quarta-feira, julho 11, 2007

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Morreu John Szarkowski, Szarkowski continua entre nós!
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Clic aqui para ler no Blog do Alexandre Pomar
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quinta-feira, julho 05, 2007

Eles é que nos "topam"...

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De Charles Legrand e William Barklay a Man Ray
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Oficialmente a fotografia nascia para o mundo em 1839, quando François Arago (1786-1853) anunciou a invenção de Louis-Jacques-Mandré Daguerre (1787-1851), na Academia Francesa de Ciências. As primeiras câmaras de Daguerre foram postas no mercado logo a partir de 1839. Haviam vários modelos, os primeiros depois da divulgação do processo de Daguerre podiam ser adquiridos pelos parisienses nas lojas Susse Fréres e Alphonse Giroux que tinham assinado um contrato de exclusividade para a venda destes aparelhos. O preço era elevado, 400 francos em ouro, mas a curiosidade e o interesse em comprar os primeiros aparelhos também era muita. Atentemos nestas datas. A 7 de Janeiro de 1839 Daguerre expõe o seu invento a François Arago. Só no dia 19 de Agosto este é apresentado na Academia de Ciências e Belas-Artes de França. A Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis, editora de “O Panorama” revela-nos em editorial a primeira noticia sobre fotografia de que se tem conhecimento na imprensa portuguesa, foi a 16 de Fevereiro de 1839 num texto que versava a “Revolução nas Artes do Desenho” pp. 54 e 55, pouco mais de um mês após a demonstração do invento a François Arago.
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Como não podia deixar de ser, os primeiros olhares fotográficos em Portugal foram de estrangeiros. A frontaria da Igreja da Estrela (Real Basílica do Sagrado Coração de Jesus), o Largo do Carmo, o Chafariz do Loreto, a Rua das Portas de Santa Catarina e o Passeio Público em Lisboa, a Sé de Braga, a Sé e a Porta d’Aviz em Évora, vistas de Cintra e Macau são gravuras litográficas obtidas por Charles Legrand, algumas provavelmente a partir de daguerreótipos. “Merecem registo várias cópias de daguerreótipos pelo processo litográfico. As primeiras que foram anunciadas (...) e a frontaria da Estrela obtida por Legrand. Foram expostas ao público e muito elogiadas pelo Sr. D. Fernando.” (Augusto da Silva Carvalho, "Memórias da Academia das Ciências de Lisboa", 1941)....
CHARLES LEGRAND (fl. entre 1839 e 1847)

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No “Le Portugal pittoresque et architectural dessiné d’aprés nature” -Paris, 1846, está o olhar de William Barclay em 13 litografias. Impressas a partir de daguerreótipos e possivelmente datados de 1841. Deve-se a W. Barclay, também, o primeiro retrato daguerreótipo português do estadista Rodrigo da Fonseca Magalhães. (Augusto da Silva Carvalho, "Memórias da Academia das Ciências de Lisboa", 1941).
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William Barklay, fl. 185-Vista da cidade e Universidade de Coimbra [Visual gráfico / W. Barclay del ; Eug. Cicéri lith.. - [S.l. : s.n., D.L. 1995] ([Coimbra : Lito Coimbra]. - 1 rep. de obra de arte : p&b ; 25x34 cm. - Data segundo período de actividade dos autores. - Rep. em menores dimensões de litografia de ca. 1850. Biblioteca Nacional de Portugal..O abade Louis Compte em viagem de França para o Brasil e passagem por Lisboa foi recebido pela Rainha no Palácio da Ajuda. O abade Louis Compte operador de daguerreótipo fazia parte da expedição didáctica e scientifica do navio escola “Orientale”. Esta expedição propunha-se dar a volta ao mundo e levava com ela um manancial de material fotográfico para obter daguerreótipos e dar a conhecer a invenção de Daguerre. “O abade Louis Compte, o capitão Augustin Lucas e a comitiva terão sido recebidos pela Rainha D. Maria II, a quem se apresentaram - e mostraram - na semana de 7 a 15 de Outubro de 1839, as novidades do physionotypo (outra invenção cujo inventor Frédéric Sauvage, viajava no Orientale, e que permitia a obtenção de esculturas com rapidez pelo recurso a um feixe de agulhas que delineavam um molde) e do daguerreótipo, cerca de dois meses após o anúncio da sua descoberta na Academia das Ciências Francesa.” ("Coimbra nos primórdios da fotografia", Alexandre Ramires, 2007. apphotographia.blogspot.com ).

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Quem sabe se a visita da comitiva do “Oriental” aos monarcas portugueses terá motivado o registo da frontaria do palácio ou alguma outra vista, ou mesmo um retrato da rainha? - Se assim se confirmasse, mais um olhar fotográfico se juntaria a tantos outros que chegaram até nós por estrangeiros. Não nos parece descabido ter havido uma demonstração de tamanho invento, que suscitava tamanha curiosidade. Obviamente, isto são apenas “atoardas”! Pois, só em 1941 é que na revista “O Panorama” nos aparece a frontaria do Palácio da Ajuda, a gravura é da autoria de José Maria Baptista Coelho segundo um daguerreótipo atribuído a um aparelho de Francisco Moceig, comerciante em Lisboa. A leitura do texto que acompanha a ilustração não nos permite saber quem foi o autor do daguerreótipo.

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Albumina de Amédée Lemaire de Ternante. Lisboa, 1858. Colecção Alcídia e Luís Viegas Belchior (© CPF ANTT/MC)

Recentemente pudemos ver no CPF - Centro Português de Fotografia no Porto a exposição “Lisboa, 1858”, com trabalhos do fotógrafo Amédée Lemaire de Ternante, realizados em Lisboa, em 1858, quando este se deslocou a Portugal na comitiva que acompanhava a princesa D. Estefânia por ocasião do seu casamento com D. Pedro V. “Em finais de Abril de 1858, D. Pedro V casa com a brevíssima rainha D. Estefânia. Tinham ambos 21 anos e o casamento duraria pouco mais de um ano. Em 1859 a rainha morre de difteria e o rei dois anos depois. Com D. Estefânia, que já aprendera português, desloca-se uma pequena corte e artistas diversos, que inclui o já então conhecido pintor e fotógrafo francês Amédée Lemaire de Ternante. Esta é, pois, a Lisboa desse ano ainda feliz e representa, ao que se sabe, um dos mais antigos e mais ricos conjuntos de imagens da capital e, pela diversidade dos temas abordados, um dos mais esclarecedores do país. Trata-se de albuminas originais, respondendo ao objectivo de descoberta e de registo da capital do reino, apontando aspectos do património monumental, (os Jerónimos com a sua patine e erosão antes do restauro, a Torre de Belém, com as velhas galés de passeio ao fundo e, em primeiro plano, a seca das redes dos pescadores, a igreja da Estrela, o Aqueduto das Águas Livres, o Paço das Necessidades, o Chafariz d’El Rei, em Alfama), mas também vistas gerais da cidade. Não apenas o litoral obrigatório avistado do casario mais elevado, mas também S. Pedro de Alcântara e as muitas aldeias que permaneciam incólumes no interior da cidade e a panorâmica que se desfruta nos acontecimentos: as tribunas de recepção frente ao Cais das Colunas. Já em estúdio, (um interior bastante elementar e um jardim onde uma cadeira permite o indispensável apoio) reencontramos a sociedade colunável, homens de canecão ou chapéu mole, suíças e bandós, mulheres com saias de balão à Imperatriz Eugénia, tão crispados, afinal, como os grupos populares que Ternante capta no quotidiano. Nos instantâneos, os rostos em movimento provam-nos a dificuldade da fotografia sem pose, mas também a sua ainda relativa novidade para o público comum. E aquele retrato de Castilho, entre o solene e o 'habitué'.”, (Amédée Lemaire de Ternante exposição “Lisboa, 1858”, texto Maria do Carmo Serén, 2007).
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Chegada de D. Estefânea a Lisboa
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Fotografia de Amédée Lemaire de Ternante. Chegada a Lisboa de D. Estefânea em 18 de Maio de 1858, pelas 12:00 horas. 7.8 x 9.3 in. / 19.8 x 23.6 cm.
Amédée Lemaire de Ternante nasceu em França, em Chatillon-sur-Seine, provavelmente em 1821 e faleceu em data posterior a 1866. Conhecido sobretudo como pintor, da escola francesa, os seus quadros encontram-se em muitos museus de França e no Museu do Vaticano. Em 1858, acompanhou a princesa D. Estefânia a Lisboa, tendo anotado com precisão a data a que aportou ao Terreiro do Paço: 18 de Maio, cerca do meio-dia. Durante a sua estadia em Lisboa, fez um extenso levantamento fotográfico da cidade, que imprimiu em provas de papel salgado e albumina. Este “Álbum de Fotografias de Lisboa”, 1858 de Amédée Lemaire de Ternante tem especial importância por tratar-se de uma encomenda feita a um estrangeiro. O álbum faz parte da colecção “Alcídia e Luís Viegas Belchior” pais do comerciante e coleccionador Luís Belchior a quem foi adquirido em Julho de 2006, pelo Centro Português de Fotografia/Ministério da Cultura com o apoio mecenático da Sonae e do BPI. Este entendimento financeiro, raro entre instituições públicas e privadas – no que concerne à fotografia -, foi crucial para a obtenção de património fotográfico nacional da maior importância.
Tem effectivamente estado nesta cidade, como noticiámos, o distinto photographo francez, que aqui veio retratar os alunos da universidade. Além dos grupos de vários cursos photographou alguns membros do corpo docente com as competentes insígnias, as autoridades universitárias, a sociedade coral Orpheon Académico, a comissão do tricentenário de Camões, e vários monumentos” (O Tribuno Popular, 19 de Março de 1881). Disto nos lembra Alexandre Ramires no “Passado ao Espelho Máquinas e Imagens das vésperas e primórdios da PhotographiaMuseu da Física da Universidade de Coimbra, 2006. O fotógrafo francês era J. David, de quem a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra possui um álbum de 1880-81, com fotografias de alunos, lentes e instalações. A casa J. David Phot. & E. Vallois, sucessor do fotógrafo editor, na Rua de Rennes, Paris, Especialistas na produção de álbuns e de postais. Trabalharam para instituições de ensino por encomenda. Conhecem-se trabalhos em postais do Collège Geoffroy-Saint-Hilaire e do Instituto Jeanne d’Arc. J. David fotografou soldados e marinheiros em estabelecimentos de ensino, privados e públicos. E. Vallois teve o seu estúdio no n. º 99 da Rua de Rennes e obteve uma medalha de Bronze na Exposição Universal de 1897. É provável que a casa H. Tourte et M. Petitin aberta então em Levallois (Rua Gide n.º 53) e Paris, possa ser sucessora da casa de J. David e seu sucessor E. Vallois. Pelo menos tiveram clientes em comum e existem grandes probabilidades destes dados estarem correctos. (http://www.corpusetampois.com/cpa-es-david.html). Por Coimbra passou ainda em Abril de 1856 Mr. Dubois, fazia retratos fotográficos a daguerreótipo “encarrega-se d’ensinar a retratar e vende os instrumentos para isso necessários. (...) Igualmente põem dentes minerais por novo método Anglo-Americano; põem dentaduras completas, (...) limpa os dentes, chumba-os e faz todas as operações da boca.” - Um verdadeiro artista. (O Popular 27 de Abril de 1856), (Alexandre Ramires “Passado ao Espelho Máquinas e Imagens das vésperas e primórdios da Photographia” Museu da Física da Universidade de Coimbra, 2006). Quem também se fixou nesta cidade por volta dos anos 60 foi o francês, Mr. Arsène Hayes, estabelecido com a sua “Photographia Francesa”, na rua da Sofia n.º 35, (Augusto da Silva Carvalho, "Memórias da Academia das Ciências de Lisboa", 1941).
Entretanto, ainda em Coimbra “Nos anos seguintes, fotógrafos itinerantes faziam a sua aparição, instalando-se por poucas semanas, como Corentin & Newman em 1852, Mr Dubois em 1855, J. Plessix em 1856, Gustave de Beaucorps (França, 1825 - 1906) em 1858, e Louis Monnet em 1859, Bertrand Dutresch em 1860 e J. Cortès em 1861. Também por cá passaram fotógrafos estrangeiros em expedições fotográficas com motivações científicas, como Thurston Thompson do Museu de South Kensington em Setembro de 1866, ou com intuitos de comercialização internacional das imagens de lugares que se tornavam acessíveis pela chegada do Caminho-de-Ferro, como Ferrier & Soulier em 1867 e Jean Laurent em 1869” ("Coimbra nos primórdios da fotografia", Alexandre Ramires, 2007. apphotographia.blogspot.com). Também, J. Levy, Jules Marinier e Vigé & Plessix são fotógrafos estrangeiros mencionados, no texto de Alexandre Ramires, terem estado em Coimbra mas, destes falaremos mais à frente, alguns com mais pormenor, outros na temática das vistas estereoscópicas.
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O Passado ao Espelho
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Catálogo “Passado ao Espelho Máquinas e Imagens das vésperas e primórdios da Photographia”. Exposição comissariada por Alexandre Ramires. Museu da Física da Universidade de Coimbra, 2006.
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.Catálogo da Exposição "Revelar Coimbra - Os Inícios da Imagem Fotográfica em Coimbra 1842-1900" Comissário Alexandre Ramires Museu Nacional de Machado de Castro, 2001
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Sobre Thurston Thompson existe uma referência no blogue De Rerum Natura a “dois álbuns de fotografias de Coimbra, realizados em 1862 pelo fotógrafo Charles Thurston Thompson (1816-1868), do Museu de South Kensington (actual Vitoria and Albert Museum), em Londres. Num grande empreendimento do imperialismo cultural britânico do século XIX, aquele Museu financiou várias excursões a Portugal e Espanha, com o objectivo de fixar em fotografia os grandes monumentos arquitectónicos da Península. Dessas excursões resultaram estes dois álbuns que foram oferecidos ao então Reitor da Universidade e que hoje se encontram nos fundos da Biblioteca Geral. Entre as várias fotografias do Paço das Escolas existentes nestes álbuns, existe uma rara do rico interior da Biblioteca Joanina, tirada numa época em que a fotografia de interiores ainda não estava ao alcance da generalidade dos fotógrafos.”, (Post convidado de António Eugénio Maia do Amaral, Director Adjunto da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC), sobre os livros mais preciosos da BGUC, que serviram de base ao evento "Entre Livros", no blog “De Rerum Natura”, Top 10 Álbuns dos “Monumentos Architectónicos de Coimbra”). Acrescente-se a esta informação a existência de um álbum de Thurston Thompson, também sobre Coimbra, na Biblioteca da Academia Nacional de Bellas-Artes de Lisboa, lá estaria ainda em 1973 segundo António Sena. - Eventualmente aí depositado no tempo em que a lei o exigia? -. Terá alguma relação com os outros dois que se encontrão na Biblioteca de Coimbra? Não sabemos! Aliás, em Portugal nunca sabemos nada sobre estas coisas, nem tão pouco sobre outras mais recentes. Privilégio de poucos põe-se a pergunta: Quantos de nós conhecem, viram de facto estes documentos? “porque a imagem tem sido pouco valorizada nas bibliotecas e nos arquivos!?! ”. Pois, mudemos tal situação! Já que estamos com a mão na massa espreitem o trabalho “Charles Thurston Thompson e o proxecto fotográfico ibérico” de Lee Fontanella. Impressionante, mesmo aqui ao nosso lado! Pois, é impreterível que os interessados, nestas coisas da fotografia, se desloquem à montanha. Não se pode esperar eternamente que a montanha desça até nós...
Perguntar-se-ão porque razões estão retratistas incluídos nestes “olhares estrangeiros”. Primeiro, porque os retratos também são forma de sentir uma terra, são também um “olhar fotográfico” sobre um país. Depois, porque alguns destes retratistas registaram monumentos, paisagens e costumes de Portugal na arte de Daguerre e Niepce. Nas décadas que se seguiram até ao dobrar do século XIX foram muitos os estrangeiros, das mais diversas nacionalidades, que trabalharam e abriram estúdios em Portugal, principalmente em Lisboa e no Porto. “Em 1842 chegava a Lisboa um Mr. Gilles, que anunciou ter obtido da nossa Academia das Belas Artes “licença para executar ensaios da sua arte de tirar retratos, grupos e vistas à daguerreótipo”. Instalou-se num terreno contíguo à entrada do edifício da Academia, no Largo da Biblioteca, num terreno onde se cultivavam couves e nêsperas...” (A Revolução de Setembro 12 de Maio 1842). Mr. Gilles ainda se encontrava em Portugal um ano depois desta notícia e já fazia daguerreótipos dourados e coloridos (O Grátis 7 de Julho de 1843). Madame Fritz que chegou a Portugal, a Lisboa em Junho de 1844 e que se estabeleceu na rua do Ferregial de Cima n.º 9. (A Revolução de Setembro 8 de Junho de 1844), (Augusto da Silva Carvalho, "Memórias da Academia das Ciências de Lisboa", 1941). Dos estrangeiros que se estabeleceram na nossa terra, alguns fugazes, outros que aqui criaram raízes, falaremos mais adiante e com mais pormenor.

Abrimos aqui um pequeno parêntese para chamar a atenção para o facto de, apesar de na época se escrever de ouvido, alguns dos nomes estrangeiros poderem ter sido utilizados como “pseudónimos como sugere o nome Thierson, (Thiesson ou Thierson) ou os fotógrafos Chambard e Poirier, que se diziam de Paris mas cujas notícias, saídas na imprensa ao longo de poucos dias, apresentam diversas variações na sua designação comercial, como Chambard & Puirier, Cambou et Poisier, Chambant e Fonier, Chambou e Foirier ou Chambard e Pisier, curiosamente instalados na mesma casa em que trabalhara Thierson, na rua Nova dos Martyres, número 34.” (Paulo Artur Ribeiro Baptista “A casa Biel e as suas edições fotográficas no Portugal de Oitocentos” Dissertação de Mestrado em História da Arte, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Julho de 1994). Todos estes nomes “De Curiosa semelhança com o do afamado fotógrafo parisiense Louis Pierson (1822-1913) que se associou aos irmãos Mayer para formar o estúdio do 5 Boulevard des Capucines.”, como alerta Paulo Baptista nas notas do seu magnífico trabalho. De facto também existe um E. Thiesson, que terá fotografado em Lisboa. Fechamos o parêntese para continuarmos com os “olhares fotográficos” que percorreram a nossa terra, sendo que alguns, a “Vol d'Oiseau”. Naquilo que diz respeito à fotografia os estrangeiros são uma presença constante e salutar nos primórdios desta arte/ofício em Portugal. Podemos confirmar essa realidade em praticamente todo o território: Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Chaves, Évora, Madeira, Açores, Lourenço Marques, S. Tomé e Príncipe, Macau, etc.
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Em “Évora Desaparecida – Fotografia e Património 1839-1919”, Câmara Municipal de Évora – Arquivo Fotográfico, 2007, onde Cármen Almeida escreve um artigo intitulado “Évora e a História da Fotografia”, e que aqui transcrevo um excerto do mesmo: “... Em 3 de Fevereiro de 1847, o Jornal Chronica Eborense anunciava que hábeis professores estrangeiros tiraram retratos ao daguerreótipo por 1$440 réis no Convento dos Lóios. (...) procurando saber quem eram os hábeis professores estrangeiros que tinham passado por Évora, efectuámos uma pesquisa no fundo do Governo Civil (Movimento de Estrangeiros), o que nos veio revelar que:
A pesquisa feita revelou-lhes a presença em Évora, entre 25 de Março 1846 e 6 de Setembro de 1852, de muitos retratistas/daguerrotipistas estrangeiros como: o Inglês William Reynolds, 25 de Março de 1846; Caetano Marras (?) retratista italiano, 13 de Janeiro 1848; o espanhol José de Mera (?), 1 de Janeiro de 1849; D. Manuel Castañeda, 21 de Abril de 1849; o sueco João Henrique Schmidli (?), 5 de Outubro de 1849; Jules Forestier, francês, 30 de Julho a 30 de Setembro de 1850; o francês Juliam Baptista, 6 de Setembro de 1852. “ Os registos disponíveis param nesta data, não nos tendo sido possível obter informações relativas a anos posteriores.” (...) “Em Maio de 1881 tirava retratos na cidade de Évora o espanhol Francisco Paino Perez, com estúdio na rua da Mouraria n.º 27” podíamos ler no (Sul, 1.º Anno, n.º 31, 8 de Maio de 1881), (“Évora e a História da Fotografia”, Cármen Almeida no catálogo “Évora Desaparecida – Fotografia e Património 1839-1919”, Câmara Municipal de Évora – Arquivo Fotográfico, 2007).
Quem também esteve em Évora entre 1867 e 1870 foi o fotógrafo francês J. Laurent que percorreu praticamente todo o território nacional. Nos primórdios da fotografia, a presença de fotógrafos estrangeiros era por demais evidente. Apesar disso, na exposição Universal de Paris de 1867 estiveram com fotografias de Portugal apenas os fotógrafos Wenceslau Cifka, Charles Thurston Thompson e Jacques Francem (António Sena, “História da Imagem em Portugal 1839 – 1997”. Porto Editora, 1998)
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..Calotipo de F. Flower da Ponte pênsil no Porto
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Prova actual em papel salgado a partir do calótipo de Flower

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Pelos descendentes de F. Flower foi-nos «legado» património fotográfico rarissimo. De facto, Frederick William Flower (1815, Edimburgo – Londres 1889), o calotipista inglês deixou-nos uma visão única do norte de Portugal em 211 calotipias, 120 provas em papel salgado e algumas albuminas deixadas por indicação da família à guarda do IPM em Portugal. Entre as calotipias aí depositadas uma é a do Pátio do Armazém dos Queimados que mostra três pipas com a inscrição Godfrey & Co., 1853 pelo que “a menos que mais provas surjam, nunca provavelmente se saberá quando começou Frederick William a praticar com sucesso a fotografia pelo processo da calotipia. “A maior parte do que subsiste da sua obra parece ter sido executada entre 1853 e 1858, quando ele tinha entre trinta e cinco e quarenta e dois anos e antes de ter decidido transferir os seus negócios para Bristol” (Michael Grey para o catálogo da exposição "Frederick William Flower Um Pioneiro da Fotografia Portuguesa", 1994. Exposição comissariada por Vitória Mesquita e José Pessoa).
James Joseph Forrester, o Barão de Forrester (1809-1861) chegou a Portugal em 1831, tal como Flower era originário de Inglaterra e tinham ainda em comum gostarem e terem praticado a fotografia.

Outros episódios de menor dimensão mas, muito importantes para a história da fotografia portuguesa e para uma reflexão sobre os olhares fotográficos dos estrangeiros surgem-nos aqui e ali alguns efabulados outros mais concretos. Lembramos neste texto Claudius Galen Wheelhouse (1826-1909), o médico e militar inglês, que em 1849 fez um calótipo da porta do mosteiro dos Jerónimos, quando a caminho do Egipto e da Palestina passou por Lisboa. Apesar de ter junto um texto onde pretende ser pioneiro desta técnica em Portugal e o primeiro calótipo realizado no nosso país, tal não passa de um excesso de entusiasmo (António Sena “História da imagem fotográfica em Portugal – 1839-1997”, Porto Editora, 1998).

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Lembramos também o episódio sobre o militar inglês Hugh Owen (1784-1860). Segundo a nota 29 de um texto de Michael Gray no catálogo de Flower já aqui referido e que diz que no Fox Talbot Museum Collection existe um álbum “Views of Gentlemans Seats” tem uma única vista do Porto tirada por Hugh Owen, militar inglês que veio para Portugal combater as tropas de Soult e que mais tarde no exército português “após o fim da guerra, foi promovido a tenente coronel do regimento de cavalaria n.º 6 de Chaves. Em 1820 é coronel e acompanha na viagem de Beresford ao Brasil, regressando mais cedo que o comandante-chefe, trazendo despachos para a Regência, sendo transferido para o comando do regimento de cavalaria n.º 4. Chega a Portugal já com a revolução de 1820 em pleno curso. Tendo sido despedido, como Beresford e todos os outros oficiais britânicos, retira-se do exército e casa com Maria Rita da Rocha Pinto Velho da Silva, viúva, filha de um grande negociante de vinhos do Porto, em 20 de Dezembro de 1820. Teve quatro filhos, entre eles a célebre Fanny Owen, celebrizada por Camilo Castelo Branco e Agustina Bessa Luís. Vivia no Porto quando, em 1832, o exército liberal vindo dos Açores, e desembarcado na praia do Mindelo, ocupou a cidade. D. Pedro chamou-o para comandante da cavalaria, mas Owen, por ser cidadão britânico recusou, de acordo com as ordens dadas pelo seu governo, mas colaborou com o regente durante o cerco da cidade. Em 1856 regressou à Grã-Bretanha, abandonando mulher e filhos”. (“O Portal da História – Biografias”, Manuel Amaral 2000-2003),
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Rua do Porto, 1854. Fotografia de Hugh Owen no Álbum de John Wheeley Gough Gutch. Victoria and Alberto Museum.
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O investigador Paulo Artur Ribeiro Baptista escreve a dada altura no seu trabalho “A Casa Biel e as suas edições Fotográficas no Portugal de Oitocentos”, 1994: “A grande divulgação que as fotografias de viagens tiveram e o particular interesse que despertaram no público, a partir de meados do sec. XIX, fruto de um gosto romântico que apreciava de forma especial o exótico e o desconhecido, levou que alguns destacados fotógrafos e editores, como o caso de Francis Frith, tenham realizado fotografias por todo o mundo e, por isso, entre muitas outras paragens, também a Portugal tenham vindo recolher vistas para os seus álbuns que continham registos fotográficos de todo o mundo. Exemplo dessa recolha é o álbum anónimo de cerca de 70 albuminas de dimensões apreciáveis, com vistas de Portugal e Espanha, que terá sido realizado na década de 1870.” (...) “Também são de destacar os relatórios das missões científicas como a que realizou Hubert Vaffier, a Mission Scientifique & Artistique Espagne et Portugal (de 1889)”.
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Fotografia de Francis Frith (British, 1820-1899): "Porta, da Capela Imperfeita, Batalha, Portugal." Albumina dim. 6-3/8" x 8-1/2" c. 1868.
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Em nota, acrescenta o investigador, que Francis Frith (1822-1898), fotógrafo e editor fotográfico inglês no âmbito da sua actividade...Passou por Portugal onde terá realizado algumas fotografias. A sua firma “F. Frith & Company” publicou álbuns..., colecções de vistas estereoscópicas e postais. Terá talvez sido ele o fotógrafo inglês que visitou a cidade do Porto, em 1872, tendo fotografado diversos monumentos e vistas da cidade, nomeadamente a igreja de São Francisco, como refere O Primeiro de Janeiro, 4.º ano, n.º 257, 13/11/1872, p.2. Paulo Baptista escreve também em nota que o álbum anónimo referido com vistas de Espanha e Portugal, foi adquirido para a colecção de fotografias da Secretaria de Estado da Cultura, em 1989, pelo responsável pela constituição dessa colecção, o Prof. Jorge Calado. E esclarece que do trabalho de Hubert Vaffier (1834-1897), "Mission Scientifique & Artistique Espagne e Portugal", só lhe foi possível encontrar, uma única ilustração fotográfica que existe na Associação dos Arqueólogos Portugueses (hoje provavelmente à guarda do IPM no Departamento Fotográfico da Ajuda). Paulo Artur Ribeiro Baptista “A Casa Biel e as suas edições Fotográficas no Portugal de Oitocentos”, 1994. Dissertação de Mestrado em História de Arte, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
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HUBERT VAFFIER (1834-1897)
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Fotografias de Hubert Vaffier (1834-1897), Mission Scientifique & Artistique Espagne e Portugal

Charles Chusseau-Flaviens, pouco se sabe sobre este fotógrafo que terá trabalhado entre 1890 e 1910. Consultando a parte do seu trabalho que se encontra na George Eastman House, parece tratar-se de um dos primeiros repórteres fotográficos free lance. Viajava com facilidade e tinha acesso a várias famílias reais europeias. Tinha também grande facilidade em fotografar quartéis e militares em exercício assim como o respectivo armamento, o que fez em vários países da Europa. Fotografava com muita frequência, cenas do quotidiano e fazia levantamentos etnográficos. Os ciganos na Roménia, negativos de alguma raridade e algumas vivências na Argélia, Marrocos e na Turquia, onde também adquiriu originais a (Sebah & Joailler), importante firma estabelecida em Constantinopla. Percorreu a maioria dos países da Europa. Da colecção, uma das maiores da George Eastman House, fazem parte mais de 11.000 negativos em vidro. O conjunto foi entregue à Casa George Eastman pela Kodak Phathé em 1974. É provável que seja apenas parte da sua produção como fotógrafo isto porque, se atentarmos ao número de chapas em vidro feitas em França, uma insignificância, por exemplo da Exposição Universal de 1900 em Paris apenas se conhecem 2 chapas, leva-nos a suspeitar que a colecção na posse da George Eastman House não representa todo o seu trabalho. Tal situação, leva-nos a concluir que a sua obra é muito mais vasta. Chusseau - Flaviens quando viajava adquiria trabalhos de outros fotógrafos e produzia a bordo uma cópia. Ele incluía frequentemente o nome do fotógrafo na anotação em francês ao longo da borda do negativo em vidro. Assim se explicam os negativos da Nova Zelândia, Japão, Abissínia na Etiópia e outros países para onde Chusseau-Flaviens não pode ter viajado em pessoa. Na George Eastman House são em grande número os vidros da Bulgária, Roménia e Espanha. Surpreendente é o número de chapas sobre Portugal, cerca de 900 negativos em vidro. A sua diversidade geográfica contempla a cidade do Porto, com vistas de uma beleza rara a que a cidade já nos habituou e onde podemos ver o desembarcar do bacalhau na Ribeira. Cascais, com as suas praias de pescadores antes do turismo, os hotéis e os casinos as terem tomado; Mafra, Tomar e Sintra com os seus monumentos; Cacilhas, donde miramos a Lisboa do princípio do século XX; Coimbra, as pessoas, os estudantes e as tricanas, a universidade e o choupal. A sensibilidade de Chusseau - Flaviens quando regista os tipos sociais, os costumes, os vendedores ambulantes: de azeite, de carvão, de leite, de legumes, de aves, de peixe, de ostras, de pão, de perus, de alhos e cebolas, os aguadeiros, os varredores de rua, as lavadeiras, os calceteiros e a calçada portuguesa, os trolhas e os galegos nas mudanças, tudo estimula o estudo da cidade de Lisboa no inicio do século XX. Fotografou o exército português: a cavalaria, a infantaria, a artilharia nos quartéis e em manobras. Fotografou a marinha, os marinheiros e os seus barcos: o Douro, o Vasco da Gama, o Almirante Reis, o Tejo, o D. Amélia e o Dom Luís. Um grande número de fotografias da família real portuguesa, D. Carlos, D. Amélia, D. Afonso e D. Manuel II. Em alguns dos negativos em actos oficiais mas, noutros negativos em situações menos formais ou pousando desportivamente para a câmara. D. Manuel II simulando esgrima ou com uma raquete de ténis na varanda do Palácio da Pena. Os primeiros republicanos, da carbonária como António Maria da Silva até ao primeiro Presidente da República, Manuel de Arriaga na varanda do Palácio de Belém. A colecção conta também com retratos de António José d’Almeida, João Chagas, Magalhães Lima, Braamcamp Freire, Afonso Costa, A. de Azevedo Vasconcelos, Teófilo Braga e o Patriarca de Lisboa D. António Mendes Belo. Apesar de algumas das fotografias terem sido adquiridas a fotógrafos e estúdios fotográficos portugueses como à Foto Vasques, não é de excluir que Chusseau – Flaviens tenha estado no nosso país pelo menos até 1910. A colecção conta ainda com uma fotografia da Rainha D. Amélia, muito nova, por volta de 1872, seguramente adquirida ou oferecida ao fotógrafo.
Porto visto por Chusseau - Flaviens. Arquivo Geoge Eastman House
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Mas voltemos a Joseph James Forrester de origem inglesa, – tal como Frederick William Flower -, o que explica que o processo da calotipia tenha tido maior expressão no norte, onde os ingleses se encontravam em maior número, e sido quase inexistente no sul do país, mais próximo dos costumes e modas que chegavam de Paris. Joseph James Forrester foi um amante do Douro vinhateiro, do mágico “Rio d’ Ouro” de Paulo Rocha, Aurélio da Paz dos Reis, Leitão de Barros e Manuel de Oliveira o rio que numa derradeira e última viagem dos barcos que lhe cantaram a fama, nos é mostrado por Adriano Nazareth, num documentário de 1960. O rio que nos recorda a frase do dramaturgo alemão Bertolt Brecht “...costuma falar-se da violência do rio que inunda as margens. Mas jamais da violência das margens que aprisionam o rio”. O Barão de Forrester teve câmara escura montada num pequeno barco que navegava pelo rio acariciando as margens para sempre aprisionadas nas calotipias e albuminas deste inglês que acabaria engolido pela violência do amante indomável, o Douro, rio que nenhum português até hoje tão bem conheceu ou tanto lhe fotografou as entranhas. Autor de um importante mapa "O Douro Português", que mostra o curso deste rio desde a fronteira espanhola até à foz e que foi o excepcional trabalho que fez com que o governo lhe atribuísse o título de Barão, honraria pela primeira vez atribuída a um estrangeiro.
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Vistas da Cidade do Porto Portugal. Fotografias do Barão de Forrester


De todos os estrangeiros que olharam fotograficamente o nosso país, não foram apenas os ingleses a conquistar lugar numa futura história, dum futuro museu da fotografia portuguesa. A comunidade alemã estabelecida no norte de Portugal, também se esforçou por isso. A família Fritz chegou de Paris em 1844, primeiro instalou-se na Rua do Ferragial de Cima n.º 9, em Lisboa A senhora Fritz foi pioneira nos estúdios fotográficos em Portugal. Foi uma estadia efémera, sabemo-la depois em Valência, Espanha em 1845 (Lee Fontanella “La Fotografia en España desde sus Origenes Hasta 1900", Madrid, El Viso, 1981, p.265). Só terá voltado para Portugal por volta de 1854, porque só então temos notícias em que a vemos ligada a grandes estúdios em Lisboa e no Porto. Mais tarde a casa Fritz esteve na Calçada do Combro 29, em Lisboa e só depois abriu casa no norte na Rua do Almada 122, Porto. Mr. Joachim Friedrich Martin Fritz foi júri na Exposição Internacional do Porto em 1865. Posteriormente, estabeleceu-se no Porto, um outro fotógrafo alemão, Karl Emil Biel (1838 – 1915), desembarca em Lisboa em 1857 tinha então 19 anos. Na capital trabalhou para a Scholb uma firma alemã que tinha casa na Rua do Ferragial de Cima n.º 31 3º andar. Ou como empregado da casa Henrique Schalk que era representante de diversas firmas alemãs. Em 1867 estabeleceu-se no Porto com uma Fábrica de Botões à Rua da Alegria “a 8 de Julho de 1867 compra uma propriedade a José Joaquim Pereira Lima na Travessa do Luciano à Rua da Alegria, no Porto.”. (Arquivo Distrital do Porto. Notariais PO 2º - Lº 503 Fl 122Vº). Tornar-se-á em poucos anos um empresário ligado a iniciativas tão díspares como: a construção dos caminhos-de-ferro, a introdução da electricidade e do gaz em Portugal, para além de outras miudezas. Cerca de 1873/74 dirige a Photographia Fritz que vem posteriormente a adquirir. A 22 de Agosto de 1876 Emílio Biel e Fernando Joan Martin Niels Brütt estabelecem sociedade que dará origem a uma das maiores casas fotográficas do país. A sociedade vai funcionar no estabelecimento fotográfico de Emílio Biel a antiga Photographia Fritz na Rua do Almada 122, Porto. (Arquivo Distrital do Porto. Notariais PO 2º - Lº 518 Fl 41 Vº a 43 Vº). É complicado precisar a data em que Biel adquire o estúdio Fritz, sendo certamente antes de 1874. Em nota no trabalho "A Casa Biel e as suas edições fotográficas no Portugal de Oitocentos" Paulo Ribeiro Baptista afirma não ter encontrado o registo notarial de compra do estabelecimento ou qualquer outro elemento que pudesse dar indicação nesse sentido, nomeadamente registos de licenças camarárias. Encontrou no entanto, outro registo em que Fernando Brütt legitima uma criança, filha de Delfina Maria Veloso que tinha sido registada como filha de Fritz (!), em Outubro de 1873, (Arquivo Distrital do Porto, Notariais PO 1º - Lº 730 Fl 87-87Vº. Afirma ainda que estas circunstâncias tenham podido contribuir para a situação que levou Fritz a ceder a Biel a propriedade do seu estabelecimento de fotografia, onde este se encontrava já instalado desde 1866.
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Casa Photographia Fritz na Calçada do Combro 29, Lisboa. Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa e ao lado o Selo do Atelier Fritz, 1854.
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A 4 de Outubro de 1890 inaugura o seu próprio atelier Emílio Biel & Cª no Palacete do Conde do Bolhão à Rua Formosa n.º 342. O excerto de uma notícia no jornal “O Primeiro de Janeiro”, 22º ano, N.º 275, de 5 de Outubro de 1890 dá-nos uma ideia da dimensão e do prestígio atingido então pela fotografia Biel:
O Sr. Emílio Biel celebrou a inauguração da sua nova casa com um magnífico lunch para o qual convidou a imprensa e a que, depois, assistiram todos os seus empregados, em número superior a quarenta. (...) O menu foi como segue:

Petit bouchée à la reine, Filet boeuf garni, Galantine de Volaille aux truffes, Jambon á la gelée, Veau garni, Saumon sauce mayonnaise, Mayonnaise de volaille, dindons farcis au cresson.
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Entremets sucrés – Blanc mangé, Fruits glacés, Glace à la pyramide, Gâteaux d’ananas soufflés, Fruits divers, fromage.
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Vins - Collares, Rhin, Liebfrauenmilch, Rudisheimer, Hochheimer, Porto, Champagne frapeé..
Mais tarde Biel e Brütt associam-se a José Augusto Cunha Moraes - o maior fotógrafo da África Portuguesa que, depois de ter regressado à metrópole dirigiu um estúdio em Lisboa -, num projecto que contempla o levantamento fotográfico de todo o território continental português. Biel morreria em 1915. Com o advento da I Grande Guerra os bens do fotógrafo Alemão foram confiscados pelo estado em 1916. Alguns dos bens ainda foram resgatados por Fernando Brutt, que apesar de alemão tinha nascido em território dinamarquês, outros foram comprados em hasta pública por Marques de Abreu e Cunha Moraes. A maioria das suas chapas em vidro acabou nos fornos das indústrias de cerâmica e nas vidreiras da Marinha Grande. Revoltante! Um monumento à ingratidão dos homens.

Wenceslau Cifka (1811-1883), natural de Praga, veio para Portugal na comitiva que acompanhava D. Fernando de Saxe–Coburgo-Gotha quando este chegou a Lisboa em 1836. D. Fernando mandou construir o Palácio da Pena em Sintra e Wenceslau Cifka fez um daguerreótipo do Palácio. O Daguerreótipo foi adquirido recentemente pelo Estado Português - Centro Português de Fotografia e veio enriquecer o património da fotografia portuguesa.
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Daguerreótipo do Palácio da Pena feito por Wenceslau Cifka c. 1848 Dim. 21,5 x 16,5 cm. INTT - Centro Português de Fotografia
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Cifka era sensível às artes e muito cedo se tornou um apaixonado da fotografia. Estabeleceu-se como fotógrafo em 1848, em Lisboa num 1.º andar do n.º 31 da Rua Direita das Necessidades. Muda-se para a Rua Nova dos Mártires em 1854 e para a Calçada das Necessidades em 1862. Em 1865 já tinha novamente mudado de casa encontrando-se a trabalhar num 4.º andar do n.º 6 da Calçada da Pampulha. Participou na exposição de Londres, de 1856 e na Exposição Universal de Paris, em 1867. Foi com este austro-húngaro que aprenderam fotografia entre outros, os Portugueses Carlos Relvas e os irmãos José Nunes da Silveira e Joaquim Goulart da Silveira, estes últimos oriundos dos Açores e que tinham aberto casa em Lisboa em 1861. Ofereceu em 1851 albuminas coladas sobre cartão ao Arsenal da Marinha. E sabe-se que ofereceu como prenda de casamento da infanta Maria Ana um álbum com vistas de Lisboa. A rainha D. Maria Pia também recebeu como presente de Cifka um álbum de fotografias com vistas de Lisboa, em 1862. Wenceslau Cifka foi pioneiro na edição de vistas estereoscópicas em Portugal.
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A fotografia precisava entrar nos domínios tipográficos até então propriedade dos «tipos», das letras e das palavras, as imagens eram raríssimas a maioria gravada a partir de daguerreótipos e albuminas, alguns trabalhos – algumas das adaptações de daguerreótipos e albuminas para gravuras -, resultavam magníficos, outros nem tanto. Mas não é por aí que quero ir. Também neste âmbito se manifestaram espíritos estrangeiros e também nesta matéria os estrangeiros eram cúmplices nos “olhares fotográficos”. “J. Leipold (1833-1916), técnico da Imprensa Nacional e, depois, do Banco de Portugal, investigou os processos heliográphicos entre 1860 e 1872 [coadjuvado por Júlio Cosmelli, futuro encarregado da secção de gravura e galvanoplastia da Imprensa Nacional, e Christiano Leitão]. (...) Joseph Leipold tinha trabalhado nos serviços da Imprensa Nacional austríaca, em Viena. Tinha sido colega e único discípulo de Paul Pretsch, falecido em 1873, inventor do processo fotoelectrotípico para gravura em cobre e reprodução fotográfica. O mundo deve a Leipold as únicas indicações precisas sobre a manipulação do método de Pretsch em 1874. Um outro estrangeiro tinha chegado a Lisboa um pouco antes de Leipold, em 1855. «Trata-se de Adolfo Lallemant (1830-1891), chamado por seu irmão Francisco Lallemand, fundidor de tipos e já residente no país desde os finais da década de 40. Também Adolfo Lallemant esteve presente na Exposição Internacional do Porto e também ele era um especialista na impressão de gravuras, tendo publicado o livro “Nouveaux procédés d’impression autographique et de photolithographie” em 1867. Tinha aprofundado a técnica de impressão a cores e, em particular, os métodos da chromo-typographia. Entrou para a casa da moeda em 1869, onde desenvolveu os métodos de impressão de selos. Em 1860 tinha sido registada a primeira patente fotográfica em Portugal de que há notícia [ressalvando a hipótese remota de terem existido outras patentes anteriores a 1852, das quais desapareceram os registos, comidos pela formiga branca]. Da responsabilidade de Joseph Griffiths, era uma “Máchina em ponto pequeno do mesmo teor que a câmara obscura para tirar retratos ou vista photográphicas em ponto muito grande.” (António Sena, 1998 “História da Imagem Fotográfica em Portugal 1839-1997” Porto Editora, 1998). Posto isto avancemos...
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Foram os franceses – aliás, Victor Hugo -, quem nos enviou, ao cuidado de Feliciano de Castilho (1800-1875), de quem era amigo, o seu conterrâneo Alfred Fillon (1825-1881). Fillon fugia da situação conturbada que se vivia em França refugiando-se em Lisboa no ano de 1851. Num primeiro momento não se «enamorou» pela sociedade da capital que se pavoneava entre o Chiado, a rua do Ferragial e a do Loreto, eixo das principais casas de fotografia – como superiormente nos relata Ramalho Ortigão (1836-1915) -, não resisto a transcrever algumas passagens de tão deliciosas: “...para que não o tomassem por um vadio ou por um escroc. Fillon fez-se fotógrafo. (...) E as mesmas senhoras, ordinariamente tão sensatas e tão instintivamente justas, as mesmas senhoras que por alguns momentos de valsa haviam confiado o contacto dos seus espartilhos ao braço do vil, ficaram profundamente vexadas ao saberem que ele se empregava na fotografia durante as horas do dia em que elas, na sua boa fé, o imaginavam, pelo contrário, embebedando-se numa taberna ou tocando guitarra numa cavalariça...” ("As Farpas" Tomo XIV pp. 79 e 80), descrevem os incidentes da recepção a Fillon em Lisboa. Talvez por isto tenha optado pelo Porto para abrir a sua primeira casa fotográfica. Apesar de ter trabalhado em fotografia inicialmente em Lisboa e posteriormente no Porto para a Photographia Monnet, de facto abriu a sua primeira casa na cidade do Porto só em 1857, na Rua das Hortas, onde Camilo Castelo Branco foi tantas vezes para ser retratado. Só em 1859 é que abre um estúdio/oficina em Lisboa numa casa com jardim na rua das Chagas n.º 9 a 13 (A Nação 21 de Maio e 4 de 1859). Henrique Nunes toma-o de trespasse quando Fillon regressa a Paris, em Fevereiro de 1868. Numa viagem que fez a Inglaterra em 1859 contratou o operador Joseph Plessix da firma Mayal de Londres. Participou com trabalhos fotográficos na Exposição Internacional do Porto em 1865. Nos anos de 1869/73 esteve em Paris durante a Comuna. No regresso a Portugal adquire em 1874 o atelier do seu antigo operador Joseph Plessix na Rua Nova dos Mártires n.º 46. Mais tarde muda-se para os n.º 79 a 87 da Rua Serpa Pinto. São conhecidas as suas surpreendentes panorâmicas, de mais de um metro e vinte de comprimento, das principais cidades do país e também os retratos (muito perfeitos e que ainda hoje se encontram sem grandes alterações), que exibia na publicação dirigida por Gervásio Lobato, o “Contemporâneo” revista literária principalmente dedicada às crónicas teatrais. Vem a falecer em Portugal em 1881.
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D. Maria Pia de Saboya, 1879 Fotografia de A. Fillon. Colecção António Faria e Ângela Camila Castelo-Branco..
Francisco Rocchini (1822-1895) veio para Portugal em 1847, o marceneiro italiano que já trazia de Roma experiência na construção de aparelhos fotográficos, aprende o daguerreótipo com P. K. Corentin por volta de 1851. Rocchini tinha uma actividade muito intensa, podemos ver muitos trabalhos deste italiano na revista “O Occidente”, logo desde o seu primeiro número a partir de 1878. Existem dois álbuns de Rocchini, um deles sobre a Batalha, na Biblioteca da Academia Nacional de Bellas-Artes de Lisboa. – Pelo menos ainda aí se encontravam em 1973, segundo António Sena. – Francisco Rocchini “Foi fornecedor de imagens para revistas nacionais e estrangeiras, para a Academia de Bellas-Artes, editor de álbuns de albuminas de «vistas» e monumentos, introdutor da sensibilização fotográfica dos blocos de madeira, em 1877/78, além de fabricante de máquinas e gravador.” (...) “Abriu estúdio por volta de 1865 na Travessa da Água da Flor a dois passos da Capela de São João Baptista, em Lisboa” (...) “O primeiro catálogo de vistas de Rocchini foi publicado em 1874, ano em que participa na X Exposição da Sociedade Promotora das Bellas-Artes em Portugal”. (António Sena, “História da Imagem Fotográfica em Portugal 1839-1997” Porto Editora, 1998). Rocchini participou ainda na Exposição de Viena, em 1873; na Exposição de Paris, em 1878; na Exposição do Rio de Janeiro, 1879 e na Exposição de Fotografia do Porto, em 1886. São conhecidas as suas panorâmicas. Como esta de Lisboa, feita em 1881, (veja aqui), que pertenceu à colecção J. Barcia e se encontra hoje na Bibliteca Nacional de Portugal.

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Pedaços da Lisboa de Rocchini
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Outro fotógrafo estrangeiro que terá passado por Portugal por volta de 1860, foi o inglês Charles Clifford (1819 -1863). Natural de Wales, foi viver para Madrid onde se estabeleceu com um atelier no centro da cidade a partir de 1850. Clifford fez trabalhos para a Rainha Isabel II de Espanha e torna-se fotógrafo oficial da soberana espanhola. Antes de se fixar em Espanha trabalhou como fotógrafo para a Rainha Victoria - São conhecidos os retratos que fez da rainha de Inglaterra. Foi convidado a acompanhar e fotografar a rainha espanhola na viagem por Espanha no ano de 1858. No seu atelier em Madrid vende álbuns de fotografias que fez da Andaluzia, Extremadura, Castilha, Catalunha, Baleares, Múrcia, Toledo, Sevilha, Alhandra,... Divulga os álbuns com as suas colecções de vistas em Paris e Londres. A sua obra é fundamentalmente de paisagens, arquitectura e obras públicas, são raros os retratos de personalidades. Provavelmente terá deixado a marca do seu trabalho quando da sua passagem por Portugal. Morreu em Madrid em 1863.

“É por volta de 1863-64 que terá vindo a Portugal um fotógrafo dos estúdios de A. Claudet , com filial em Londres, na Regent Street, para documentar a exploração das Minas de S. Domingos, no Baixo Alentejo, de que era concessionário o engenheiro de minas inglês James Mason, primeiro Conde e Barão de Pomarão. As imagens serviriam para publicitar aquele empreendimento em algumas das exposições industriais que se realizavam pelo mundo. Em particular serviu logo para a Exposição Internacional do Porto, em 1865, no Palácio de Cristal.”. (António Sena, 1998 “História da Imagem Fotográfica em Portugal 1839-1997” Porto Editora, 1998).

J. Laurent fotografou Portugal entre 1868 e 1870 viajava de comboio o que lhe permitia transportar o seu carro-laboratório para preparar e revelar as placas de colódio. (...) O inventário das fotografias de Portugal surge, pela primeira vez, no catálogo do ano de 1872", ("Espanha e Portugal do ponto de vista artístico, monumental e pitoresco”, J. Laurent, 1872)
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J. Laurent en Espagne et Portugal
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Catálogo Espanha e Portugal do ponto de vista artístico, monumental e pitoresco, 1872. Colecção Carlos Teixidor Cadenas

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.J. Laurent nasceu em França e conservou sempre a nacionalidade francesa. Mas residiu em Madrid durante 43 anos, até à sua morte. Em Espanha utilizou o nome de “Juan” Laurent, embora o seu nome de origem fosse “Jean”. Profissionalmente, assinava os seus trabalhos com a inicial “J” e o seu apelido. Nem Juan nem Jean. Ou seja, “J. Laurent”. (...) O caminho-de-ferro foi muito importante para Laurent, porque lhe permitiu transportar comodamente o seu pesado equipamento fotográfico, que incluía um carro-laboratório para preparar e revelar as chapas de vidro. (...) Em Novembro de 1869 , Laurent enviuvou, aos 53 anos. Foi justamente nesse ano que, ao que supomos, viajou e fez todas as fotografias de Portugal. (...) J. Laurent faleceu em Novembro de 1886. Desconhecia-se este dado, mas a sua sepultura foi redescoberta recentemente, no ano de 2005, Ana Gutiérrez (do IPHE), Instituto Património Histórico Espanhol, encontrou uma lápide partida e incompleta no cemitério de Almudena, em Madrid. Posteriormente, ao procurar fragmentos nas proximidades, foi possível completá-la. Diz o seguinte: A MEMÒRIA DE UAN LAURENT E MINIER (...E) N GARCHISY NIEVRE (FRANÇA) EM 23 DE JULHO DE 1816 MORREU EM MADRID EM 25 DE NOVEMBRO DE 1886 R.I.P. OS SEUS FILHOS POLÍTICOS DEDICAM-LHE ESTE MEMORIAL.”. ("Laurent em Portugal", por Carlos Teixidor Cadenas em "Évora Desaparecida Fotografia e Património 1839-1919" Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Évora, 2007).
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Retrato do Rei D. Luís de Portugal, 1869 “Prova Americana”, também chamada “prova de álbum”. Colecção Carlos Teixidor Cadenas (in "Évora Desaparecida Fotografia e Património 1839-1919", pp. 37).

Muitos dos fotógrafos estrangeiros eram itinerantes, encontravam-se de passagem pelo nosso país em busca do exotismo mas também de mais clientela, no entanto, era em Espanha que despendiam maior tempo. Por isso uma história da fotografia em Portugal tem que ter em atenção a actividade fotográfica destes estrangeiros ambulantes no território dos nossos vizinhos. – está quase tudo por fazer -. Para além destes fotógrafos e retratistas mais conhecidos outros não menos importantes marcaram presença: espanhóis, italianos, ingleses, franceses, belgas, suíços, suecos, escoceses e alemães. H. I. Ricaud que morava e trabalhava no Porto em 1844; em 1845 os franceses Adolfo e Anatólio estabeleciam-se na mesma cidade na Rua das Hortas, 151 2. º e posteriormente aí se estabeleceu o italiano Caetano Morras. Em 1849 instala-se no Porto a firma Cochat & Cª, de Pedro Cochat, primeiro na Rua de Santa Catarina n.º 412, e, depois, na Rua Formosa n.º 38. Em Lisboa pela mesma altura anunciava-se um Gilles e fixava-se temporariamente Mr. Thierson. Na capital trabalharam também os estrangeiros P. A. Guglichni, Henrique Zenóglio, D. José Gomes, os daguerreotipistas franceses Chambard e Poirier, Rua Nova dos Mártires 300 1.º, que a par do retrato se dedicariam também à execução de paisagens, monumentos e costumes depois reproduzidos litograficamente. Em 1846 chegava a Angra do Heroísmo um Hellingier, (O Angrense de 23 de Julho de 1846). Um tal de D. Leanly estabelecido na Madeira na Rua do Estudo. Em 1849 um retratista espanhol estava em Chaves e um célebre dentista sueco ou suiço de nome Schmidli chegado a Elvas anunciava ser professor fotográfico. – é provável que se trate do sueco que Carmém Almeida refere nas suas pesquisas sobre os primeiros fotógrafos em Évora. Entre 1850/52 trabalharam no Porto, o espanhol José Serrano (Serruro), o sueco J. Schenk, os franceses Martin e P. K. Corentin que também tinha estúdio em Lisboa na rua do Ouro n.º 244 e se intitulava, engenheiro fotógrafo. Nem mais! (O Grátis de 16 de Fevereiro de 1852). Corentin publicou a primeira brochura sobre fotografia: “Resumo Histórico da Photographia desde a origem até hoje”, Lisboa, Typographia da Revista Popular, 1852. Corentin ao contrário de outros fotógrafos cuja actividade foi registada em outros países, apenas temos conhecimento de actividade no nosso país, em Lisboa em 1852 e no Porto 1853, com a designação comercial de Corentin e Newman, associado portanto ao fotógrafo Newman na Rua das Hortas n.º 92. Em 1856 Corentin & Wilson aparece-nos pois associado agora a um Wilson e a trabalharem no largo de Santo Ildefonso nos N.ºs 37 a 38. (segundo nota de Paulo Artur Ribeiro Baptista na sua Dissertação de Mestrado “A Casa Biel e as suas edições fotográficas no Portugal de Oitocentos”, onde podemos ler “Do nome Wilson não existe qualquer outra referência para o nosso país apenas se podendo considerar, embora com pouca probabilidade, a hipótese de se tratar de George Washington Wilson, fotógrafo inglês que incumbia outros fotógrafos de recolherem vistas em diversas localidades para o arquivo da sua firma...”. Quem também por esta altura estava estabelecido na capital era o austro-húngaro (Václav) Wenceslau Cifka, na rua Direita das Necessidades, 31 1.º (O Progresso Industrial de 26 de Dezembro de 1853, p.16), chegara no séquito que acompanhava o Rei D. Fernando, que casara com D. Maria II e viera da Alemanha para Portugal. Em breve, travou convívio com alguns dos nossos principais artistas. O fotógrafo Louis Joseph Monnet natural de França onde nasceu em 1826, abre a sua casa no Porto na Praça de D. Pedro n.º 84 em 1856, no mesmo ano muda-se para a Praça da Batalha para o n.º 22. Volta a França para se actualizar e quando regressa no ano de 1857 abre um estúdio na Rua de Santo António n.º 25 onde se manteve até 1862. Em Outubro de 1863 ainda passa pelo Porto o fotógrafo Giguet. Mas os fotógrafos ambulantes tinham tendência a desaparecer. A Fotografia Talbot abre as suas portas no ano de 1865 na Rua das Flores n.º 152, no Porto e será considerada uma das melhores casas de fotografia do norte. A casa Talbot tinha como operadores Alexandre Solas, que antes de vir para Portugal trabalhou no estúdio de Alexandre Ken em Paris e teve também uma casa em Lisboa, a Photographia Universal na Rua Oriental do Passeio Público, n.º 52, que operou em Lisboa desde 1870. O outro operador da casa Talbot foi António Pomarelli, italiano que foi recrutado em Paris no mesmo ano que Solas. Em 1867 foi também aí operador Casimir Lefevre contratado em Paris e que se transferiu para a Fotografia Nacional em 1868. Lefevre era um emigrado francês, que terá chegado a Portugal em 1867. Já antes de emigrar se dedicava à fotografia tendo provavelmente sido importante operador dos ateliers de Nadar e fotógrafo do Rei da Prússia, como é anunciado em “Jornal do Porto”, 10º ano, n.º 59, 12 de Março de 1868 e em “O Primeiro de Janeiro”, 2.º ano, n.º 1108 14 de Maio de 1870 e no n.º 139, de 22 de Junho de 1870. Outro dos tradicionais ateliers portuenses foi a “Fotografia Francesa” que era propriedade de Celestin Benard, situava-se na Rua de Santa Catarina, primeiro no n.º 128, desde 1869, mudando três anos depois para o 247 da mesma rua e, mais tarde ainda, para o 427. Foi dos primeiros ateliers a utilizar carvões, desde Julho de 1880. A “Fotografia Alemã” Fundada, em 1878, por Guilherme Boldt, que tinha trabalhado na casa Fritz e na Fotografia Franceza, instalando-se na Rua do Bonjardim n.º 362. Guilherme Boldt era alemão nascido em 1853 e a sua casa fotográfica “Fotografia Alemã” manteve-se em actividade até 1916, quando foi obrigado a sair do país devido à situação criada com a I Grande Guerra. Em 1876 passou pelo nosso país o Suíço Ed. Knoffli fotógrafo especialista (“O Primeiro de Janeiro, 8.º ano n.º 199, 2 de Setembro de 1876). Ainda no Porto, em 1874 na Rua de Santo António n.º 205 o “Gabinete Fotográfico” de Chaves e Sartoris, em que Giuseppe Sartoris era o operador. Em 1875 a “Photographia União” tinha muitos operadores espanhóis (“O Primeiro de Janeiro” 24 Setembro de 1874, 6.º ano, n.º 217). Ao “fotógrafo amador” Henrique Casanova se devem também, alguns olhares sobre Portugal e muitos retratos da família real portuguesa. O espanhol, "exímio desenhador especialista em aguarela", encarregava-se da aprendizagem do príncipe D. Carlos. ("Família Real Álbum de fotografias", Eduardo Nobre. Quimera).
Também se estabeleceu em Lisboa o fotógrafo italiano (Luigi Nasi) Louis Nazi, na Rua Oriental do Passeio Público n.º 46. Possivelmente pioneiro da estereoscopia em Portugal, “... reproduzia em vidro ou papel ... monumentos, paisagens, etc., recomendando especialmente o aparelho ... denominado estereoscópio, com o qual se obtinha o relevo próprio a dar a mais perfeita impressão da realidade”; Louis Nazi foi autorizado pelo poeta Castilho a comercializar o seu retrato em número limitado, (Asmodeu de 1857, n.º 39).

No ano de 1851 chegava a Lisboa o fotógrafo francês A. Fillon, Ramalho Ortigão descreve a sua chegada nas “Farpas” em 1874. Fillon só abrirá estúdio em Lisboa em 1859. Na mesma altura, apareceu por cá um outro francês de nome H. Tisseron (A Nação 30 de Julho de 1859); dava como morada “Atelier Artístico", Rua do Loreto, 61- 1.º (O Asmodeu de 17 de Janeiro de 1861), deste falaremos adiante. Nos Açores na ilha Terceira esteve um tal de Julien, na Rua da Guarita n.º 11. No ano seguinte desembarcaram na mesma ilha 2 fotógrafos suíços Jaques Wunderli e Eduardo Kauphl, que vinham da ilha de S. Miguel e se estabeleceram na Rua Visconde de Breges, antes da Rua do Pau São n.º 10. (A Terceira 9 de Março de 1861). Na década de setenta do séc. XIX o espanhol Paiano Perez com casa em Portalegre e Viseu, César Ubardi na Póvoa do Varzim.

A grande maioria da informação aqui debitada sobre as casas e os fotógrafos estrangeiros foi obtida no trabalho de Dissertação de Mestrado em História de Arte de Paulo Artur Ribeiro Baptista “A Casa Biel e as suas edições fotográficas no Portugal de Oitocentos”, Universidade Nova de Lisboa, 1994. Completámos com informações tiradas doutras edições sempre que possível referenciadas.
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Fotografos estrangeiros com atelier em Portugal


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Colecção António Faria e Ângela Camila Castelo-Branco.-
Não quero deixar de destacar aqui as magnificas panorâmicas do fotógrafo francês do séc. XIX, Charles Trampus, sobre o qual pouco encontrei salvo o que vem referido no “Provas Originais 1858-1910” do Arquivo Municipal de Lisboa, 1993 da autoria de Maria do Rosário Santos, Luísa Costa Dias e Luís Pavão, e também no catálogo da exposição “À Prova de Água”, Edition Stemmle. Exposição comissariada por Jorge Calado para a Expo’98 de Lisboa.

Charles Trampus

Panorâmica de Lisboa e rio tejo, tirada do Castelo de Almada s.d. Charles Trampus (Paris). Provas em papel directo 7,6 x 95,7 cm. No Catálogo da Exposição "Provas Originais 1858-1910" do Pelouro da Cultura do Arquivo Fotográfico da CML, 1993

Charles Trampus
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Panôramica de Lisboa, tirada do alto de Stª Catarina. s.d. Charles Trampus (Paris). Provas em papel directo. 11,9 x 95,5 cm. No Catálogo da Exposição Provas Originais 1858 - 1910" do Pelouro da Cultura do Arquivo Fotográfico da CML, 1993..
Na página de J. M. Martins Ferreira sobre vistas estereoscópicas, no texto de introdução, a propósito das vistas estereoscópicas sobre Portugal publicadas por estrangeiros, escreve J. M. Martins Ferreira o seguinte:
Muitos estrangeiros editores de estereoscopias produziram séries sobre Portugal desde 1850 até 1930/40, e os fotógrafos amadores de estereoscopias que viajavam por Portugal, Madeira e Açores, produziram muitas imagens. As mais antigas séries de estereoscopias de Portugal feitas por profissionais são de 1850 provavelmente de origem francesa. Henri Plaut foi possivelmente o primeiro fotógrafo profissional a fazer séries de estereoscopias sobre Portugal, cobrindo apenas a região de Lisboa e de Sintra. As restantes séries de estereoscopias de Portugal feitas anteriormente a 1870, são, também, predominantemente captadas por franceses, incluindo Ferrier e Soulier’s com chapas de vidro, e mais tarde Adolphe Block (que assinava “B. K. Edit. Paris”), Léon e Lévy, and Jean Laurent (que tinha casa comercial em Madrid e Paris).
Muito poucos fotógrafos americanos de vistas estereoscópicas são mencionados neste período. A única excepção parece ser Miller & Brown (Bóston), que produziu uma interessante série sobre os Açores em 1860. Fora este exemplo (que aparentemente exclui o continente), B. W. Kilburn parece ser o primeiro importante fotógrafo americano a publicar e incluir Portugal na edição de um catalogo de vistas. Contudo as suas fotografias mais antigas terão sido feitas entre 1880 e 1890. O mais tardio produtor americano de vistas estereoscópicas (H. C. White, Underwood & Underwood, Keystone) incluía nas suas séries, vistas de Portugal e da Madeira, excluindo contudo os Açores.
No entanto, a inclusão de Portugal nas suas listagens parece apenas ter lugar no início do século XX, possivelmente tendo começado com 60 cartões de Portugal publicados por Underwood & Underwood (1902). Porém, 1880 marca a transição do período dominado pelas companhias americanas. Com excepção de alguns relevantes exemplos ingleses e franceses, os editores americanos foram responsáveis pela maioria dos trabalhos fotográficos em Portugal feitos por estrangeiros e publicados entre 1900 e 1930
A seguinte lista inclui companhias estrangeiras / fotógrafos profissionais que fizeram estereoscopias de vistas de Portugal, Madeira e Açores
:”
Espreitemos então
a página de J. M. Martins Ferreira sobre vistas estereoscópicas. Podemos aperceber-nos, ao mesmo tempo que nos deliciamos com a sua colecção, da quantidade de fotógrafos (estrangeiros) e comerciantes de vistas estereoscópicas que fixaram as paisagens, os monumentos e os costumes portugueses a partir de 1850. Foram eles entre outros: Adolphe Block (BK), B. W. Kilburn, Ferrier P. & F. & Solier, H. C. White, Henri Plaut, J.J. Killelea, J. Laurent, Keystone, Larchenal & Favre, Léon et Lévy, Miller & Brown, Presko Binocular Company, Realistic Travels, Stéréofilms Bruguiére, Strohmeyer & Wyman, T. W. Ingersoll, Underwood & Wunderwood e United hotographic Company. Seria exaustivo referirmo-nos profusamente a todos podendo o leitor fazer uma visita que lhe dará uma visão mais completa do site de José Manuel Martins Ferreira.
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Benjamin West Kilburn (1827-1909)
.Superficialmente, referimo-nos aqui aos mais significativos:
Adolphe Block (Paris 1829 - ?). Publicou vistas estereoscópicas entre 1863 e 1915. As imagens de Portugal situam-se entre 1870 e 1880; o francês Charles-Henri Plaut foi possivelmente o primeiro profissional importante de estereoscopia que fez vistas em Portugal de Lisboa e Sintra. As mais antigas séries de Portugal no início da estereoscopia (antes de 1870) foram efectuadas por fotógrafos franceses, incluindo Ferrier & Soulier’s estereoscopias em vidro e mais tarde Adolphe Block (que se identificava como “B. K. Edit. Paris”), Léon & Lévy, e Jean Laurent (com casa montada em Paris e Madrid). Benjamin West Kilburn (1827-1909) e o seu irmão Edward (1830-1884) fundaram a Kilburn Brothers Stereoscopic Company por volta de 1860 em Littleton (New Hampshire), mas Edward saiu da firma em 1875. Depois desta data, Benjamin estabeleceu-se com uma nova firma de estereoscopias a B. W. Kilburn, que esteve no activo até 1909. Benjamin viajou como fotógrafo e contratou uma série de fotógrafos para a sua firma especialmente em 1890. Veio à Europa pelo menos 3 vezes entre 1875 e 1895. Terá sido por volta de 1884 que obteve a maioria das vistas sobre Portugal, incluídas nas listagens da B. W. Kilburn's. As imagens de Portugal fotografadas por J. J. Killelea ao que se julga foram editadas pela United Photographic Company, H. C. White e Keystone. Por volta de 1860 a empresa Anthony's Stereoscopic Views publicou vistas estereoscópicas de Macau. A sua maioria efectuadas por Edward Anthony em 1859 e a partir de 1862 também pelo seu irmão Henry [Darrah 1997, pp. 24-25]. E. e H. T. Anthony foram provavelmente os maiores editores americanos de vistas estereoscópicas montadas sobre cartão.
.Nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, até pelas condições geográficas, locais de passagem de barcos que navegavam para outras paragens, a presença de estrangeiros tornou-se incontornável. .
Num trabalho muito interessante que foi resultado de uma investigação de Carlos Teixidor Cadenas (Gerona, 1958), La fotografia en Canárias y Madeira: La época del daguerrotipo y la albumina (1839-1900)”, Madrid 1999. O investigador espanhol dá-nos preciosas informações sobre os fotógrafos estrangeiros que trabalharam no arquipélago português. Como aqui já escrevemos, a fragata “Oriental”, em que viajava o daguerreótipista Louis Compte terá feito escala no arquipélago. “Procedente de Nantes e Lisboa, quem sabe Compte tenha feito algumas vistas exteriores do Funchal, entre os dias 23 e 25 de Outubro de 1839. Isto é apenas uma possibilidade, sustentada pelo facto de sabermos que existia a bordo uma câmara e tudo mais que era necessário para obter daguerreótipos. Para mais, sabendo nós que no decurso desta viagem no “Oriental”, Compte introduz o daguerreótipo na América do Sul, fazendo demonstrações públicas do processo no Brasil e no Uruguai.
No entanto, foi só em 1847 que o arquipélago vê anunciado nos seus periódicos a presença no Funchal de dois daguerreótipistas britânicos, Leanly e Seweles. São os primeiros retratistas a daguerreótipo, nas ilhas, cujo trabalho está documentado. Leanly obtém retratos coloridos à mão, em Janeiro e Fevereiro de 1847. Seweles, trabalhou em Abril e Maio do mesmo ano.
Russell Gordon, com residência em Londres, apresentou na exposição da “Sociéte Francaise de Photographie” celebrada em Paris entre Maio e Agosto de 1861, uma colecção de 21 vistas da Madeira. Em 1867 Atkinson estabeleceu-se com “atelier” fotográfico à Rua do Mercado de S. João, n.º 5 e 6, no Funchal - Madeira. Algum dos fotógrafos da firma sul-africana “Gray Brothers” terá estado na Madeira em 1875, para obter uma vista de um caminho na costa norte da ilha. A fotografia está descrita como “Cliff by the sea with waterfall” no catálogo “A Book of Photographs from the Collection of Sam Wagstaff”. Onde não escreveram que a imagem foi obtida na Ilha da Madeira. O livro foi publicado nos Estados Unidos, por Gray Press, em 1978 e documentava uma exposição itinerante
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Segundo nota de Teixidor “o astrónomo Charles Piazzi Smyth (1819-1900), que em 1856 fez vistas estereoscópicas em Tenerife, e anos depois fotografou na Rússia e no Egipto, esteve na Madeira em 1881. Na capa do seu livro “Madeira Spectroscopic” impresso em Edimburgo em 1882, existe um woodburytipo que reproduz a baía do Funchal (Madeira). Mas não é seguro que tenha obtido vistas fotográficas na Madeira. Na última década do séc. XIX, Ellerbeck (J. H. T. E.) e Carl Norman (C. N. & Co.), obtiveram vistas fotográficas de grande qualidade do arquipélago da Madeira, que eram comercializadas a partir de Inglaterra. No guia “A guide to the Canary Islands calling at Madeira”, de J. H. T. Ellerbeck, do ano de 1892, podemos apreciar fotografias da Madeira tiradas pelo autor. Este guia inclui um catálogo com a lista que descreve 525 vistas fotográficas distintas da Madeira, Tenerife, La Palma e Gran Canaria, que se vendiam em Liverpool e em hotéis das Canárias.”.
O fotógrafo português Augusto Camacho anunciava em 1890 a possibilidade dos turistas e aficionados da fotografia utilizarem o seu laboratório. Os turistas aficionados da fotografia podiam utilizar o “quarto escuro” de vários hotéis. A cadeia de hotéis Raid, incorporou na sua publicidade a frase: “Dark Room for Photographers”, pelo menos entre 1896 e 1905. Também o “Monte Palace Hotel”, entre 1905 e 1932, anunciava o mesmo. (Carlos Teixidor Cadenas, 1858), “La fotografia en Canárias y Madeira: La época del daguerrotipo y la albumina (1839-1900)”, Madrid 1999).

No arquipélago dos Açores, a presença de fotógrafos estrangeiros, está profusamente documentada no Programa de Iniciativa Comunitária INTERREG III B 2000-2006. No texto “A Presença de Fotógrafos Estrangeiros” podemos ler que Marcellin Turpin terá sido o primeiro daguerreótipista a desembarcar em Ponta Delgada, em 1845, anunciando a sua actividade na hospedaria de João António Rodrigues. Todos os dias, tirava fotografias das 10 às 3 da tarde, ao preço de 4$800 réis. Acabou por residir na ilha, vivendo do ensino da língua francesa. (...) Em 1857, Dubois apresentou-se na cidade de Ponta Delgada, como “acreditado artista e dentista, bem conhecido do povo lisbonense”. Fazia retratos a daguerreótipo – a fusco ou coloridos. Os retratos em lâmina custam 1$440 réis e em papel 1$400. Encarrega-se também de ensinar a retratar. Ainda na década de 50, fixaram-se na mesma cidade dois outros fotógrafos de nome Miller e Nesbitt. Na década de 60, registam-se ainda a presença em São Miguel de Jacques Wunderli, Eduardo Kauphl e Schenk. Wunderli e Kauphl fotógrafos suíços desembarcaram na Ilha Terceira um ano depois de terem estado em São Miguel, aí abriram estúdio na Rua Visconde de Breges, antes da Rua do Pau São n.º 10. (A Terceira 9 de Março de 1861). Na Terceira esteve também um tal de Julien, na rua da Guarita n.º 11.

Por Angra passaram Suliev, que fazia fotografia colorida e um outro que tirava retratos “d’ambrotipo” na hospedaria de Joven Nestor. No final da década, Carlos F. J. Reckell teve estabelecimento montado temporariamente nas três cidades do arquipélago, transmitiu os seus conhecimentos a vários aprendizes e terá dado um contributo fundamental para a introdução da fotografia na Horta. Um dos mais conhecidos fotógrafos micaelenses era António José Rapozo, que terá sido ensinado pelo fotógrafo Reckell. Em 1870, já estava estabelecido na Rua da Esperança e anunciava que se comprometia a tirar retratos melhores do que qualquer fotógrafo que tenha passado pela cidade. Comunicava, ainda, que tinha em seu poder os clichés do seu antecessor na mesma casa, Reckell, pelos quais tirava reproduções. É muito provável que algumas fotos antigas atribuídas a António José Rapozo sejam afinal reproduções do trabalho do seu mestre. António Rapozo, proprietário da Photographia Artística, ensinava a arte a qualquer pessoa por 300$000 réis, e os seus métodos de trabalho aperfeiçoaram-se com um americano, de nome C. Cornell, que se instalou por algum tempo no seu atelier. Mariano José Machado, um jorgense radicado em Ponta Delgada, foi discípulo do referido Miller e em conjunto com Nesbitt abriu um estúdio. Abraham Aboboth (1871-1959) também se dedicou à fotografia, mas era, essencialmente, um desenhador e pintor que executava retratos a crayon, desenhos de modelos para móveis para além de outros trabalhos. Começou por montar um atelier numa quinta em Angra, na Canada dos Folhadais, e dirigiu outro, a Galeria Photpgraphica do Clube União Ginástica, na Rua Duque de Palmela. Abriu posteriormente um estabelecimento, com a designação de Photographia Angrense. Tornou-se conhecido por ter fotografado Gungunhana na sua chegada a Angra, em 1896, mas acabou por se tornar funcionário público, a partir de 1919. A presença da família Dabney ficou registada também pelo seu contributo para a introdução da fotografia no Faial. Fixados nos Açores no início do séc. XIX, o patriarca John Dabney foi o primeiro cônsul americano no arquipélago e homem de negócios em vários ramos. Os descendentes, gente culta e viajada, interessaram-se pela fotografia, registando aspectos da paisagem e dos costumes faialenses, mas também de outras ilhas. Na exposição agrícola e industrial da Horta em 1879, foram expostas três fotografias de Samuel Dabney e outras de Domingos Mendes de Faria. Rose, Raoul e Samuel Dabney conheciam os modernos processos da arte e o seu espólio, ainda preservado, constitui um precioso elemento de estudo sobre os Açores, até à data em que partiram da ilha, em 1892. Na exposição de 1895 na cidade de Ponta Delgada estiveram expostas, numa secção própria, mais de três dezenas de fotografias, entre as quais encontramos as de um estrangeiro, Ernesto Brown. (MEDIAT – Memória Digital Atlântica. Programa de Iniciativa Comunitária INTERREG III B 2000-2006).
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C. N. & Co. Funchal Madeira


Nas colónias, mais significativamente em Moçambique devido à sua localização geográfica, foram muitos os olhares estrangeiros. Na então África Oriental Portuguesa estiveram:
Louis Hilly (França, 1851 – Moçambique, 4 Set. 1949), chega a Lourenço Marques em 1889 a convite do governo da colónia. Foi o primeiro fotógrafo a montar estúdio na recente capital Moçambicana na rua Alexandre Herculano. Em 1894 tinha atelier na Rua da Nossa Senhora da Conceição, quando da sua morte a “Foto Hilly” então na Av. Manuel de Arriaga passou para os seus filhos Susana e Alexi que a exploraram até à independência em 1975. Louis Hilly esteve nas barricadas em defesa de Lourenço Marques, quando das investidas dos guerreiros Vátuas comandados por Gungunhana.
Thomas Lee fotógrafo, comercialmente activo na África do Sul. Entre 1893 e 1899 teve um estúdio em Barberton, Mpumalanga. (Bensusan, p. 240). Testemunhou e registou em albuminas a construção da capital Moçambicana quando esta se mudou da Ilha de Moçambique para a então muito pantanosa e muito inglesa Delagoa Bay.
Sidney Hocking –(13 de Junho de 1872, Lourenço Marques - 14 de Junho de 1932). Inicia a sua actividade com atelier na Travessa da Fonte, em Lourenço Marques. Em 1909 adquire aos irmãos Lazarus o seu estúdio situado na rua Araújo (actual rua de Bagamoyo) quando estes se passaram para o edifício “Avenida Bulding”. Em 1931 ganha uma medalha de prata na Exposição de Sevilha. Apesar de ter falecido pouco tempo depois (1932), o seu estúdio sobreviveu até 1937.
A. Wiberforce Bayly – Em 1914 monta atelier no “Avenida Building”, em Lourenço Marques no mesmo espaço onde esteve instalado o atelier dos irmãos Lazarus.
Willie N. Singh - Willie N. Singh – Photographer, fotografou para a Administração Urbana da Beira, Moçambique alguns trabalhos podem ser vistos num álbum da Companhia de Moçambique de 1928/33.
J. e M. Lazarus – Em 1899 os irmãos Lazarus são já proprietários de uma casa em Lourenço Marques, mais tarde estão também estabelecidos na Beira e em Barbeton, na República do Transwal. O estúdio na capital da província estava então situado na rua Araújo (actual rua de Bagamoyo), tendo posteriormente passado para o edifício “Avenida Building” onde, em 1914, a empresa “A. W. Bayly” viria a instalar um atelier fotográfico, sob orientação técnica de Wiberforce Bayly. Acabariam em Lisboa proprietários da “Photographia Ingleza” a fazer retratos no n.º 53 da rua Ivens. (Sebastião Langa, “Retratos de uma vida” Arquivo Histórico de Moçambique, Dezembro de 2001). Os Lazarus estão aqui assinalados porque até hoje não conseguimos apurar a sua verdadeira nacionalidade, possivelmente são de origem judia.
J. Wexelsen fotógrafo profissional provavelmente de origem Bóer, com estúdio na Beira, Moçambique. A mulher de J. Wexelsen fotografada num riquexó na cidade da Beira, aparece num postal editado em 1907. Outros nomes, outros fotógrafos estrangeiros se passearam pelas Áfricas portuguesas banhadas pelo atlântico. Descobrir e estudar estes fotógrafos é tarefa urgente que, parece ainda não ser uma prioridade para a maioria das instituições científicas portuguesas, lá chegaremos....
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Mulher do fotógrafo J. Wexelsen. Beira - Moçambique, 1907. Colecção João Loureiro

Um fotógrafo que teve estúdio na rua dos Mártires n.º 34, 1.º em Lisboa foi E. Thiesson que fotografou meia Lisboa e a quem A. Feliciano de Castilho dedicou um artigo publicado no Jornal de Belas Artes intitulado “Luz Pintora”, onde se confirma o estúdio do francês na capital em 1845. Provavelmente foi nesse mesmo estúdio visitado por Castilho que Thiesson terá feito uma série de daguerreótipos de africanos residentes em Lisboa, entre os quais estaria a famosa nativa de Sofala, Moçambique. O daguerreótipo pertence hoje à colecção George Eastman, Rochester, Nova Yorque; estes esclarecem que a retratada é a Rainha do Xai-Xai de Zavala- Moçambique e que aí foi retratada por Thiesson em condições climatéricas adversas. E nós que até suspeitamos que o fotógrafo nunca esteve em Moçambique, não deixamos de simpatizar com a história da Casa George Eastman. Os americanos lá terão as suas fontes! Para nós, será sempre uma Rainha do Sabá.

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Fotografia de Thiesson, 1841 Rainha do Xai-Xai / Rainha do Sábá. Colecção George Eastman.
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Não encontro explicação para que as colónias portuguesas na costa africana do Atlântico não tenham registos significativos da presença de estrangeiros que a estas colónias tenham dispensado um olhar fotográfico. Talvez, que nas ilhas de São Tomé e Príncipe; no arquipélago de Cabo-Verde e na Guiné-Bissau, a diminuta população europeia não justificasse a abertura de um estúdio ou mesmo uma simples passagem pelas ilhas. Em Angola terão sido outros factores a afastarem os fotógrafos estrangeiros, poderão ter sido as condições adversas para este tipo de profissão, e que cujas distâncias e o isolamento não permitiam facilidades. Apesar disso um dos maiores nomes da fotografia portuguesa na época foi nesta colónia que se celebrizou, refiro-me à família Cunha Moraes. Aqui e ali, vamos encontrando um ou outro vestígio da passagem de um fotógrafo estrangeiro pelas ilhas. Baumont nas suas visitas às ilhas de Cabo Verde ou as incursões de Aimé Palanque às roças de São Tomé e Príncipe. Em Angola a presença de sociedades estrangeiras nas Minas, na construção dos Caminhos-de-Ferro, nas explorações agrícolas pressupõem a presença de fotógrafos estrangeiros para trabalhos encomendados, como foi o caso do fotógrafo Suíço – julgo tratar-se do mesmo fotógrafo que Serpa Pinto conheceu em Pretória e o retratou - Mr. Goss com estúdio em Pretória e que parece ter estado no Sul de Angola. Quem fez o acompanhamento fotográfico da construção dos Caminhos-de-Ferro de Moçamedes entre 1909 e 1910 e cujo registo foi oferecido em álbum (Álbum de Artur Torres Chefe da Brigada de Estudos do Caminho de Ferro de Moçamedes 1909/1910) a um número reduzido de pessoas foi o fotógrafo G. Schöss. Todos estes nomes, de fotógrafos estrangeiros nas colónias portuguesas - muito pouco estudados, e quando o são de facto não chegam com facilidade à maioria das pessoas.

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Carte-de-visite Photographie BAUMONT em Cap Vert frente e verso. Colecção António Faria e Ângela Camila Castelo-Branco
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O francês Jules Alphonse Eugène Itier ( (1802-1877), fotografou Macau em 1844. O responsável pela Comissão do Comércio Francês na China e o autor das fotografias mais antigas feitas por um ocidental naquele território. Registou como fotógrafo amador a cerimónia de assinatura do tratado sino-francês em 24 de Outubro de 1844. Fotografou Macau nos dias 18, 19 e 28 de Outubro de 1844, portanto antes mesmo de fotografar na China, “Jules Itier fotografou Macau e descreve, no seu Diário, as peripécias porque passou: Consagrei estes dois dias (18 e 19) a fixar no daguerreótipo aspectos mais notáveis de Macau” no dia 28 Itier volta ao seu trabalho de fotógrafo amador e escreve no seu diário “Empreguei o meu dia a captar em daguerreótipos diversas vistas de Macau e arredores: o Cais da Praia Grande, o Grande Pagode, o Porto Interior, as ruas do Bazar, ofereceram interessantes assuntos.”. Théophile Piry, fotógrafo amador de grande qualidade, activo entre 1876 e 1916, residiu alguns anos em Macau como funcionário do Imperial Maritime Customs Service e fotografou-o no dobrar do século XIX. Johm Thomson (1837-1921), a Cidade do Santo Nome de Deus fixada por Thompson, é descrita pelo jornal Ta-Ssi-Yang-Kuo, na sua edição de 1 de Dezembro de 1864, ao elogiar a acção do governador Coelho do Amaral”. (“Álbum Macau - Sítios, Gentes e Vivências”. Cecília Jorge e Beltrão Coelho, 1990).
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MACAU 1843



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Seria curioso estudarem-se nomes, apenas conhecidos, de fotógrafos activos na China no séc. XIX, para saber se por ventura também estiveram em Macau: Antoine Fauchery em 1860, Paul Champion em 1865, Ernst Ohlmer em 1873, Thomas Child ou Osvald Sirén.

Estes são alguns dos “olhares fotográficos” estrangeiros sobre Portugal nos primórdios da fotografia, estes e outros tantos, dos quais tão pouco se sabe. Entretanto houve acasos, um deles a passagem por Portugal em 1942 de Cecil Beaton, um acaso da guerra. Partiria de Portugal sem ter conseguido fotografar o ditador. “Em Dezembro do mesmo ano, um conjunto de 56 fotografias (das quais 44 eram retratos) era exposto em Lisboa, no Estúdio do Secretariado de Propaganda Nacional. Longe duma Europa a ferro e fogo, os portugueses podiam dormir tranquilos. Havia quem velasse por eles, do Presidente, General Óscar Carmona (sete retratos), ao modesto polícia a passar junto ao Beco do Pocinho.” Jorge Calado, exposição “De fora para dentro” Paris 2002.
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CECIL BEATON
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Cecil Beaton fotografou personalidades portuguesas em 1942

Com raras excepções, os grandes fotógrafos estrangeiros só começaram a procurar Portugal na segunda metade do século XX. E. O. Hoppé e A. L. Coburn fotografaram na Madeira – o primeiro, atraído pelos costumes locais; o segundo, pela paisagem vertiginosa. No continente, a moda foi inaugurada, a contragosto, por Cecil Beaton, em Julho de 1942. Estava em Lagos, na Nigéria, à espera de ser repatriado, quando recebeu ordem do Ministério da Informação britânico para seguir rumo a Lisboa. Não sabia para quê. Passara três meses a fotografar no Médio Oriente e Norte de África e sentia-se ansioso por regressar a casa. Veio nesse “barco voador” que era o hidroavião Clipper, e ficou instalado com todas as honras no Hotel Avis, o mais íntimo e elegante da capital (onde hoje se situa o Sheraton). Na sala de jantar, notou logo a presença de Calouste Gulbenkian, o “rei do petróleo e caviar, e patrono das artes” (como o descreve nos seus Diários).
Começava a saga da burocracia portuguesa, complicada pelo estatuto neutral do país. Era preciso autorização para fotografar. Beaton sabia que “em Lisboa pode-se ser preso por tirar fotografias, e uma vez na prisão, são precisas várias semanas para se conseguir sair”. A missão – soube-o agora – era fotografar os membros do governo e as celebridades locais. Para quê, não se percebia muito bem. Enquanto tratavam da papelada, Beaton tirava a barriga de misérias graças aos intermináveis almoços de oito pratos no Avis, lia a Guerra e Paz, de Tolstoi, e fazia de turista. Impressionou-o o desalinho dos telhados de Lisboa, “uma manta de retalhos”, mas exultou com o Palácio de Queluz, a que nem Beckford fizera a devida justiça – “um palácio rosa e verde pistachio, uma espécie de gata borralheira [...], mais bonito do que tudo na Baviera, mais arrojado e cheio de fantasia do que qualquer outro em França. É a apoteose de toda uma arquitectura fondant”. O prémio seria fotografar o ditador recluso, mas Salazar, fazia-se caro. Entretanto ia fotografando com a sua Rolleiflex o Presidente da República, Cardeal-Patriarca, generais e almirantes, muitas damas de sociedade. Também retratou o Dr Marcello Caetano, então Comissário-Geral da Mocidade Portuguesa. Com o cabelo brilhantinado e um perfil à Fred Astaire, Beaton viu-o como um belo figurino art-déco, em fino contraste com a estátua barroca. Mal sabia ele que estava a fotografar o sucessor de Salazar e último primeiro-ministro de Portugal antes da restauração da democracia em 1974!
Farto de esperar pelo sim do “líder garboesco”, Beaton desistiu de fotografar Salazar. Autorizado a regressar a Londres, embarcou num Clipper, logo que os ventos amainaram. (Uma década mais tarde, os Clippers continuavam a levantar voo do Tejo; Thurston Hopkins apanhou a sua adorada Amália Rodrigues, a voz do fado, prestes a partir para as ilhas atlânticas) Na bagagem, Beaton levava açúcar, peras, doce de laranja e figos secos, que o racionamento na Grã-Bretanha era bem mais rigoroso que em Portugal. Em Dezembro do mesmo ano, um conjunto de 56 fotografias (das quais 44 eram retratos) era exposto em Lisboa, no Estúdio do Secretariado de Propaganda Nacional. Longe duma Europa a ferro e fogo, os portugueses podiam dormir tranquilos. Havia quem velasse por eles, do Presidente, General Óscar Carmona (sete retratos), ao modesto polícia a passar junto ao Beco do Pocinho.”
(Jorge Calado, Exposição “Dedans-Dehors” da colecção de fotografia da CGD no Centro Cultural Calouste Gulbenkian em Paris, 2005).
Não era nossa intenção sermos tão exaustivos, no entanto, à medida que vamos escrevendo, as palavras vão devorando as páginas em branco, insaciáveis, e o espaço que delineámos foge-nos entre os dedos. Uma história arrasta outra e nunca mais paramos. Por isso decidimos que este texto a que demos o título de: Os estrangeiros e os “Olhares fotográficos”, devia ser subdividido em quatro subtítulos: I - De Charles Legrand e William Barklay a Man Ray; II – Os Kodak’s os salonistas e Henri Cartier-Bresson; III – Sebastião Salgado e os “Mensageiros da Liberdade”; IV - Os olhares de Cândida Hoffer, Bert Teunissen e Marta Sicurella.

Impôs-se aqui uma parte de um texto que o Prof. Jorge Calado fez para a Exposição “De Fora para Dentro”. O texto não está completo mas, tem um link que possibilita a sua leitura na íntegra. Ele faz a passagem para o segundo período dos “olhares fotográficos” dos estrangeiros sobre o nosso país. Esse segundo período situa-se depois da II Grande Guerra Mundial e vamos esticá-lo até ao 25 de Abril de 1974, até aos “Mensageiros da Liberdade” período que compreende o fotojornalismo e a vinda de profissionais das grandes agências internacionais a Portugal. O quarto tempo dos olhares fotográficos dos estrangeiros sobre nós culminará nos dias de hoje com os olhares fotográficos da italiana Marta Sicurella.


Uma passagem infértil, foi a de Man Ray pelo Chiado que nada nos deixou, que nada nos levou. Como nos relata Madalena Lello em Sais de Prata e Pixéis no texto que tinha escrito quando da exposição de Man Ray no Museu do Chiado: “Em Julho de 1940, Man Ray hospeda-se no Hotel Francforte na baixa lisboeta. Aguarda vaga num navio que o levará de regresso aos Estados Unidos. Americano, com residência em Paris, deixa a cidade dos seus sonhos quando esta é ocupada pelas tropas Nazis. O retorno aos Estados Unidos deprimi-o, é-lhe difícil regressar ao país que o fez emigrar” e terminava “Após sessenta anos Man Ray regressa à baixa lisboeta e quem visita a exposição regressa ao espírito dadaísta dos anos vinte”. Madalena recupera o texto quando do lançamento do livro de Daniel Blaufucks, Sob Céus Estranhos, na FNAC, acrescentaria “Ao contrário dos avós de Blaufuks, Man Ray e todos os outros seguiram caminho, Lisboa não merece mais do que “uma” breve referência." ("Man Ray regressa à Baixa de Lisboa", Madalena Lello, no Sais de Prata e Pixeis).

Aliás, os olhares trocados entre Man Ray e Portugal foram sempre enviesados. Quando nos anos 50 do séc. XX, Ernesto de Sousa (Lisboa, 1921 – Lisboa, 1988) publica na revista Plano Focal, uma entrevista a Man Ray (nº 4, 1953), fica claro o pouco apreço que este fotógrafo nos tinha. Se, como dizia Goethe “cada olhar é já uma teoria sobre o mundo”, sobre Portugal Man Ray não terá teorizado coisa nenhuma. Não lhe teremos sequer despertado o instinto de “voyeur”, nem de soslaio.
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António Faria e Ângela Camila Castelo-Branco


Continua com:
III – Sebastião Salgado e os “Mensageiros da Liberdade”
IV - Os olhares de Cândida Hoffer, Bert Teunissen e Marta Sicurella.

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