sexta-feira, novembro 30, 2007

M a r i a José Pa l l a
E x p o s i ç ã o d e Fotog r a f i a s 7 Dezembro d e 2 0 0 7






Auto-Retratos no Labirinto
Nuno Júdice



HÁ UMA SUCESSÃO DE PORTAS DE VIDRO QUE ABREM PARA OUTRAS PORTAS DE VIDRO. Se nos aproximarmos, vemos que nem todas são iguais, embora o pareça. Há portas onde há corpos; e esses corpos talvez não estejam por trás das portas, mas apenas reflectidos nas portas. Digo "apenas" porque esta é a forma mais óbvia de dizer que estes corpos fazem parte dessas portas. Ao abrir o espelho, abrimos cada uma dessas figuras que as portas reflectem; e o que se encontra por trás, como nos espelhos paralelos, é o infinito que se abre, como um poço, ao desejo de saber o que está para além daquilo que se pode saber. Mas num espelho a sabedoria confunde-se com a visão; e se queremos ver o que queremos saber, teremos de saber o que queremos ver. Então, o caminho será outro. Ir de uma porta para outra porta não é o mesmo que ir de um espelho para outro espelho. Para entrar por uma porta teremos de bater à porta, e esperar que nos abram; e se não houver ninguém por trás da porta, ficaremos à espera, como se esse fosse o destino natural de quem quer entrar sem ter a chave de todas as portas. Do outro lado, porém, também pode haver quem queira fazer esperar; e enquanto se espera há tempo para fixar cada pormenor da porta, a não ser que essa porta seja um espelho. Então, o que se fixa é cada pormenor da imagem de quem está à espera reflectida nessa porta que é um espelho; e talvez que, no fim, quem esteja à espera descubra que, afinal, é ele mesmo quem está do outro lado do espelho, a fazê-lo esperar por si próprio. Os dois, porém, ele e ele mesmo, nunca se irão encontrar.

É ESTA ENGRENAGEM LABIRÍNTICA QUE A FOTOGRAFIA DE MARIA JOSÉ PALLA PÕE EM MOVIMENTO. Vai fazê-lo, porém, como uma encenação, quase um bailado, de onde surgem figuras e sombras que se interpõem entre a câmara e o olhar, desviando a atenção para outros espaços onde, por vezes, é possível sairmos da beleza vestida de angústia que alguns destes caminhos põem no palco que a sua objectiva enquadra para um desenho quase abstracto do mundo que se abre entre os corpos e os objectos. Vemos o trabalho; mas descobrimos também que ele resulta de um jogo formal que desemboca na luz e na cor, em contraponto ao negro de certas portas, de certos espelhos, de certos planos. Espaços sem tempo, mas em que o espaço vai desenhando uma constelação geométrica que se liberta dos actores, transformados em sombras ou reflexos fugitivos num fundo quase fantasmático. Finalmente, no centro – mas tão no centro que a sua presença se torna transparente, como essa objectiva que o olhar atravessa na transmutação da realidade em cena fotográfica - a autora vai tornar-nos cúmplices do seu projecto. Para onde olha? Olha-nos? No fundo, vê para ser olhada - e nesse olhar colectivo, que é o olhar de cada um de nós, que adivinhamos à sua frente, recomeça o jogo inúmero dos espelhos.

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