sábado, dezembro 09, 2006



Vamos até África no Porto e em Matosinhos


Confesso, não é a primeira vez que quando vou ao Porto e sou convidada para ir ao Silo-Espaço Cultural no Norte Shopping invariavelmente me esquivo com esta ou aquela desculpa arranjada no momento. Os espaços comerciais do género apesar de interessantes cansam-me muito. Para a exposição “Memórias de uma Memória”, abri uma excepção e em boa hora a abri. O espaço da autoria do arquitecto Eduardo Souto de Moura, só por si merece a deslocação. Para quem não conheça como acontecia comigo dêem uma espreitadela. www.arcspace.com



Photo: arcspace


É aqui que se encontra em exposição uma parte da Colecção que o CPF – Centro Português de Fotografia / Ministério da Cultura adquiriu em Julho de 2006 a Colecção Alcídia e Luís Viegas Belchior, (pais de Francisco Belchior que lhe proporcionaram a recolha deste acervo ao longo da sua vida), e que pôde ser adquirida pelo estado português graças também ao apoio mecenático da Sonae e do BPI. Esta mostra constitui apenas uma pequena selecção das imagens das antigas colónias portuguesas em África, atendendo a que o Silo-Espaço Cultural do Norte Shopping dedicou o seu programa de fotografia em 2006 à fotografia africana. A exposição é dedicada à memória do coleccionador, Francisco Viegas Belchior e estará patente ao público todos os dias das 13:00 às 24:00 a partir de 07 Dezembro de 2006.

Cianotipias de J. A. Freire de Andrade





Cianotipo de J.A. Freire Andrade, Kraal de Mafussi e Beira Moçambique s/d, 1870-1890 s. e. Apesar da legenda creio tratar-se de Cianotipias de Alfredo Augusto Freire de Andrade nas campanhas de Magul Moçambique por volta de 1886 e na Beira por volta da mesma data.



Preta pilando milho, 1870-1890's fototipia de J. A. da Cunha Moraes. in África Ocidental, Album Photogaphico e Descriptivo (Loanda Cazengo, Rio Dande e Quanza). Albumina da Feitoria Visconde de Carnaxide em Sofala s/d, fotografo n/i Álbum de Fotografias da Companhia de Moçambique.


Photo Camacho. Estrada da Nhamacurra, Moçambique s/d Carvão com viragem. Indígena com dois leões. Humbe, Angola 1909 Fotografo não identificado. Gelatina de prata.



"Averdade daquilo que vemos..."

Na biblioteca da FLUP – Faculdade de Letras da Universidade do Porto pode ver “A verdade daquilo que vemos...”, o trabalho forçado em África, reproduções fotográficas dos originais da Colecção de Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria. Atente-se no texto transcrito de um relatório de Obras Públicas para a construcção dos caminhos de ferro de Angola: “... Trataremos de atrair por todos os meios o indígena ao trabalho, pagando-lhe com regularidade e obtendo dos negociantes da província o estabelecimento de quitandas, onde se vendem mil objectos que desafiem o apetite do preto e o obriguem a gastar todo o dinheiro da quinzena por forma que, mandando vários presentes para a sanzala atraia os que lá ficaram mas não tenha dinheiro com que se julgue rico, nem as fazendas que geralmente lhes servem para permutação: assim o melhor comércio será aguardente, com preço elevado, a que o preto não resiste e lhe será vendida só uma vez por semana, aos domingos por exemplo, para lhes dizimar o dinheiro sem prejudicar a saúde; depois os espelhinhos, missangas, chapéus de sol, etc., enfim tudo que sirva para presentear os pretos e para seu uso, mas que dure tanto como os bonitos às crianças para que também estes tenham que desejar outros, criando-lhes necessidades dando maior vencimento aos que se vestirem à europeia; conseguindo que em vários dias da semana se venda carne, melhorando assim a sua alimentação, etc. ... Calcula-se a necessidade de 7 mil indígenas para a construção de 150 quilómetros e a necessidade de importar mão-de-obra de Moçambique, Índia e China. ...”

- Extracto de texto do Relatório das Direcções de Obras Públicas e outros documentos das possessões de África, 1876-1881.


Acampamento de Estudos do Caminho de Ferro de Ambaca na margem do rio Mucôso, junto ao desfiladeiro da serra da Quitunga, Angola 1886. Albumina de Joaquim Júlio da Cunha Moraes. Colecção de Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria

Jacinto Carneiro de Sousa, 1º Visconde de Malanza, (1845/1904), no cais de embarque da Roça Porto Alegre. Albumina do fotografo José Augusto da Cunha Moraes 1894 São Tomé e Princípe. Colecção Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria

Moleques. Albumina de José Augusto da Cunha Moraes Luanda 1886. À mesa Angola s/d fotografo não identificado Colecção de Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria.