Um “Olhar” sobre a APPh.
na revista Fotodigital
"A 7 de Julho de 1994, o “Olhar”, suplemento editado pelo jornal “A Capital” entre 1993 e 1999, publicou um artigo sobre “Finalistas de fotografia na
AR.CO expõem dependências”. Aí, Sónia Laima descreve as preocupações dos então jovens fotógrafos. Estes “interrogavam-se se seria viável criar uma associação de fotógrafos, visto que já outras tentativas foram feitas nesse sentido e todas demonstraram que o espírito dos Portugueses, quando toca à fotografia, é, acima de tudo, individualista, impossibilitando qualquer tipo de corporativismo que não seja o dos amigalhaços”.
Mas os sonhos e a esperança duram. Se umas tentativas de criar associações de fotógrafos têm falhado, outras, aqui e ali, têm revelado uma longevidade surpreendente. O mesmo não se pode dizer sobre associações que, a nível nacional, se preocupem com a coisa fotográfica. A única que existiu, efémera, nasceu já lá vai um século depois de terem sido aprovados, a 27 de Junho de 1907 e por iniciativa de Arnaldo da Fonseca e Júlio Worm, os estatutos da Sociedade Portuguesa de Photographia. A 14 de Abril de 2007, no ano em que se assinalava o centenário dessa associação, nascia a APPh., Associação Portuguesa de Photographia. De então para cá, temos trabalhado para que os alicerces deste projecto lhe permitam longevidade.
Aquando da realização do primeiro leilão de fotografia antiga organizado, em Junho de 2006 pelos primos Trindade da Potássio 4, por iniciativa de Ângela Camila e António Faria, um grupo de amigos da fotografia, de amadores, de interessados, de estudiosos e de coleccionadores de fotografia aproveitou a oportunidade para se reunir num jantar. Gesto que repetiram pouco depois. Estes encontros ajudaram a revelar um desejo comum: o de criar uma associação vocacionada para o estudo, a discussão, a divulgação, a promoção da fotografia e dos fotógrafos.
Queríamos conhecer-nos melhor, saber o que os outros faziam, que imagens, livros, máquinas ou fotógrafos preferiam. Recordámos tempos passados, quando, há vinte ou trinta anos, era apenas um punhado deles que gostava de fotografia e se interessava pelas imagens antigas. Lembrámo-nos de que nos víamos, por acaso, nos alfarrabistas e nos antiquários. Tínhamo-nos encontrado “no Almarjão”, o Zé Maria da Livraria Histórica e Ultramarina, de Lisboa; ou “no Nuno”, o Nuno Canavês da Livraria Académica, no Porto; ou “nos Ferreiras”, Pai e Filhos, do Porto; ou “nos Trindades”, da Rua do Alecrim, em Lisboa; ou em tantos outros locais de culto e peregrinação. Verificámos que, agora, já éramos muitos, umas dezenas, que cultivavam o género e a arte. Uns fazem fotografia, outros estudam-na. Uns coleccionam imagens, outros sabem ler fotografia. Todos conhecíamos os nomes consagrados. O António Pedro Vicente, que, quase sozinho, durante décadas, presidiu a uma das melhores colecções de aparelhos fotográficos da Europa, a qual agora reside no Centro Português de Fotografia, na Cadeia da Relação, no Porto. O António Sena, em tempos proprietário e animador da galeria “Éther, só não vale tirar olhos”, em Lisboa, ulteriormente autor da principal História da fotografia portuguesa, a “História da imagem fotográfica em Portugal, 1839-1997”. O Jorge Calado, um catedrático de química, amante de música e fotografia, que nos habituámos a ler nos jornais ou em catálogos e que se tornou indispensável. O José Pessoa e a Vitória Mesquita, antigos do Arquivo Fotográfico de Lisboa e actuais do Inventário Artístico de Portugal, entre os primeiros a fazer da preservação e do restauro de imagens fotográficas a sua profissão e a sua paixão. Os irmãos Alexandre e António Ramires, pioneiros em Coimbra e que ao país dão lições de estudo e divulgação da fotografia histórica. O João José Clode, com uma das melhores e mais bem conservadas colecções. O Eduardo Nobre, coleccionador e escritor, com particular sabedoria em tudo o que é Casa Real, famílias nobres e costumes militares. O Luís Pavão, um Mestre da conservação/restauro e conhecedor como poucos da fotografia antiga. O João Loureiro, especialista em imagens e postais fotográficos ultramarinos, com pelo menos uma dezena de livros publicados. A Luísa Costa Dias, da Fototeca Municipal de Lisboa, onde tem obra feita. A Teresa Siza, fundadora e tenaz directora do Centro Português de Fotografia. A Isabel Corte Real e o Sérgio Mah, que estiveram à frente do Lisboa Photo. O José Luís Madeira, um dos veteranos destas artes e destes circuitos. O Sérgio Gomes, um dos mais novos, mas já com obra no “Público” e na “blogosfera”. Luís e Bernardo Trindade, da Potássio 4, responsáveis pelos primeiros leilões de fotografia feitos em Portugal. O José Manuel Ferreira, perito da estereoscopia fotográfica, com experiência internacional da blogosfera. António Valdemar, Paulo Catrica, Luís Saragaa Leal (PLMJ), Rita Barros, Albano da Silva Pereira (dos Encontros de Coimbra), Carmen Almeida, Rui Prata (dos Encontros de Braga); Emília Tavares (do Museu do Chiado); Silvestre Lacerda (da Torre do Tombo); Manuel Magalhães (e o Grupo Ideia e Forma); João Vilhena, Gérard Castello-Lopes, José Rodrigues, Vasco Graça Moura, José Pacheco Pereira, António Pedro Ferreira, Rui Ochoa, Eduardo Gajeiro, Paulo Nozolino, Daniel Blaufuks, Isabel Soares Alves, Maria José Palla, Nuno Borges, Delfim Sardo, Eduardo Nery, José Afonso Furtado, Marta Sicurella, Mafalda Ferro, Pedro Franco, Pedro Aguilar, Teresa Margarida Rebelo: uns juntaram-se a nós, outros gostaríamos que se juntassem também.
O inevitável sussurro começou depressa. “Não podemos ficar por aqui”! Muito depressa surgiram a palavra e o desejo: “E não deveríamos fazer uma associação, ter um local, fazer um Blogue, organizar um sítio na Internet, publicar uma revista...”? Todos queriam arranjar uma maneira de poder prosseguir o diálogo e a troca de informações e de contactos, eventualmente trocar imagens e aparelhos, mostrar as respectivas colecções, escrever sobre o que conheciam, aprender o que não sabiam. Quando uma boa ideia começa a caminhar, não é possível travá-la. Esta já deu uns passos. Acarinhada por vários entre nós, a ideia começa a ser realidade. Já existem estatutos, já são conhecidos os primeiros voluntários que querem dar o seu contributo. Já existe um Blogue que se destina, em primeira mão, a divulgar a Associação (APPh) e a sua missão. Já foi eleita uma direcção que prepara o seu trabalho, designadamente a angariação de sócios, a reflexão sobre as hipóteses de edição de uma revista / boletim, instalação de um sítio na Internet e execução de um logótipo e imagem gráfica concebidas pelo designer Henrique Cayatte. Sem esquecer outras iniciativas, nas quais meditamos, como por exemplo a organização de exposições e edições.
Além do que acima fica referido, o que pretendemos desta Associação? Defender os interesses da fotografia e dos fotógrafos. Contribuir para melhorar o papel da fotografia na cultura e na comunicação. Estimular a discussão e suscitar os comentários sobre qualquer assunto relativo à fotografia. Provocar o sentido crítico. Ajudar à divulgação de iniciativas que possam contribuir para o reforço da fotografia em Portugal. Contribuir para a construção de uma base de dados permanente sobre fotógrafos, espólios, coleccionadores, imagens importantes, colecções, leilões, acontecimentos e exposições. Divulgar galerias permanentes e temporárias. Mostrar fotos raras e especialmente interessantes. Promover a reflexão e o estudo sobre a fotografia e sua história. Fomentar a redacção de críticas e comentários a exposições, assim como de recensões de livros.
Gostaríamos também que a APPh viesse satisfazer uma necessidade que muitos ressentem, a de dar voz aos que querem influenciar decisões públicas e privadas sobre a fotografia em Portugal. Questões como a legislação sobre os bens patrimoniais ou os direitos de autor e de imagem; ou como sobre a actuação pública nesta área, o financiamento destas artes, a preservação do património e o ensino da fotografia nas escolas, merecem ser mais discutidas na praça. Começa a ser tempo de ver os interessados participar de modo mais eficaz nestes debates públicos. Os estatutos da associação estão aprovados. A escritura pública feita. Os primeiros corpos gerentes eleitos. Preparamos o programa de actividades. A nossa apresentação pública será feita em breve.
Angela Camila e António Barreto,
APPh.
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