quarta-feira, fevereiro 06, 2008

HOTEL CHELSEA, NY
"Um lugar mágico"




Capa do Le Monde 2. “Hotel Chelsea, New York”, Fotografia de Rita Barros


O assunto “Une legende que s’éteint” faz a capa do "Le Monde 2" de 1 de Fevereiro de 2008, com uma fotografia de Rita Barros. No interior algumas fotografias ilustram a reportagem sobre a agonia do mítico hotel nova-iorquino. A fotógrafa portuguesa vive em New York desde 1980, foi para lá estudar, a cidade trocou-lhe as voltas “Rapidamente arranjei amigos, também saía muito, NY era super divertido, mas assim daquelas coisas que a gente não tem tempo para ir às aulas, e pronto, rapidamente gostei muito, e festas, era uma altura em que havia muito dinheiro e em que, de facto, viver era fácil. Trabalhar era uma coisa, género ganhar rapidamente assim o que houvesse a ganhar e continuar.” (som), In ©2001 Walk Don't Walk, de Laurent Simões. Rita vive no último andar do Chelsea Hotel no mesmo quarto onde esteve o inventor dos satélites, Arthur C. Clarke que escreveu "2001: Odisseia no Espaço" enquanto aí esteve hospedado. Rita Barros já editou um livro de fotografias “Chelsea Hotel fifteen years” em 1999. E não me surpreenderia se editar um segundo com muitas fotografias e histórias deste hotel mítico, verdadeiro ícone da cultura nova-iorquina.

Velho de 125 anos o Chelsea aguenta. Tem resistido desde 1883 altura em que foi construído no bairro de Chelsea, em Manhattan, Nova Iorque. Situa-se no 222 de West Street 23º, entre as Sétima e Oitava Avenidas. Foi o primeiro condomínio “cooperativa de habitação” de Nova Iorque. De rendas baixas e residentes modestos, trabalhadores imigrantes italianos, irlandeses, polacos, alguns judeus que viviam do comércio e de outras actividades portuárias nas docas de Hudson ali mesmo ao lado. Em 1905 a cooperativa foi vendida e passou a ser um Hotel. Foi só em 1939 que o pai de Stanley Bard, um imigrante húngaro que tinha feito fortuna, adquiriu o hotel em sociedade com alguns amigos. Em 1957 o pai de Stanley Bard nomeia-o delegado do Chelsea Hotel. Hoje o hotel recebe hóspedes, mas é mais conhecido pelos seus residentes de longa duração, do passado e do presente. Em 1968 Stanley Bard hospedou um jovem checo que não gostava dos tanques soviéticos a passearem pelas ruas de Praga e por isso resolveu fugir para o outro lado do atlântico. Acabado de chegar a New York, sem dinheiro, ficou combinado que só pagaria a estadia no Chelsea quando se concretizasse a pretensão que trazia de realizar um filme. Bard perguntou-lhe como se chamava. Ao que este lhe respondeu: "... no passaporte está escrito Jan Thomas Forman mas, todos me tratam por Milos". O jovem cineasta, então com 36 anos, só veio a pagar a renda 2 anos depois com o êxito de Taking Off (1971), uma sátira hilariante. Ficaria no Chelsea por mais três anos, a trabalhar no argumento do “One Flew Over the Cuckoo's Nest” (em português: Voando sobre um Ninho de Cucos), que estreou em 1975. Um filme que é uma adaptação de um romance de Ken Kesey, que foi produzido pelo actor Michael Douglas e que marcaria a carreira de Milos Forman. Ainda hoje, quando visita Nova Iorque, Milos fica hospedado no Chelsea Hotel.




"Como se fuma um charro"




Não resisto - até pelo fundamentalismo anti tabagista que nos rodeia, em deixar aqui um excerto de 'Taking Off' de Milos Forman (1971), How to smoke a joint – (Como se fuma um charro). Milos Forman deve rir-se do facto de hoje em dia, haver um 'Não Fumar' no átrio do hotel.


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São muitas as estórias e não menos os nomes de gente célebre que encontrou no Chelsea um abrigo, um lugar privilegiado de inspiração e magia. Paul Morrissey e Andy Warhol dirigem “Chelsea Girls (1966). O filme foi o primeiro grande sucesso cinematográfico de Warhol. Tendo como cenário o Hotel Chelsea e outros locais de New York, documenta a vida das jovens que aí vivem. O nome é uma óbvia referência ao local onde decorreram as filmagens. Filmado no Verão e início do Outono 1966, em várias salas e locais no interior do Hotel Chelsea, mas vale a pena esclarecer que, de todos aqueles que entravam no filme, só o poeta René Ricard realmente vivia ali na altura. Também se filmou na The Factory, Warhol's studio.
A cantora de música popular, modelo e actriz alemã Christa Päffgen (1938–1988) foi discípula de Warhol, mais conhecida pelo seu pseudónimo Nico, e foi uma das "Warhol Superstar", em "Chelsea Girls".
O Hotel Chelsea é frequentemente associado ao "Warhol Superstars" e o filme "Chelsea Girls" (1966), um filme sobre a sua "Factory" e a vida das "Warhol Superstars": Edie Sedgwick, Viva, Larry Rivers, Ultra Violet, Mary Woronov, Holly Woodlawn, Andrea Feldman, Nico, Paul América, e Brigid Berlinno como residentes do Hotel Chelsea.




Nico canta Chelsea Girls in the Chelsea Hotel




No Hotel Chelsea passaram ou permaneceram por longos períodos, escritores e pensadores como: Mark Twain, O. Henry, Herbert Huncke, Dylan Thomas, Arthur C. Clarke, William S. Burroughs, Gregory Corso, Leonard Cohen, Arthur Miller, Quentin Crisp, Gore Vidal, Tennessee Williams, Allen Ginsberg, Jack Kerouac (que aí escreveu On the Road ), Robert Hunter, Jack Gantos, Brendan Behan, Simone de Beauvoir, Robert Oppenheimer, Jean-Paul Sartre, Bill Landis, Michelle Clifford, Thomas Wolfe, Charles Bukowski, Matthew Richardson , Peggy Biderman, Raymond Foye, e René Ricard. Charles R. Jackson, autor de The Lost Weekend, cometeu suicídio nos seus aposentos, no Chelsea a 21 de Setembro de 1968. Por lá passaram também actores e realizadores como: Stanley Kubrick, Shirley Clarke, Cyndi Coyne, Mitch Hedberg, Miloš Forman, Lillie Langtry, Ethan Hawke, Dennis Hopper, Eddie Izzard, Kevin O'Connor, Uma Thurman, Elliot Gould, Jane Fonda, e Gaby Hoffmann e sua mãe, a estrela "Warhol Superstar" Viva e Edie Sedgwick. Ali moraram, mais ou menos tempo, músicos como: The Libertines, Tom Aguarda, Patti Smith, Virgil Thomson, Dee Dee Ramone do grupo "The Ramones", Henri Chopin, John Cale, Édith Piaf, Joni Mitchell, Marty Connolly, Bob Dylan, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Sid Vicious, Richard Hell, Ryan Adams, Jobriath, Rufus Wainwright, Abdullah Ibrahim / Sathima Bea Benjamin, Leonard Cohen e Anthony Kiedis.


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Patti Smith e Robert Mapplethorpe no Hotel Chelsea


O Chelsea foi ainda um lugar mágico para artistas plásticos que ali pernoitaram ou se deixaram ficar em estadias mais ou menos longas, ali viveram, ali se abrigaram e ao Hotel deixaram algumas das suas obras: Larry Rivers, Brett Whiteley, Christo, Arman, Richard Bernstein, Francesco Clemente, Philip Taaffe, Michele Zalopany, Ralph Gibson, Robert Mapplethorpe, Frida Kahlo, Diego Rivera, Robert Crumb, Jasper Johns, Claes Oldenburg, Vali Myers, Donald Baechler, Herbert Gentry, Willem De Kooning, John Dahlberg e Henri Cartier-Bresson. O pintor e etnomusicologista Harry Smith viveu e morreu no quarto 328. O pintor Alphaeus Cole viveu no Chelsea os últimos 35 anos da sua vida, onde acabou por morrer em 1988, com 112 anos. Charles James: couturiers do século XX, influenciaram a moda nos anos de 1940 e 50 - Em 1964 mudaram-se para o Chelsea Hotel, onde criaram um pequeno estúdio, mas que atraiu poucos clientes. James morreu de pneumonia no Chelsea Hotel, em 1978.




Um "concerto" ao Chelsea Hotel
“Sarah” Bob Dylan in Chelsea Hotel
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"Sara" by Bob Dylan, which refers to "Staying up for days in the Chelsea Hotel, writing Sad Eyed Lady of the Lowlands for you".


LEONARD COHEN'S CHELSEA HOTEL AT MIDNIGHT
Chelsea Hotel/Leonard Cohen/Rufus Wainwright








David Van Tieghem - Live at the Chelsea Hotel






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New York Skyline. Fotografia de Rita Barros

Ângela Camila Castelo-Branco, APPh.

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1 comentário:

concursando disse...

adorei seu blog!