.
A África profunda que apenas alguns eleitos conheciam, os eleitos da aventura da coragem e do trabalho, os colonos, os missionários e os comerciantes, mas também, os militares e os administrativos, os muitos que não se confinaram ao litoral pachorrento das esplanadas e dos Whiskys com gelo. A África praticamente desconhecida dos europeus até finais do século XIX quando, a Monarquia moribunda se lembra e lhe protela a agonia. Aliás, é este o preciso momento que marca a efectiva ocupação portuguesa de todo o hinterland moçambicano, impulso notável de uma pequena potência que na sequência das conferências de Berlim e reagindo ao Ultimatum Britânico conseguiu, mercê de esforços diplomáticos e a decisiva intervenção militar nas campanhas de pacificação, garantir a presença portuguesa por mais três quartos de século.
Não quero fazer aqui uma evocação do passado, antes o registo de recordações que vão desaparecendo com aqueles que amamos.
Natural de Lourenço Marques actual Maputo, onde nasci a 2 de Fevereiro de 1966. Ainda muito jovem vivi a vinda compulsiva para a metrópole sem a consciência do que deixava para trás. Os sonhos que não voltariam, a não ser nas conversas em família. As caçadas do avô Arlindo que foi Aspirante, e Chefe de Posto, e Secretário e Administrador, primeiro em Manjacaze e depois no Chinde e em Panda onde morreria no dia 10 de Agosto de 1955. A minha estadia no “Barroso”, o mais conservador dos colégios, aonde chegava aos ombros do Januário mainato lá em casa. Os gelados da Esquimó na Polana, as matinés da Disney e do Cantiflas ao sábado no cinema da Sociedade de Estudos que faziam as delicias do Augusto, criado lá em casa e cinéfilo da criançada. As tardes na esplanada do Continental onde, no 4º andar do edifício o meu pai trabalhava para a Sonap Moc, filial da Sonap em Moçambique, a gasolineira portuguesa de Manuel Bulhosa e Manuel Queirós Pereira. A mãe Ana Maria que até à morte do avô Arlindo, por quem nutria uma enorme devoção e a quem acompanhou nos mais recônditos e maravilhosos sertanejos; esses lugarejos de fantasias e ilusões onde os sonhos chegavam no autocarro do Mahjohn com os magaíças, mercearias, jornais, revistas e cartas duas vezes por semana ou então se procuravam na colecção filatélica do pai. Terra rude e apaixonante donde ainda hoje penso que a minha mãe nunca, efectivamente, regressou. O Hotel Clube, em Lourenço Marques onde os meus pais foram morar depois de casados e ai viria a nascer o primeiro filho, o Nuno. O gerente era o Sr. Bernardo, pai da Irene casada com Raul Cruto e Silva o rei do leite condensado.
Histórias soltas aqui e ali envolvidas em alguma amargura e saudade, que isto de deixar para trás uma terra que nos viu nascer e viu nascer os nossos pais e uma das avós, não se faz sem lágrimas.
Esta Terra Mãe, é hoje a República Popular de Moçambique. O território foi descoberto pelos portugueses em 1489 por Pêro da Covilhã em demanda das terras do Prestes João. A 1 de Março de 1498, três meses depois de ter dobrado o Cabo da Boa Esperança, Vasco da Gama chega à Ilha de Moçambique. Nesse mesmo ano, erguíamos em Quelimane o padrão de São Rafael na foz do rio dos Bons Sinais. Dois anos depois iniciava-se a colonização da África Oriental nos territórios que viriam a chamar-se Moçambique e que os portugueses chamaram primeiro capitania de Sofala que estava subordinada ao Estado da Índia. Os portugueses instalaram-se em Sofala em 1505 e em Moçambique em 1506; subiram o grande rio Zambeze até Tete em 1632. Em 1608 repeliram os holandeses e os árabes em 1892. Moçambique separa-se de Goa da qual dependia administrativamente em 1752 e torna-se “província” ultramarina portuguesa em 1951. Durante o governo de Marcelo Caetano a 23 de Julho de 1972 foi-lhe conferida a categoria de estado. Os nacionalistas combateram o exército português desde 1964, controlavam então a parte norte do território e conquistaram a independência a 25 de Julho de 1975.
© Colecção Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria
Habitações de funcionários da Companhia do Borôr, Zambeze 1936
Photo Camacho.
Photo Camacho.
.
MOÇAMBIQUE TERRA MÃE.
A África profunda que apenas alguns eleitos conheciam, os eleitos da aventura da coragem e do trabalho, os colonos, os missionários e os comerciantes, mas também, os militares e os administrativos, os muitos que não se confinaram ao litoral pachorrento das esplanadas e dos Whiskys com gelo. A África praticamente desconhecida dos europeus até finais do século XIX quando, a Monarquia moribunda se lembra e lhe protela a agonia. Aliás, é este o preciso momento que marca a efectiva ocupação portuguesa de todo o hinterland moçambicano, impulso notável de uma pequena potência que na sequência das conferências de Berlim e reagindo ao Ultimatum Britânico conseguiu, mercê de esforços diplomáticos e a decisiva intervenção militar nas campanhas de pacificação, garantir a presença portuguesa por mais três quartos de século.
Não quero fazer aqui uma evocação do passado, antes o registo de recordações que vão desaparecendo com aqueles que amamos.
Natural de Lourenço Marques actual Maputo, onde nasci a 2 de Fevereiro de 1966. Ainda muito jovem vivi a vinda compulsiva para a metrópole sem a consciência do que deixava para trás. Os sonhos que não voltariam, a não ser nas conversas em família. As caçadas do avô Arlindo que foi Aspirante, e Chefe de Posto, e Secretário e Administrador, primeiro em Manjacaze e depois no Chinde e em Panda onde morreria no dia 10 de Agosto de 1955. A minha estadia no “Barroso”, o mais conservador dos colégios, aonde chegava aos ombros do Januário mainato lá em casa. Os gelados da Esquimó na Polana, as matinés da Disney e do Cantiflas ao sábado no cinema da Sociedade de Estudos que faziam as delicias do Augusto, criado lá em casa e cinéfilo da criançada. As tardes na esplanada do Continental onde, no 4º andar do edifício o meu pai trabalhava para a Sonap Moc, filial da Sonap em Moçambique, a gasolineira portuguesa de Manuel Bulhosa e Manuel Queirós Pereira. A mãe Ana Maria que até à morte do avô Arlindo, por quem nutria uma enorme devoção e a quem acompanhou nos mais recônditos e maravilhosos sertanejos; esses lugarejos de fantasias e ilusões onde os sonhos chegavam no autocarro do Mahjohn com os magaíças, mercearias, jornais, revistas e cartas duas vezes por semana ou então se procuravam na colecção filatélica do pai. Terra rude e apaixonante donde ainda hoje penso que a minha mãe nunca, efectivamente, regressou. O Hotel Clube, em Lourenço Marques onde os meus pais foram morar depois de casados e ai viria a nascer o primeiro filho, o Nuno. O gerente era o Sr. Bernardo, pai da Irene casada com Raul Cruto e Silva o rei do leite condensado.
Histórias soltas aqui e ali envolvidas em alguma amargura e saudade, que isto de deixar para trás uma terra que nos viu nascer e viu nascer os nossos pais e uma das avós, não se faz sem lágrimas.
Esta Terra Mãe, é hoje a República Popular de Moçambique. O território foi descoberto pelos portugueses em 1489 por Pêro da Covilhã em demanda das terras do Prestes João. A 1 de Março de 1498, três meses depois de ter dobrado o Cabo da Boa Esperança, Vasco da Gama chega à Ilha de Moçambique. Nesse mesmo ano, erguíamos em Quelimane o padrão de São Rafael na foz do rio dos Bons Sinais. Dois anos depois iniciava-se a colonização da África Oriental nos territórios que viriam a chamar-se Moçambique e que os portugueses chamaram primeiro capitania de Sofala que estava subordinada ao Estado da Índia. Os portugueses instalaram-se em Sofala em 1505 e em Moçambique em 1506; subiram o grande rio Zambeze até Tete em 1632. Em 1608 repeliram os holandeses e os árabes em 1892. Moçambique separa-se de Goa da qual dependia administrativamente em 1752 e torna-se “província” ultramarina portuguesa em 1951. Durante o governo de Marcelo Caetano a 23 de Julho de 1972 foi-lhe conferida a categoria de estado. Os nacionalistas combateram o exército português desde 1964, controlavam então a parte norte do território e conquistaram a independência a 25 de Julho de 1975.
.
© Colecção Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria.
Colono transportado numa machila em terras do Prazo Macuse, Zambeze 1936. Photo Camacho
.
.
© Colecção Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria
Passeio fluvial do Chinde ao Sombo no primeiro aniversário da República
Portuguesa, Chinde 1911. Fotografo não identificado
Passeio fluvial do Chinde ao Sombo no primeiro aniversário da República
Portuguesa, Chinde 1911. Fotografo não identificado
.
3 comentários:
Só não concordo, obviamente, com a aposição de "nacionalistas" aos tipos da FRELIMO. Aliás, pelo que se veio a ver, Machel era tudo menos um amante da África africana. Apressou, pela adopção do mais feroz marxismo colonial, a destruição daquelas estruturas sociais, mentais e económicas que os portugueses haviam poupado sob a designação de "mundo indígena".
ola,gostaria apenas de dizer que o meu pai foi jose duarte ferreira,enfermeiro em navios da sonap maritima como o bayete e o veragua e certamente conheceu o seu pai,talvez a beber um drink na esplanada do continental...
boa sorte
You made some excellent points there. I did a search about the topic and barely got any specific details on other sites, but then happy to be here, seriously, appreciate that.
- Lucas
Enviar um comentário