domingo, dezembro 31, 2006

Da Feira da Ladra ao Império do Sol Nascente

© Colecção Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria
Wenceslau de Moraes, o ultimo à direita. Albumina s/d fotógrafo n/i


Da Feira da Ladra ao Império do Sol Nascente


Desde que o destino fez naufragar uma nau portuguesa, que ia a caminho do Sião, numa praia de Tanegashima, um tal António da Mota passou a ser citado nas crónicas japonesas como o primeiro ocidental a pisar solo nipónico. Bem pode Fernão Mendes Pinto vangloriar-se do feito na “Peregrinação”. As duas culturas passaram a descobrir-se iniciando-se os primeiros contactos com aqueles que viriam a designar-nos como os “Bárbaros do Sul”.
O Império Japonês então unificado a custo pelos senhores da guerra – Oda Nobunaga (1534-1582), Toyotomi Hideyoshi (1536-1598) e Tokugawa Ieyasu (1542-1616), iniciavam os primeiros contactos com os europeus. Os portugueses, apesar de poucos, influenciaram de forma decisiva o decurso da história nesta região, até pela responsabilidade que tiveram na introdução de armas de fogo que contribuíram para a pacificação do país devastado pelas guerras. Há, até, quem aluda ao "Século Português do Japão".
Os objectivos dos portugueses nestes territórios foram de natureza religiosa cuja figura maior foi São Francisco Xavier; outros se lhe seguiram, como os padres jesuítas João Rodrigues e Luís Fróis, este responsável pela obra “História do Japam” em 5 volumes, (1549-1593); o Padre João Rodrigues com a sua obra dedicada à aprendizagem da língua japonesa, autor da primeira gramática do Japonês e da “A História da Igreja do Japão”, Macau (1620-1633), onde se destacam a descrição do culto do chá que se pensa ter alguma relação com as práticas cristãs. Práticas cristãs que acabariam por levar a um final trágico a relação dos portugueses com o Império do Sol Nascente e que culminaram com a chacina de milhares de cristãos em Nagasaki no ano de 1597.
Quem também veio a estudar e a escrever intensamente sobre a cultura japonesa foi Wenceslau de Moraes.
Isto vem a propósito porque adquiri recentemente, na Feira da Ladra em Lisboa, uma fotografia que me despertou a atenção apenas pelo facto de representar um grupo de oficiais da Marinha Portuguesa.
Fiquei ainda mais feliz quando ao chegar a casa verifiquei que para além do papel albuminado ser da prestigiada casa B. F. K. Rives, um dos oficiais do grupo podia ser o militar e escritor Wenceslau de Moraes.
Daí ao labirinto da curiosidade foi um passo. Consultei na minha biblioteca a fotobiografia de Wenceslau de Moraes, da autoria de Daniel Pires, edição Fundação Oriente, 1993. Ali estava ele na pág. 64 com a legenda “Oito oficiais em uniforme de Verão. O escritor é o último à direita”, fotografia da Biblioteca Central da Marinha, (a minha compra em muito melhor estado de conservação). A mesma fotobiografia refere detalhadamente o percurso de Wenceslau de Moraes e as embarcações onde este prestou serviço. Refere também, que o escritor passa a pertencer à Escola Naval a 4 de Fevereiro de 1879 e a 12 do mesmo mês é promovido a Segundo-Tenente e que a 16 de Novembro do mesmo ano começa a exercer na canhoneira Quanza, comandada por Carlos Maria da Silva Costa, oficial que, a confirmarem-se as deduções das minhas pesquisas, estará entre os retratados.
No entanto, consultando o historial dos navios da armada portuguesa, no “Dicionário de Navios & Relação de Efemérides “ de Adelino Rodrigues da Costa e “Os últimos navios do Império – Portugal no Mar” de Telmo Gomes, continuam-me a subsistir duvidas quanto à embarcação onde se encontra o grupo de oficiais. Será esta a canhoneira Quanza (1877-1900) que se encontrava a efectuar várias comissões na costa angolana no ano de 1879/80 ou será a corveta mista Mindelo (1875-1897), onde seguiu Wenceslau de Moraes a 6 de Junho de 1881 quando esta largou de Lisboa para a estação naval de Moçambique e que uma tempestade no Indico obrigou a arribar a Aden, onde permaneceu durante três meses, pelo que só chegou a Moçambique em 9 de Novembro de 1881?
Isto para dizer, que quando publicamos num blog uma fotografia ou escrevemos sobre a mesma e não descrevemos todos os passos ou ainda não referenciamos a proveniência da informação que nos levou a determinada conclusão, muitas das vezes tal acontece por esquecimento e sem malícia.


sábado, dezembro 30, 2006

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GÊSHA - CORTESÃ JAPONESA


© Colecção Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria
Albuminas datadas de 1894, fotógrafo não identificado
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quinta-feira, dezembro 28, 2006




CAMINHO-DE-FERRO DE MOÇÂMEDES

1909/1910

Fotografia G. Schoss © Colecção Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria


A ideia da construção do Caminho-de-ferro de Moçâmedes, actual Namibe, reporta a uma carta de lei de 1890, por ela foi o Governo autorizado à construção e exploração destes caminhos-de-ferro. No entanto, os trabalhos de construção só foram iniciados a partir de 1905, isto é, quinze anos depois. Em 1907 foram inaugurados os primeiros 67 quilómetros.
As fotografias que aqui vemos, da autoria de G. Schoss, fazem parte de um álbum fotográfico do levantamento dos trabalhos de estudo e construção desta linha-férrea de Angola pela Brigada de Artur Torres entre 1909 e 1910.
Na sequência deste trabalho esta importante linha do Sul de Angola atingiu o quilómetro 186. Aqui parou por um período de sete anos, pois só em 1923 chegaria a Sá da Bandeira, hoje Lubango, tinham então decorrido 33 anos desde a data da ideia da sua construção.
A partir dos anos cinquenta o seu prolongamento para Sul tornou-se uma realidade, com a construção do troço da Chibia em direcção ao Cunene e à Namíbia. Ficou-se por Chiange, e ainda hoje lá se encontra, a alguns quilómetros do objectivo inicial. À espera que o homem sonhe!


© Colecção Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria

Fotografia G. Schoss, barbeiro no Caniço


© Colecção Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria

Fotografia G. Schoss, Humbia, nivelando o ponto mais alto



© Colecção Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria

Fotografia G. Schoss, Locomotivas do C. F. M.





quarta-feira, dezembro 20, 2006

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AUGUSTO DA SILVA CARVALHO (1861-1957)



Augusto Silva Carvalho, 1952. Fotografia Bobone . BN

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O Grand Monde, presta hoje merecida homenagem a Augusto da Silva Carvalho, natural de Tavira onde nasceu em 1861. Formou-se em Medicina na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Trabalhou nos Serviços da Administração Hospitalar em Lisboa. Foi presidente da Sociedade de Ciências Médicas, professor de História da Medicina a convite da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e sócio efectivo da Academia das Ciências (1928), deixou extensa bibliografia, quer no domínio da clínica cirúrgica, epidemiologia e saúde pública, quer no da História da Medicina em Portugal. Morreu em Lisboa em 1957 com 96 anos.
Ocorreu-me, a quando da leitura de alguns trabalhos académicos, e de outros menos académicos, que a frequente citação da “Comemoração do Centenário da Fotografia – Subsídio para a História da Introdução da Fotografia em Portugal” de Augusto da Silva Carvalho, (Comunicação feita à Classe de Ciências, em 2 de Novembro de 1939), acontecia de uma forma mecânica que, se por um lado continua a levar pessoas à leitura do mesmo, por outro lado levará alguns a citar o trabalho sem sequer o ter lido. Quando em 1940 se comemorou o centenário da fotografia e para isso se convidou A. da Silva Carvalho o Presidente da Sociedade de Ciências Médicas, talvez não tenha sido por acaso. Na sua comunicação, feita à Classe de Ciências a 2 de Novembro de 1939 e editada a separata nas Memórias da Academia das Ciências de Lisboa, Classe Ciências Tomo III, Academia das Ciências de Lisboa 1941, escrevia a propósito das noticias que tinha encontrado sobre fotografia: “...Desta maneira poder-se-á talvez fazer juízo fundamentado da resistência ou dificuldade, que em Portugal se manifestou para a compreensão do valor de tal descoberta.”, a este trabalho de recolha e pesquisa Augusto da Silva Carvalho juntou estudos especiais sobre diversas aplicações da fotografia na ciência em Portugal elaborados pelas mais diversas personalidades da época: “As aplicações da Fotografia à Química e à Físico-química” Dr. Achilles Machado (Comunicado feito à Classe de Ciências, 11 de Janeiro de 1940); “Notas sobre a Fotografia na Anatomia” Dr. Henrique de Vilhena (Lido em sessão da Classe de Ciências, em 11 de Janeiro de 1940); “A Microfotografia”Dr. A. Celestino da Costa (Comunicado feito à Classe de Ciências , 11 de Janeiro de 1940); “Notas para a história da fotografia aérea e da sua aplicação à cartografia) Dr. Vítor Hugo de Lemos (Comunicação feita à Classe de Ciências, em 7 de Março de 1940); “Sobre a importância dos métodos fotográficos na anatomia patológica” Dr. Friedrich Wohlwill, (Comunicado feito à Classe de Ciências, em 7 de Março de 1940); do nosso prémio Nobel da medicina Dr. Egas Moniz “A fotografia da circulação normal e patológica do cérebro” (Comunicado feito à Classe de Ciências, em 7 de Março de 1940) e ainda “Nota sobre a fotografia aplicada à Antropologia em Portugal” Dr. A. A. Mendes Corrêa (Comunicado lido pelo Sr. Dr. Augusto Silva Carvalho, à Classe de Ciências; em 7 de Março de 1940). Nem de propósito, depois destes anos todos, as conclusões de Augusto da Silva Carvalho no que diz respeito à fotografia, “da resistência ou dificuldade, que em Portugal se manifestou para a compreensão do valor de tal descoberta”, mutatis mutandis, continuam pertinentes.
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Em Dezembro de 1962 foi comprado pela BN à Misericórdia de Tavira o espólio de Augusto da Silva Carvalho, que compreende um vastíssimo conjunto de notas bio-bibliográficas, apontamentos de história de Medicina, correspondência, documentos biográficos e fotografias, junto com parte da livraria do médico e escritor.

Ângela Camila Castelo-Branco

terça-feira, dezembro 19, 2006


PAULO NOZOLINO

Paulo Nozolino Foto - Nelson D Aires

PRÉMIO NACIONAL DE FOTOGRAFIA


A Ministra da Cultura entregou na passada terça- feira, dia 19 de Dezembro no Porto, o Prémio Nacional de Fotografia ao fotógrafo Paulo Nozolino em cerimónia que decorreu no CPF.
Trata-se de um prémio de carreira, bienal, que foi criado em 1999 pelo Ministério da Cultura/CPF, tendo sido atribuído nas duas anteriores edições aos "históricos" Victor Palla (1922-2006), em 1999, e Fernando Lemos (n.1926), em 2001 e volta agora depois de um interregno de 5 anos.
O prémio, manteve o espírito dos anteriores, ao distinguir «a excepção que representa uma carreira de fotógrafo cuja intervenção criativa foi considerada particularmente relevante no panorama global da produção fotográfica portuguesa, pelo seu carácter inovador e susceptível de desencadear processos renovadores».

O galardão foi atribuído por um júri constituído por Marta Almeida, em representação da Fundação de Serralves/Museu de Arte Contemporânea, pelo pintor Manuel Costa Cabral (Fundação Calouste Gulbenkian), pelos fotógrafos Júlio de Matos e Virgílio Ferreira, e por Tereza Siza, directora do CPF. O júri foi unânime em considerar o valor e a pertinência da obra do fotógrafo, ao longo de 30 anos de carreira.
Nascido em Lisboa, em 1955, Paulo Nozolino "pode ser considerado um fotógrafo inovador e mesmo experimental, tendo exercido larga influência nas estratégias técnicas e na construção das narrativas fotográficas sobre autores e perspectivas, a nível nacional e internacional".
Paulo Nozolino (n.1955), estudou pintura na Sociedade Nacional de Belas-Artes (SNBA) de Lisboa, começou a fotografar em 1972 e obteve o Higher Diploma in Creative Photography, no London College of Printing, Londres, em 1975.
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PACÍFICO INÉDITO 1862-1866
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.Pacífico Inédito integra quase uma centena de fotografias, instrumentos científicos, insectos dissecados, documentos, litografias de animais e publicações da época e actuais. Da expedição podemos ver nesta exposição fotografias do porto de Cádis, em Espanha, inicio da aventura; Brasil, Rio de Janeiro, Baía e Pernambuco; Montevideu na República do Uruguai; Chile; Lima no Peru; Guaiaquil no Equador; Panamá (que fazia então parte da Grande Colômbia) e São Francisco da Califórnia donde se destacam uma série de retratos de imigrantes chineses a viver nesta cidade já então cosmopolita.



Expedicionários: Francisco de Paula Marínez, Juan Isern, Fernando Amor e Manuel Almargo





Em meados do sec. XIX realizou-se a chamada “Expedição ao Pacífico”, última das grandes expedições enviadas por Espanha à América. Embora alguns dos políticos que entreviram mais activamente na sua organização, e inclusivamente a Rainha Isabel II, terem considerado que a nova empresa iria ser continuadora das grandes expedições ilustradas do século XVIII, esta iria estar marcada pelo seu século, pelo que aparece perante nós como expedição essencialmente romântica e nacionalista.







Rafael Castro e Ordóñez, fotógrafo da expedição (?- 1865)

http://cvc.cervantes.es/ACTCULT/fotografia/miradas/castro.htm

Pintor educado na Real Academia das Belas Artes de San Fernando de Madrid, foi nomeado desenhador e fotógrafo da expedição. A sua actividade na área da fotografia, na qual se tinha formado com Charles Clifford – um dos fotógrafos da Rainha e introdutor em Espanha de técnicas avançadas – foi intensa e muito importante, embora fosse truncada pela sua morte voluntária em 1865.
A sua câmara retratou uma mostra dos locais pelos quais passaram no seu percurso pelo continente americano.
No Arquivo do Museu Nacional de Ciências Naturais conservaram-se a documentação científica e administrativa da expedição, bem como uma colecção de fotografias montadas em cartão; as placas originais consideraram-se perdidas para sempre.
No entanto, em 1984, em diversos laboratórios do Museu encontraram-se umas placas de vidro; uma vez estudadas, comprovou-se que pertenciam aos negativos das fotografias, realizadas entre 1862 e 1865, da Comissão Científica do Pacífico, algumas delas assinadas por Castro. No ano de 1986 apareceram mais, embora em péssimo estado de conservação. Empreendeu-se o trabalho de restauro.






Fotografia de Guayaquil no Equador antes e depois do trabalho de restauro
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BRASIL
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Pão de Açucar, Rio de Janeiro
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Passeio público, Pernambuco

“...ao amanhecer do dia 6 de Outubro vimos o cimo da cordilheira de Órganos, verde como esmeraldas e de graciosa ondulação; pouco depois apercebíamo-nos do Gigante que indica a entrada do Rio de Janeiro, e ao meio-dia fundeámos na sua opulenta baía, que tinha nas suas águas uma quantidade enorme de navios de todo o tipo, mercantes e de guerra. Esta baía é vastíssima e reúne todas as condições de um magnífico porto; as suas margens estão cheias de barcos a vapor bonitos e cómodos e servem de transporte para as pessoas se deslocarem entre as duas margens. Rio de Janeiro é a capital do império, e por isso a residência do Imperador, e das Câmaras do Governo Central, etc., etc. A sua população ultrapassa 500 mil almas, composta de brancos, mulatos e negros...”

(Almargo, M., Breve descrição...,pp. 13-14)


Tipos da Baía


A exposição pode (e deve) ser vista no na Centro Português de Fotografia Cadeia da Relação no Porto até 29 de Dezembro de 2006.
Horário: Terça a Sexta das 15h00 às 18h00 Sábados. Domingos e Feriados das 15h00 às 19h00

-Informação tirada do catálogo da exposição e de um folheto do Instituto Cervantes-



Museu Virtual
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Vamos visitar Gustave Le Gray (1820-1884)


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Autoretrato Gustave Le Gray entre 1850-1852
Cópio em papel salgado a partir de um negativo de vidro de colódio húmido 20 x 14,7 cm Antiga colecção Georges Sirot© Paris, Biblioteca Nacional de França, Departamento de Estampas e de Fotografia.

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Cairo, Egipto. Túmulos dos Califas Fotografia de Gustave Le Gray, 1861-1862 Papel albuminado a partir de um negativo de vidro em colódio húmido. Panorâmica de duas provas em formato de carte-de-visite horizontais 20 x 6,3 cm
Antiga colecção do Principe Filipe da Bélgica, conde da Flandres (1837-1905) © Paris, Bibliothèque nationale de France

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domingo, dezembro 17, 2006



Henri Jean-Louis Le Secq
Fotógrafo francês, 1818-1882

A propósito de Henri Le Secq que para criar um registo fotográfico dos monumentos de França trabalhou, com mais quatro fotógrafos, em Chartres, Strasbourg, Reims e outras catedrais e igrejas que cercam Paris. Começou a carreira fotográfica em 1840 quando ainda era pintor no estúdio de Paul Delaroche (1797-1856), e foi fundador da Société Héliographique de France. Dizia eu, a propósito de Le Secq, quando aqui à uns anos subi pela primeira vez, à Catedral de Notre Dame de Paris, o António que estava comigo, também quis subir, mas pela milionésima vez e decidiu que estava na altura de os nossos dois filhos mais velhos, o João Diogo e o Nuno Miguel, nos acompanharem na subida íngreme de 387 degraus que nos separam da vista que podemos desfrutar sobre a cidade depois de tamanho esforço. Devo acrescentar que para os meus dois filhos de 7 e 10 anos foi uma experiência inesquecível ainda hoje o João se lembra do número de degraus para chegar ao topo. Foi aqui que Le Secq fez uma fotografia magnífica com a vista fabulosa de Paris partilhada com as gárgulas da catedral gótica, Notre Dame de Paris na Ile de la Cité, berço da cidade e onde reis e imperadores foram coroados. Foi mais tarde transformada em templo ao culto da razão e depois em depósito de vinhos pelos revolucionários. Lá do alto o João e o Nuno viam lá em baixo, pequenino, o avô que os esperava sentado e aprendiam como a distância pode afectar a grandeza do homem. Foi uma experiência inesquecível, daqui a uns anos recordá-la-ei com amor.

Figuras grandes no Porch norte, catedral de Chartres, 1852 Henri Le Secq (francês, 1818-1882)Cópia de papel salgada do negativo de papel; 12 15/16 x 8 11/16 dentro. (32.8 x 22.1 cm)

sábado, dezembro 16, 2006





Feliz Natal

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João Vilhena

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.Ele entrou na sala como se aquilo tudo que ali estivesse não existisse, aquilo éramos nós todos, sentados à espera de sermos servidos, à espera que o João entrasse em cena. Na mesa onde se sentou com a Isabel, estava já eu sentada, não os conhecia, falámos toda a noite sobre coisa nenhuma. No final do jantar entornou-se-lhe vinho sobre o fato de linho branco e foi a casa trocar de roupa. Mais tarde voltei a vê-los na inauguração da exposição de John Baldessari em Lisboa. Há pessoas que, por motivo nenhum, gostamos logo... Ele está agora em Nova Yorque, e lá também é Inverno....

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Inverno

(Fotografia de João Vilhena)

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sexta-feira, dezembro 15, 2006






Princesas para todos os gostos de Huíla ao Xai-Xai




Litografia de Babolla Princesa de Huíla
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Em 1843 o médico cirurgião Clemente Joaquim Abranches Bizarro (?-1845), fotografou a Princesa de Huíla em Angola, quando esta acompanhava o Major Garcia Moreira nas explorações de África; do daguerreótipo existe uma litografia na Biblioteca Nacional em Lisboa.
O fotógrafo, que pela mesma altura tinha estúdio na rua dos Mártires n.º 34, 1.º em Lisboa, era o francês E. Thiesson que fotografou meia Lisboa e a quem A. Feliciano de Castilho dedicou um artigo publicado no Jornal de Belas Artes intitulado “Luz Pintora”, onde se confirma o estúdio do francês em Lisboa em 1845. Provavelmente foi nesse mesmo estúdio, visitado por Castilho, que Thiesson terá feito uma série de daguerreótipos de africanos residentes em Lisboa entre os quais estaria aquela que passou a ser uma famosa nativa de Moçambique. O daguerreótipo pertence hoje à colecção George Eastman, Rochester, Nova Yorque; esclarecem estes que a retratada a nativa de Sofala é a Rainha do Xai-Xai de Zavala - Moçambique e que aí foi retratada por Thiesson em condições climatéricas adversas. Bem, o Xai-Xai foi a capital de distrito João Belo e depois novamente Xai-Xai. Perto fica a Zavala dos tarimbeiros, mas Sofala fica a umas largas centenas de Km de distância. E eu que até acho que o fotógrafo nunca esteve em Moçambique, não deixo de simpatizar com a história da Casa George Eastman. Os americanos lá terão as suas fontes! Para mim serão sempre a Rainha Babolla e uma Princesa do Sabá, negra e formosa senhora de grandes domínios, do Índico aos grandes Lagos donde sempre se pensou nasciam os grandes rios que rasgam o continente africano incluindo o Nilo.
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Nativa de Sofala, Rainha do Xai-Xai

terça-feira, dezembro 12, 2006


Delagoa Bay / Lourenço Marques / Maputo



Lourenço Marques, 1890.

Albumina de Thomas Lee
Colecção Angela Camila Castelo-Branco e António Faria

Quando em 1890 D. Carlos decidiu que fazia todo o sentido que a capital da província deixasse de ser a ilha de Moçambique e se mudasse para a actual Maputo antes Lourenço Marques, aquilo era um pântano imenso de humidade e doenças. No início da década de 90, começa então a febre da construção na nova capital da colónia, rasgando-se avenidas, drenando-se terrenos alagados, procedendo-se a aterros. Surgem construções de alvenaria, proliferam alpendres, varandas em rendilhados de ferro forjado, colunatas também em ferro, em caprichosos ou duvidosos pastiches de estilos clássicos. As companhias inglesas vão- se instalando na Lourenço Marques em crescimento, mas ainda reticentes quanto ao nome da capital, insistindo os bilhetes-postais na para sempre perdida Delagoa Bay. Entre os primeiros a lá chegar estariam por ventura, muitos conhecidos da bisavó Argentina que ali chegara com apenas dez anos, idade que não bastaria para arranjar par no baile de gala a quando da visita do Príncipe herdeiro Luís Filipe ao território em 1907. Lourenço Marques já era na altura uma cidade charmosa traçada a régua e esquadro segundo o plano do General Joaquim José Machado, com edifícios de alguma beleza, sobretudo a Baixa Lourentina do inicio do séc. XX, que já denunciavam a diversidade cultural daquela província varanda do Índico onde aportavam gentes de um oriente ainda mais longínquo das Índias Portuguesas e Macau, coexistiam já igrejas católicas e protestantes e desde 1887 a mesquita com os mesmos anos que a cidade de Lourenço Marques. Os comerciantes da rua da Gávea, banianes (indu) e monhés (maumetanos); os chineses na Av. General Machado, Av. Paiva Manso e Av. Manuel Arriaga, que desde 1910 até ao triunfo de Mao estiveram sempre em guerra e para Moçambique foram muitos trabalhar em hortas, casas de louças, pequenas tabernas, em lojas com roupas e tapetes da ManKay e muitos restaurantes. A marrabenta invadia as primeiras casas da rua Araújo.

Quiosque na Pç 7 de Março em Lourenço Marques 1898.

Albumina de Thomas Lee.

Colecção Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria





Do Barão de Água Izé ao Visconde de Malanza
-Da prosperidade do cacau ao declínio das roças-



Visconde de Malanza com familiares e amigos, albumina de José Augusto da Cunha Moraes, SãoTomé 1894. Colecção Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria


A João Maria de Sousa Almeida, (1816 / 1869) se deve o incentivo do cultivo de cacau e a introdução do cultivo da árvore Fruta Pão em S. Tomé. Nasceu na ilha do Príncipe, a 12 de Março de 1816. A família tinha nesta ilha o seu solar, possuindo seu pai o coronel Manuel de Vera-Cruz e Almeida, importantes propriedades e exercendo nela grande influência. A Ilha do Príncipe acolheu a capital do arquipélago de São Tomé entre 1753 e 1852, ano em que voltou para a ilha de S. Tomé. Benemérito que sempre foi, entre inúmeras acções em prol do bem estar nas ilhas, oferece gratuitamente todo o óleo necessário para iluminação pública da cidade. Estas e outras qualidades valeram-lhe a distinção pelo Rei D. Luís com o titulo com que se celebrizou Barão d’ Água Izé
Jacinto Carneiro de Sousa, 1º Visconde de Malanza, (1845/1905), fidalgo cavaleiro da Casa Real, nasceu na Ilha do Príncipe, filho de João Maria de Sousa Almeida, 1º Barão de Água Izé. Em 1852 vem para Lisboa estudar no Colégio de Nossa Senhora da Conceição. Herda de seu pai em São Tomé, os prazos: Alto Douro e Monte Belo, casa-se com a sua sobrinha Dona Pascoela Correia de Almeida. O título “Malanza”, refere-se a um dos lugares mais agradáveis da Fazenda Porto Alegre, fundada por Jacinto Carneiro de Sousa no extremo meridional da ilha de S. Tomé.
Sendo um dos roceiros mais importantes de São Tomé, participou na Exposição Insular e Colonial, realizada no Porto no Palácio de Cristal em 1894, com produtos produzidos na Roça de Porto Alegre, pelos quais foi agraciado com várias medalhas de Ouro e Prata. No final da exposição, os produtos nela expostos foram ofertados à Rainha D. Amélia.


Visconde de Malanza com familiares e amigos, albumina de José Augusto da Cunha Moraes, São Tomé 1894 Colecção Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria


Em 1875 uma lei determina para o ano seguinte que em todos os domínios da Coroa portuguesa, seria eliminada a condição servil da raça negra. Os roceiros prontamente se adaptaram contratando os trabalhadores negros agora livres. Foi difícil depois controlar essa força de trabalho que desertava das roças e dos centros urbanos. A crise braçal trouxe transferências na titularidade da terra e uma renovação do grupo de roceiros, através do envolvimento do Banco Nacional Ultramarino - BNU acentuou-se a europeização dos proprietários de roças - Henrique Lopes de Medonça, José Constantino, Marquês de Val Flor a partir de 1880.
As grandes roças acabariam todas nas mãos das grandes companhias ultramarinas e da banca com destaque para o BNU que detinha a maioria das penhoras aos bens dos roceiros de S. Tomé e do Príncipe. O Visconde de Malanza viria a morrer na miséria em Lisboa no ano de 1905.
As contingências da história estavam traçadas nestas terras onde a civilização ainda hoje não conseguiu dominar a natureza.

domingo, dezembro 10, 2006

Fotografia no Douro: Arqueologia e Modernidade
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Fotografia do Douro de James Forrester (1809-1861)

"Fotografia no Douro: Arqueologia e Modernidade", projecto conjunto do Museu do Douro e do Centro Português de Fotografia para o programa das Comemorações dos 250 Anos das demarcações Pombalinas do território duriense, esta mostra fotográfica tenta constituir uma história do Douro através da fotografia e, naturalmente, uma demonstração dessa evolução técnica e estilística. Trata-se, portanto de uma vasta sequência de "vintages" fotográficos, onde se encontram representados muitos dos mais reconhecidos fotógrafos nacionais e internacionais...

Horário Centro de Exposições e Loja 3ª a 6ª das 15.00 às 18.00 Sábados, domingos e feriados: das 15.00 às 19.00Encerrado à 2ª feira Encerrado nos dias 1 de Janeiro, 1 de Maio, e 25 de Dezembro. Entrada livre
Visitas Guiadas mediante marcação prévia. Contactos:Telef.: 222 076 310 / Fax: 222 076 311e-mail:
email@cpf.pt Serviço Gratuito



sábado, dezembro 09, 2006



Vamos até África no Porto e em Matosinhos


Confesso, não é a primeira vez que quando vou ao Porto e sou convidada para ir ao Silo-Espaço Cultural no Norte Shopping invariavelmente me esquivo com esta ou aquela desculpa arranjada no momento. Os espaços comerciais do género apesar de interessantes cansam-me muito. Para a exposição “Memórias de uma Memória”, abri uma excepção e em boa hora a abri. O espaço da autoria do arquitecto Eduardo Souto de Moura, só por si merece a deslocação. Para quem não conheça como acontecia comigo dêem uma espreitadela. www.arcspace.com



Photo: arcspace


É aqui que se encontra em exposição uma parte da Colecção que o CPF – Centro Português de Fotografia / Ministério da Cultura adquiriu em Julho de 2006 a Colecção Alcídia e Luís Viegas Belchior, (pais de Francisco Belchior que lhe proporcionaram a recolha deste acervo ao longo da sua vida), e que pôde ser adquirida pelo estado português graças também ao apoio mecenático da Sonae e do BPI. Esta mostra constitui apenas uma pequena selecção das imagens das antigas colónias portuguesas em África, atendendo a que o Silo-Espaço Cultural do Norte Shopping dedicou o seu programa de fotografia em 2006 à fotografia africana. A exposição é dedicada à memória do coleccionador, Francisco Viegas Belchior e estará patente ao público todos os dias das 13:00 às 24:00 a partir de 07 Dezembro de 2006.

Cianotipias de J. A. Freire de Andrade





Cianotipo de J.A. Freire Andrade, Kraal de Mafussi e Beira Moçambique s/d, 1870-1890 s. e. Apesar da legenda creio tratar-se de Cianotipias de Alfredo Augusto Freire de Andrade nas campanhas de Magul Moçambique por volta de 1886 e na Beira por volta da mesma data.



Preta pilando milho, 1870-1890's fototipia de J. A. da Cunha Moraes. in África Ocidental, Album Photogaphico e Descriptivo (Loanda Cazengo, Rio Dande e Quanza). Albumina da Feitoria Visconde de Carnaxide em Sofala s/d, fotografo n/i Álbum de Fotografias da Companhia de Moçambique.


Photo Camacho. Estrada da Nhamacurra, Moçambique s/d Carvão com viragem. Indígena com dois leões. Humbe, Angola 1909 Fotografo não identificado. Gelatina de prata.



"Averdade daquilo que vemos..."

Na biblioteca da FLUP – Faculdade de Letras da Universidade do Porto pode ver “A verdade daquilo que vemos...”, o trabalho forçado em África, reproduções fotográficas dos originais da Colecção de Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria. Atente-se no texto transcrito de um relatório de Obras Públicas para a construcção dos caminhos de ferro de Angola: “... Trataremos de atrair por todos os meios o indígena ao trabalho, pagando-lhe com regularidade e obtendo dos negociantes da província o estabelecimento de quitandas, onde se vendem mil objectos que desafiem o apetite do preto e o obriguem a gastar todo o dinheiro da quinzena por forma que, mandando vários presentes para a sanzala atraia os que lá ficaram mas não tenha dinheiro com que se julgue rico, nem as fazendas que geralmente lhes servem para permutação: assim o melhor comércio será aguardente, com preço elevado, a que o preto não resiste e lhe será vendida só uma vez por semana, aos domingos por exemplo, para lhes dizimar o dinheiro sem prejudicar a saúde; depois os espelhinhos, missangas, chapéus de sol, etc., enfim tudo que sirva para presentear os pretos e para seu uso, mas que dure tanto como os bonitos às crianças para que também estes tenham que desejar outros, criando-lhes necessidades dando maior vencimento aos que se vestirem à europeia; conseguindo que em vários dias da semana se venda carne, melhorando assim a sua alimentação, etc. ... Calcula-se a necessidade de 7 mil indígenas para a construção de 150 quilómetros e a necessidade de importar mão-de-obra de Moçambique, Índia e China. ...”

- Extracto de texto do Relatório das Direcções de Obras Públicas e outros documentos das possessões de África, 1876-1881.


Acampamento de Estudos do Caminho de Ferro de Ambaca na margem do rio Mucôso, junto ao desfiladeiro da serra da Quitunga, Angola 1886. Albumina de Joaquim Júlio da Cunha Moraes. Colecção de Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria

Jacinto Carneiro de Sousa, 1º Visconde de Malanza, (1845/1904), no cais de embarque da Roça Porto Alegre. Albumina do fotografo José Augusto da Cunha Moraes 1894 São Tomé e Princípe. Colecção Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria

Moleques. Albumina de José Augusto da Cunha Moraes Luanda 1886. À mesa Angola s/d fotografo não identificado Colecção de Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria.

sábado, dezembro 02, 2006




Inês Gonçalves em “Uma Casa Portuguesa”

“Uma Casa Portuguesa” inaugurou a sua primeira loja na rua Anchieta n.º 11 em pleno Chiado lisboeta. A exclusividade dos seus produtos são o regresso à nossa infância, são um exercício de memória, são o revivalismo romântico dos produtos portugueses.
Este projecto de Catarina Portas e Isabel Cristina Haour já percorreu algum caminho desde que se iniciou em 2004, no entanto continua a surpreender-nos. Agora, neste seu novo espaço no Chiado num antigo armazém dos Irmãos David, os mesmos que tinham estabelecimento entre a Brasileira do Chiado e o Hotel Borges, tinham armazém no n.º 11 da rua Anchieta que partir deste momento é “Uma Casa Portuguesa”. A excelência dos produtos com que nos têm vindo a habituar a consumir ou adquirir para oferecer é motivo suficiente para nos deslocarmos ao Chiado. Ali podemos ainda ver uma pequena exposição evocativa dos 70 anos da Viarco que nos fala do grafite ao lápis de cor de uma forma encantadora.
Num espaço fascinantemente aproveitado que só por si merece a deslocação, somos ainda surpreendidos, na compra de algum produto, com autocolantes de fotografias inéditas de Inês Gonçalves.
Numa altura em que se quer empacotar o Museu de Arte Popular expoente da nossa cultura... No momento em que se fala na reabilitação do Chiado, é verdade que uma andorinha não faz a primavera, mas ajuda...