sexta-feira, janeiro 12, 2007

Moçambique, terra mãe

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© Colecção Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria

Habitações de funcionários da Companhia do Borôr, Zambeze 1936
Photo Camacho
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MOÇAMBIQUE TERRA MÃE.

A África profunda que apenas alguns eleitos conheciam, os eleitos da aventura da coragem e do trabalho, os colonos, os missionários e os comerciantes, mas também, os militares e os administrativos, os muitos que não se confinaram ao litoral pachorrento das esplanadas e dos Whiskys com gelo. A África praticamente desconhecida dos europeus até finais do século XIX quando, a Monarquia moribunda se lembra e lhe protela a agonia. Aliás, é este o preciso momento que marca a efectiva ocupação portuguesa de todo o hinterland moçambicano, impulso notável de uma pequena potência que na sequência das conferências de Berlim e reagindo ao Ultimatum Britânico conseguiu, mercê de esforços diplomáticos e a decisiva intervenção militar nas campanhas de pacificação, garantir a presença portuguesa por mais três quartos de século.
Não quero fazer aqui uma evocação do passado, antes o registo de recordações que vão desaparecendo com aqueles que amamos.
Natural de Lourenço Marques actual Maputo, onde nasci a 2 de Fevereiro de 1966. Ainda muito jovem vivi a vinda compulsiva para a metrópole sem a consciência do que deixava para trás. Os sonhos que não voltariam, a não ser nas conversas em família. As caçadas do avô Arlindo que foi Aspirante, e Chefe de Posto, e Secretário e Administrador, primeiro em Manjacaze e depois no Chinde e em Panda onde morreria no dia 10 de Agosto de 1955. A minha estadia no “Barroso”, o mais conservador dos colégios, aonde chegava aos ombros do Januário mainato lá em casa. Os gelados da Esquimó na Polana, as matinés da Disney e do Cantiflas ao sábado no cinema da Sociedade de Estudos que faziam as delicias do Augusto, criado lá em casa e cinéfilo da criançada. As tardes na esplanada do Continental onde, no 4º andar do edifício o meu pai trabalhava para a Sonap Moc, filial da Sonap em Moçambique, a gasolineira portuguesa de Manuel Bulhosa e Manuel Queirós Pereira. A mãe Ana Maria que até à morte do avô Arlindo, por quem nutria uma enorme devoção e a quem acompanhou nos mais recônditos e maravilhosos sertanejos; esses lugarejos de fantasias e ilusões onde os sonhos chegavam no autocarro do Mahjohn com os magaíças, mercearias, jornais, revistas e cartas duas vezes por semana ou então se procuravam na colecção filatélica do pai. Terra rude e apaixonante donde ainda hoje penso que a minha mãe nunca, efectivamente, regressou. O Hotel Clube, em Lourenço Marques onde os meus pais foram morar depois de casados e ai viria a nascer o primeiro filho, o Nuno. O gerente era o Sr. Bernardo, pai da Irene casada com Raul Cruto e Silva o rei do leite condensado.
Histórias soltas aqui e ali envolvidas em alguma amargura e saudade, que isto de deixar para trás uma terra que nos viu nascer e viu nascer os nossos pais e uma das avós, não se faz sem lágrimas.
Esta Terra Mãe, é hoje a República Popular de Moçambique. O território foi descoberto pelos portugueses em 1489 por Pêro da Covilhã em demanda das terras do Prestes João. A 1 de Março de 1498, três meses depois de ter dobrado o Cabo da Boa Esperança, Vasco da Gama chega à Ilha de Moçambique. Nesse mesmo ano, erguíamos em Quelimane o padrão de São Rafael na foz do rio dos Bons Sinais. Dois anos depois iniciava-se a colonização da África Oriental nos territórios que viriam a chamar-se Moçambique e que os portugueses chamaram primeiro capitania de Sofala que estava subordinada ao Estado da Índia. Os portugueses instalaram-se em Sofala em 1505 e em Moçambique em 1506; subiram o grande rio Zambeze até Tete em 1632. Em 1608 repeliram os holandeses e os árabes em 1892. Moçambique separa-se de Goa da qual dependia administrativamente em 1752 e torna-se “província” ultramarina portuguesa em 1951. Durante o governo de Marcelo Caetano a 23 de Julho de 1972 foi-lhe conferida a categoria de estado. Os nacionalistas combateram o exército português desde 1964, controlavam então a parte norte do território e conquistaram a independência a 25 de Julho de 1975.


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© Colecção Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria.

Colono transportado numa machila em terras do Prazo Macuse, Zambeze 1936. Photo Camacho
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© Colecção Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria

Passeio fluvial do Chinde ao Sombo no primeiro aniversário da República
Portuguesa, Chinde 1911. Fotografo não identificado

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3 comentários:

Combustões disse...

Só não concordo, obviamente, com a aposição de "nacionalistas" aos tipos da FRELIMO. Aliás, pelo que se veio a ver, Machel era tudo menos um amante da África africana. Apressou, pela adopção do mais feroz marxismo colonial, a destruição daquelas estruturas sociais, mentais e económicas que os portugueses haviam poupado sob a designação de "mundo indígena".

jorge f disse...

ola,gostaria apenas de dizer que o meu pai foi jose duarte ferreira,enfermeiro em navios da sonap maritima como o bayete e o veragua e certamente conheceu o seu pai,talvez a beber um drink na esplanada do continental...
boa sorte

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- Lucas