INGenuidades Fotografia e Engenharia 1846-2006
- Aos 11 minutos já não deixo entrar ninguém!
Diz o Prof. em jeito de brincadeira, como se estivesse a dar uma aula, mesmo antes de iniciar uma visita guiada à exposição.
- Isto é uma exposição de fotografia. Não faz sentido procurar a razão pela qual não está aqui a Ponte Vasco da Gama ou a construção da barragem de Cahora Bassa, ou esta ou aquela obra!
- É uma exposição universal, com 350 trabalhos de 160 fotógrafos; a fotografia mais antiga data de 1846 e a mais recente é de Setembro de 2006
- Abarca toda a História da fotografia e engloba quase todas as técnicas e processos a ela associados, dos mais antigos aos mais recentes.
- O facto de notarem uma maior presença dos continentes Americano (América do Norte) e Oceânia (Austrália), deve-se a termos podido acompanhar desde o início as grandes transformações e o desbravar desses territórios.
- “INGenuidades”, é um trocadilho entre Engenharia, a ciência das máquinas, e ardil, aldrabice, maquinação com Ingenuidade, ingénuo aquele que nasce livre.
- A outra grande ideia que encontramos nesta exposição é a de podermos olhar para a engenharia como um corpo orgânico que nasce (vive), morre (pela destruição) e transforma-se. Criação / Destruição / Reciclagem.
Podíamos ter ficado ali o dia todo a ouvir o Professor, ninguém se teria importado. Talvez por essa razão eu tenha voltado numa segunda visita.
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Thomas Weinberger, «Cracker», Refinaria Esso, 2003
O interessante nesta exposição está em podermos começar ou acabar
onde bem entendermos, não digo que ela não tenha um princípio e um fim. Ela pode ter vários começos a acabarem assim nos convenha. Tem muitos inícios e outras tantas conclusões. Aparece-nos logo o título sugestivo e brincalhão, INGenuidades de engenho/ingenuidade - e génio do seu organizador; longe da inocência (ingenuidade) está tanto a exposição como o seu comissário.
Richard Woldendorp, «Planalto de Nullarbor.
A Grande Curvatura Australiana, Austrália Ocidental», 1983
Efectivamente a exposição começa no Planalto de Nullarbor com a “Grande Curvatura Australiana”, Austrália Ocidental, 1983 de
Richard Woldendorp (1927-) e acaba com - Homens e Mulheres do universo uni-vos, “Mudança de turno na Fábrica Kelly & Lewis Engineering”, Spring Valei Melbourne, 1949. Cortesia: National Gallery of Austrália. Fotografia de
Wolfgang Sievers (1913-), “o homem com sorte”, como nos contou um dia o Prof. Jorge Calado: “Era eu o homem com sorte. Caramba, convivera com Wolfgang Sievers e éramos amigos.” Escreveu o Prof. na biografia de Sievers (“o homem com sorte”, entre outras coisas por ter escapado milagrosamente aos nazis), um dos textos do livro-catálogo Linha de Vida - A Fotografia de Wolfgang Sievers editado com a retrospectiva no Arquivo Fotográfico da CML em 2004.
Mas, também se pode começar no “Domínio do Caçador”, 2001 (Da série “O Dodó e a Ilha Maurícia”) do jovem filandês
Harri Kallio (1970-) e finalizar na Missão STS 41-C da NASA, Cortesia Robert Mann Gallery, New York. Pode mesmo, passar-se um dia inteiro a apreciar apenas um dos grupos dos quatro elementos ou das sete secções em que se divide a exposição e voltar outro dia, e outro e outro...Valendo sempre a pena.
No mesmo dia, talvez pela mesma hora,
Al Gore o autor do livro e do filme «Uma Verdade Inconveniente», militante de causas ambientais, na sua cruzada quixotesca, estava presente em Lisboa numa conferência sobre os perigos das alterações climáticas. A conferência era apenas para convidados, efectuou-se à porta fechada, e não foi permitida a presença de jornalistas nem a captação de imagens. Vá lá saber-se porquê? No mesmo dia, dizia, inaugurava na Fundação Calouste Gulbenkian INGenuidades Fotografia e Engenharia 1846-2006, um hino às preocupações ecológicas com o planeta, um apelo às tréguas desta guerra desenfreada da sociedade de consumo, numa aliança entre o homem, a engenharia, a ciência e as forças da natureza contra a destruição do planeta. Esta menção à conferência de Al Gore no mesmo dia da inauguração de “INGenuidades”, também não é inocente!
Senti esta exposição! E senti-a ainda mais profundamente, quando o Prof. Jorge Calado nos recebe com um Pôr-do-Sol no Oceano Pacífico de ca. 1853 de
Ansel Adams (1902-1984) e mesmo antes de nos irmos embora, nos lembra
Gandhi (1869-1948) com a frase “Nós somos a mudança que queremos ver no mundo”, daquele que foi a par de
Nelson Mandela (1918-), a maior referência e exemplo da perseverança e da inteligência (bondade), do homem do séc. XX.
Mas voltemos à exposição, “O Dodó que desapareceu entre os séculos XVI e XVII, e que é a primeira espécie extinta a entrar na consciência da humanidade”. Podemos ler logo à chegada ao mesmo tempo que apreciamos um dos
exemplares robóticos que Harri Kallio construiu, colocou e fotografou no seu ambiente natural, as Ilhas Maurícias. O desaparecimento desta expécie foi consequência da selvajaria dos marinheiros holandeses, espanhois e portugueses que se deliciavam a matá-los à pedrada, até à sua extinção.
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“E as águas estão separadas da terra e a atmosfera paira sobre ambas” legenda do trabalho de Richard Woldendorp do Planalto de Nullarbor, o holandês fotógrafo das paisagens australianas e das fotografias aéreas. Vulcão em fúria registado por
Ernest Haas (1921-1986), sobre estes falaremos mais adiante.
“Raios e tempestades nos trabalhos de
Nick Moir (1975-); surge a vida na forma de “Lagarto” ou “Dragão Barbudo” e manifestam-se as forças da natureza. E houve luz e energia e as coisas reagiram e a matéria transformou-se. E surgiu a vida.”. Não fosse o
Prof. Jorge Calado, para surpresa de alguns que visitam esta exposição, ele também um cientista poeta; engenheiro do conhecimento; físico, coleccionador de sonhos; alquimista da simbiose entre as artes e as ciências; preeminente contador de histórias.
“Engenho é máquina ou ardil; ingenuidade é a qualidade do que nasceu livre. Aqui nasce a engenharia, "INGenuidades" usa o engenho e arte da fotografia para mostrar a vida e a morte das técnicas. O ciclo vital das Engenharias – criação, destruição, reciclagem – visto e contado através dos quatro elementos: fogo (tetraedro), ar (octaedro), água (icosaedro), terra (cubo). O quinto poliedro regular o dodecaedro, foi atirado para a quinta-essência, o éter, o espaço, o vazio. E a ciência permitiu que se entendesse o universo.
“A natureza e as suas leis estavam escondidas nas trevas e Deus disse, “Haja Newton!” e fez-se luz.”
Alexander Pope (1688-1744)
E o homem aplicou a ciência e modificou o universo em seu benefício (às vezes egoísta). E daqui resultaram, por vezes, grandes danos. Mas as forças da Natureza continuam avassaladoras. A solução passa por melhor engenharia.”
Figuras geométricas de poliedros regulares acompanham a exposição em conformidade com os elementos que a mesma vai referindo. Para suavizar a visita à mega exposição uma paleta de cores varia segundo os elementos e os temas de cada secção.
É a partir dos quatro elementos que se narra o ciclo vital: criação/destruição/reciclagem. "Todas as engenharias - a civil, a química, a eléctrica, a hidráulica ou a aeronáutica - estão ancoradas nestes elementos, aparecem em defesa das pessoas contra essas forças", explica o Prof. Jorge Calado, "INGenuidades" tenta "espevitar a imaginação das pessoas". Sem ordem cronológica e pontuada por imagens de grande impacto, as provas mais antigas e mais sensíveis são exibidas em nichos com iluminação mais apropriada, algumas surpresas. Muitas surpresas. Esta é também uma exposição que nos maravilha a cada momento que vamos entrando por ela adentro. A variação das dimensões ajudam o diálogo entre as obras.
As sensações são uma constante. O sopro tranquilo do vento, quente e poeirento, "Hot and Dusty, Santa Ana Winds 1996" quando apreciamos a obra do americano (índio),
Victor Masayesva (1951-).
© Victor Masayesva Jr.Hot and Dusty Santa Ana Winds 1996
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Juan Fontanive, "Paper Films" 2005
Entre as muitas surpresas, que nos reserva o comissário da exposição, está esta obra de Juan Fontanive estrategicamente colocada entre os elementos água e ar. Pequenos motores fazem rodar uma série de fotografias que representam peixes (água), dando a sensação que estes se movimentam. Ao mesmo tempo este movimento cria uma brisa ligeira que associamos inevitavelmente a outro elemento (ar). De facto estamos num local de transição entre duas temáticas na exposição. Coincidências!
O zunir indiferente das tempestades em rastos rasgados pela destruição infligida pelo Katrina e aqui mostrada no trabalho de
Robert Polidori (1951-) , “North Robertson Street”, 2006.
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Robert Polidori “North Robertson Street”, 2006
O torpor das águas, ora macias, ora ensurdecedoras, por vezes violentas e crueis como nas torrentes do
tsunami, cujas marcas ficaram para sempre nas provas
(Da Série "Banda Aceh"), 2005 de
Dean Sewell (1971-). As mesmas águas, surpreendentes e explendorosas na força das quedas que
George Barker (1844-1894), fotografou e manipulou em "Niagara no Verão, vista de baixo, ca. 1888". A água que corre silenciosa nos cursos, condicionada por canais, espartilhada nos aquedutos, domesticada pela engenharia e pelo homem. Uma fresta deixa espreitar pela exposição adentro os reflexos do sol no espelho dos lagos repousantes dos jardins da fundação. Acasos!
Ouve-se o assobiar das locomotivas. O ranger das rodas nos carris. Travagens bruscas para apreciarmos o panorama da "Linha de Caminhos-de-Ferro do Douro, Vale do Douro e Viaducto do Laranjal", entre 1900 e 1910, engenharia ferróviaria minociosamente documentada nos trabalhos de Emílio Biel (1838-1915), Colecção do Centro Portugês de Fotografia.
As famosas panorâmicas de
Melvin Vanimane (1866-1912), "Caminho-de-Ferro , Lithgow. 1903/1904" enquanto viajamos no Zigue-Zague que atravessa as montanhas azuis que separam a cidade de Sydney do vale fértil de Lithgow.
O silvar dos berbequins nas oficinas, o estrondar untuoso das máquinas hidráulicas e pneumáticas, o zunir, em cadências de silêncios, dos equipamentos robóticos, prenunciam o domínio das máquinas.
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Alguns anos antes do dominio das máquinas, um latoeiro, a mulher e a filha percorreram a imensidão australiana na sua oficina sobre rodas. Primeiro puxada por um animal, mais tarde uma carrinha, que é hoje grande atracção do Museu Nacional, em Camberra. Consertava tudo, arranjava cortadores de relva, máquinas agrícolas, remendava tachos e sapatos.
Jeff Carter (1928-) fotografou-o nos anos 5o.
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Momento mágico é o de podermos apreciar o trabalho de
Hiroshi Sugimoto (1948-), – qual máquina, qual homem. Uma peça sublime do
BES art Colecção Banco Espirito Santo.
HIROSHI SUGIMOTO (1941-)
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Hiroshi Sugimoto, Worm Gear, 2004
Os trabalhadores martelam os arrebites nas grandes construções metálicas dos finais do séc. XIX. Suspensos os sonhos e os homens que vestem de andaimes edifícios em construção, como o Impire State Building, que chegaram até nós nas gelatinas de prata de
Lewis Hine (1874-1940). A
construcção da Ponte do Porto de Sydney em 1930, num filme realizado por
Henri Mallard (1884-1967), e narrado em 1869 por Frank Litchenfield, engenheiro que tinha trabalhado na construção da ponte. O não menos engenhoso pavilhão
Crystal Palace, onde o construtor de estufas
Joseph Paxton (1803-1865) fez subir até aos 33 metros de altura uma estrutura em ferro e vidro na primeira Exposição Mundial em 1851, Londres .
O Prof. Jorge Calado conseguiu reunir aqui todas as engenharias. Pasme-se, até a Engenharia Social. Aí mostra-nos as grandes migrações e os refugiados. O trabalho infantil denunciado na fotografia de Lewis W. Haine (1874-1940). Os problemas étnicos com os ciganos em França. Os aborígenes austalianos. Os combates pelos direitos das mulheres. As lutas pela igualdade entre pretos e brancos, (A 1 de Dezembro de 1955, num autocarro de Montgomery, Alabama, a costureira
Rosa Parks recusou-se a dar o seu lugar a um branco. Foi presa. A população preta boicotou os autocarros. Era o início do Movimento dos Direitos Civis.), "Boicote dos autocarros" 1956 de Dan Weiner (1919-1959), Montgomery, Alabama. O
Apartheid ("vida separada" ou "segregação racial"), cancro africano que moribundo encontra o seu fim apenas nos finais do séc. XX, às mão de
Nelson Mandela e
Frederik Willem Klerk em 1990. As greves e as convulsões sociais, mais próprias de regimes injustos e totalitários. Um tríptico intenso de
Paulo Nozolino (1955-), lembra-nos o que de pior há nos homens.
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PAULO NOZOLINO (1955)
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Paulo Nozolino (Parte central do tríptico que nos recorda os horrores do
holocausto. A primeira fotografia do tríptico Malditos / Bucarest 2003, tem uma estrela de David desenhada numa parede; na terceira fotografia, Assassinados / Auschwitz 1994, podemos ver uma secretária e uma cadeira no silêncio envergonhado de
Auschwitz. Entre as duas, Espoliados / Madrid 2003, imagem que sem nada dizer nos diz tudo.)
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TERRA / ÁGUA / FOGO / AR
O Fogo: A erupção do Vesúvio em 1872 que Giacomo Brogi (1822-1881) nos mostra nas imagens de destruição e nas descobertas arqueológicas da altura. O incêndio do Holika, Phalen, Índia, 1995 fotografado por Robyn Beeche, ou a ogiva de catedral formada pelas árvores em desespero de Edgar Martins na Beira, Portugal, (da série «O Presente Diminuído», 2005).
A Água: “Em 26 de Dezembro de 2004 um sismo no Índico, com epicentro a oeste da ilha de Sumatra, atingiu o grau 9 na escala de
Richter, provocou uma sequência de tsunamis com 30 metros de altura, com terríveis consequências para todo o sudoeste asiático”. Cadáveres e detritos entopem um dos muitos canais que atravessam a capital de Banda Aceh, depois do maremoto, Dean Sewell (1971) na Indonesia (Da série "Banda Aceh"), 2005.
O Ar: "E tudo o vento levou",
Marilyn Bridges (1948). Moinhos de vento nas cumeeiras, Tehechapi, California, 1986. Cortesia:
Throckmorton Fine Art New York. NASA, Órbita Lunar, 25 Agosto 1966, (2ª fotografia - de duas - da Terra e da Lua ; a porção mostrada da Lua inclui parte da face oculta). Cortesia:
Gary Edwards Gallery, Washington, DC.
As Grandes Maravilhas: Da pirâmide de Kufu, Gizé, Egipto, 2500 bc. 1983 Richard Pare, a última das sete maravilhas do mundo até à
ópera de Sydney, vista como corpo em construção por Max Dupain (1911-1992), e pelo «olho de peixe» de
John Gollings (1944) - a homenagem ao arquitecto dinamarquês
Jorn Utzon (1918-), inclui um documentário, um desenho e uma maqueta.
O Corpo Prolongado: Aquilo que fazemos para corrigirmos as nossas limitações e/ou aperfeiçoar as nossas funções. O Prof. Jorge Calado acrescenta que a inteligência humana é responsável pela estagnação da sua evolução como espécie. A inteligência que, entre todos os animais, só encontramos no homem e vem solucionando as suas necessidades ou incapacidades substituindo-as no imediato por soluções de recurso e artificiais. – Não vemos bem, utilizamos óculos. Não conseguimos voar, construimos aviões. Isto impede que nos cresçam asas. A ciência ao serviço do homem, como na série de
Matthew Pillsbury (1973), iluminada só pelos ecrãs dos computadores "Penelope Umbrico, with her Daughters; Monday, February 3, 2003, 7:00-7:30pm". A visualização de DNA num gel utilizando luz fluorescente, CEBIP, Faculdade de Medicina, Lisboa 27 de Junho 2003 num trabalho de
Luisa Ferreira (1961-).
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"Integrada nas comemorações dos 50 anos da fundação, esta é, como o título indica, uma exposição que celebra a ingenuidade e o engenho, nos múltiplos sentidos que tais palavras foram tendo. Ciência e estética fundem-se, aqui, na obra de grandes nomes da arte fotográfica, como Alfred Stieglitz, Eugene Atget, Edward Weston, Albert Renger - Patzsch, Ansel Adams, Dorothea Lange, Margaret Bourke-White, Bill Brandt, Inge Morath, Bernd e Hilla Becher, Robert Frank ou os portugueses José M. Rodrigues (um inédito cromeleque dos Almendres, visto do alto de uma escada magirus), Luís Pavão (Auto-Europa, 1998), António Júlio Duarte (investigação e trabalho fabril), José Manuel Rodrigues (num salto para as nuvens "Amesterdão", 1984), Paulo Nozolino, (um tríptico que nos recorda os horrores do holocausto), Edgar Martins (incêndios na Beira, Portugal), Carlos Miguel Fernandes (Althing o mais antigo parlamento do mundo), Luísa Ferreira (laboratórios científicos, de um projecto à espera de ser mostrado), um campo de futebol em Alhandra, de Paulo Catrica. E os antigos Paulo Guedes, para mostrar o aqueduto de Lisboa ao lado da muralha da China, e ainda Emílio Biel e os Caminho-de-Ferro do Douro.".
Patente em Lisboa até 29 de Abril, a exposição será depois apresentada, em Outubro, no Palácio de Belas-Artes de Bruxelas por ocasião da presidência portuguesa da União Europeia. .
CARLOS MIGUEL FERNANDES (1973-) .
Carlos Miguel Fernandes, Thingvellir, Islândia, 2006
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Thingvellir é o berço histórico da nação islandesa. O topónimo significa vale do parlamento, pois foi aqui que a partir de 930 se reunia a assembleia de notáveis da Islândia. O Alþingi ou Althing é o mais antigo parlamento, (o que faz de Althing uma das mais antigas instituições do mundo), a 45 quilômetros da actual capital islandesa, Reiquiavique. Foi só em 1799 que a assembleia se mudou par um local menos turbulento. Vulcanicamente falando. O vale indica a separação de 2 placas tectónicas, América para um lado e Euroásia para o outro. Mesmo durante a união islando-norueguesa, o Althing continuou a acolher sessões. Simbolicamente, foi neste local que em 17 de Junho de 1944 a República da Islândia proclamou a independência e um presidente eleito por um voto popular substituiu o Rei.
ERNST HAAS (1921-1986)
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Ernst Haas. "Vulcão Surtsey", 1965
Em 1963 a Islândia ganhou uma nova ilha, a partir de uma erupção submarina, a Surtsey. "Bem cedo, na manhã de 14 de Novembro de 1963, a tripulação do navio pesqueiro Isleifur II notou um cheiro estranho de enxofre no ar, mas não lhe deu importância. ...A perturbação continuou o dia todo, com pedras, relâmpagos e uma coluna de vapor, cinza e fumaça subindo a 3 km no ar. Em cinco dias, onde antes havia apenas o oceano aberto, tinha-se formado uma ilha de 600 metros de comprimento. A ilha, mais tarde chamada Surtsey por causa do gigante mitológico Surtur, finalmente atingiu um diâmetro de quase dois quilômetros.", Ariel A. Roth.
"A ilha de Surtsey, com 2,5 km2, situa-se a cerca de 30 quilômetros ao sul da Islândia, e surgiu devido a erupções vulcânicas ocorridas no leito oceânico, elevando-se a uma altura de mais de 170 m sobre o nível do mar, durante o intervalo de tempo decorrido entre 1963 e 1967. No clímax das erupções, chegou a ser expelida uma coluna de vapor d'água e cinzas a uma altura de 6 km, provocando precipitações de detritos ao longo de uma extensa área. Após o seu resfriamento, Surtsey tornou-se um grande laboratório de pesquisas biológicas, pois em muito pouco tempo foi ela extensamente povoada por abundante flora e fauna...Imediatamente após o resfriamento, a partir de 1967, começaram a surgir musgos, liquens, e organismos menores abrigados entre eles, e logo depois, dentro de um período de dez anos, "chuvas" de esporos, sementes, e outras partes de cerca de 40 espécies de plantas vasculares, 158 espécies de insetos, e outros organismos "viáveis", pelo ar e pela superfície do mar.", (Science, 28/11/75, referida na Folha Criacionista nº 11).
Em 1971 Ernst Haas publicou “The Creation”, um trabalho baseado no livro do Géneses, que se revelaria pioneiro na aceitação da fotografia a cores.
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George Barker. "Niagara in Summer, from Below", ca. 1888
Em 1862 Barker tinha apenas 18 anos, não obstante decidiu dedicar-se à fotografia. Mudou-se para Niagara Falls onde abriu um estúdio e loja “Barker's Stereoscopic View Manufactory and Photograph Rooms”, aí vendia vistas e recordações. Tornou-se famoso graças às espectaculares fotografias das cataratas de Niagara, muitas delas resultavam da combinação de vários negativos. No trabalho de George Baker, que está exposto na Fundação Calouste Gulbenkian em “INGnuidades”, Niagara in Summer, from Below, a pedra que se encontra em primeiro plano foi lá posta depois - pela junção de negativos. E muito bem! Pois esteticamente, faz todo o sentido lá estar.
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Lynn Davis, "Iceberg IV, baía Disko". Gronelândia, 2004
(cortesia Edwynn Houk Gallery, Nova Iorque)
Neste trabalho, que tanto pode ser lido da direita para a esquerda, - como é o caso em culturas como a japonesa ou a árabe, o bloco vai derretendo lentamente sem sair do papel fotográfico que o condiciona. Se ler-mos a fotografia da esquerda para a direita somos surpreendidos pela acutilância de uma enorme faca gelada que, indiferente, nos esventra em público.
Lynn Davis fotografa a beleza destes gigantes flotuantes da Gronelândia na baía de Disko. Paisagens onde os icebergues ocupam a imensidão do imaginário, sendo que grande parte desse imaginário também se encontra submerso no subconsciente dos homens. Davis caracteriza um estilo onde combina o mínimo e o monumental, ele mostra-nos num amontuado de branco as formas rebuscadas e de complexas arquitecturas ou as linhas espantosamente geométricas que nos oferece a natureza.
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Jeff Carter, «Latoeiro, Narrandera», New South Wales, 1955
Harold Wright, o latoeiro fotografado por Jeff Carter perto de Narrandera, New South Walles em 1957, emigrou de Inglaterra para o continente australiano nos finais dos anos 20. Percorreu a imensidão deste continente amolando facas e tesouras, aplicando novos fundos aos tachos velhos, reparando toda a espécie de maquinaria doméstica e até consertando sapatos. Numa carreta puxada por um animal (mais tarde substituído por um velho tractor agrícola), que lhe servia de oficina. Com o tempo o veículo foi evoluindo, cada vez mais mecanizado, acabando numa engenhosa carrinha a que chamou Road Urchin (Ouriço da Estrada). A carrinha está em exposição no Museu Nacional de Camberra, Austrália. Para o prof. Jorge Calado a história de Harold Wright, o latoeiro que com a mulher e a filha percorreu as lonjuras da Austrália desde 1932 e durante décadas, "É tão admirável como a construção da barragem das Três Gargantas, na China"
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ROBERT HOWLETT (1831-1858)
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Robert Howlett morreu novo, com apenas 27 anos, a causa da morte foi atribuída à exposição aos produtos químicos perigosos necessários para os trabalhos fotográficos. O lançamento do maior navio construído no século XIX, o “Great Eastern”, acabaria por matar um trabalhador e ferir quatro outros quando o engenho para fazer mover o navio se descontrolou. Este seria lançado à água apenas dois meses depois de Robert Howlett ter fotografado, para a revista "Times", o seu construtor Isambard Kingdom Brunel.