos. Robert Shlaer projectou a viagem com a ajuda dos mapas originais da expedição e do livro “Incidentes do curso e da aventura no oeste distante” titulo do livro escrito por Salomão Nunes Carvalho em 1856 e publicado em 1859.
...............Desta epopeia fotográfica do século XX, nasceram 100 daguerreótipos a cores que foram exibidos em 2003 no The Frick Art Museum numa exposição intitulada “Vistas vistas uma vez: A última expedição através das Montanhas Rochosas”. A exposição esteve também no Museu George Eastman em Rochester, Nova Iorque e foi editado o álbum “Sights Once Seen” Daguerreotyping Fremont’s Last Expedition Through the Rockies. Robert Shlaer.



Auto retrato Robert Schlaer, 1996. Daguerreótipo
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8 comentários:

Anónimo disse...

Querida Ângela,

Parabéns pelo seu blogue. Você é formidável e eu quero... que você me ensine!
António Barreto

Anónimo disse...

"There was another young newcomer to Broadway's photography row within the next few months. Brady undoubtedly saw him, S.N. Carvalho, a brisk youn man with a short black beard, probably the first American to penetrate America's Wild West with a camera."
in Mathew Brady - Historian with a Camera, Bonanza Books, New York, 1955

Parabéns pelo excelente trabalho, neste sítio que só agora descobri!

M Isabel G disse...

Olá ANgela,
Como vai? PArabéns pelo seu magnífico blog.
Permita-me uma sugestão:
use os links dentro do texto e não fora.Como está na referência ao coronel John Charles Frémont (1813-1890, no ínicio.
Vejo que o sitemeter está a funcionar.
Tb já usei um slide :)

Para a próxima diga alguma coisa.
Isabel

Anónimo disse...

Ola Angela,

Gostei de ler sobre os
daguerreotipistas sefarditas. Para mim a conexao com estes fotografos e imediata. Eu sou Portugues e Judeu naturalizado Norte Americano e possivelmente o unico Portugues presentemente no mundo praticando daguerreotipista. Estudei este e outros processos alternativos com alguns to maiores nomes nas respectivas areas. A maioria das fotografia que faco nest momento e praticamente fotografia alternativa. Aqui te deixo um "link" a minha parte da blog em "Lost in Focus":
http://www.lostinfocus.org/?author=17

PS. As minhas desculpas se o meu Portugues ja nao e perfeito. KK

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