sexta-feira, julho 10, 2009

Os Ambrótipos e o Processo de Colódio Húmido


Ambrótipo, Luis Pavão. Arquivo Fotográfico de Lisboa, 2009



Workshop do processo do colódio húmido

O processo do colódio húmido, que possibilita a construção de ambrótipos, foi o mais usado em todas as aplicações fotográficas de 1850 a 1880. A observação simples de um negativo sobre uma superfície preta mostra-nos uma imagem positiva à qual se chama ambrótipo. Este workshop do Arquivo Fotográfico visou reproduzir todo este processo, dando a possibilidade a todos os participantes de fazerem um ambrótipo.






Prof. Luís Pavão.




.


Os Ambrótipos e o Processo de Colódio Húmido

O colódio é uma substância de origem vegetal, à base de celulose, que resulta da dissolução de algodão pólvora em éter e álcool. É um liquido viscoso, com cheiro forte e facilmente aderente, mesmo em situações húmidas. A sua descoberta, por Louis Menard, data de 1847 e teve aplicação imediata no isolamento de ferimentos de guerra. Mais tarde foi Desde a sua descoberta que o colódio foi considerado uma possibilidade para a produção de negativos em vidro, mas porque seca rapidamente, não permite produzir imagens fotográficas: uma vez seco o colódio perde a sensibilidade à luz e deixa de ser permeável aos banhos de processamento. Em 1849 surge a ideia de usar o colódio enquanto húmido e realizar todo o processo num usado na fotografia, como meio ligante de provas e negativos.
Os primeiros negativos da história da fotografia eram em papel. Não eram de boa qualidade porque o papel é um material fibroso, apenas translúcido e de superfície irregular. Em meados do século XIX eram populares os negativos em papel para imprimir provas. Contudo, sendo fibroso e pouco transparente, as fibras do papel ficam também impressas na imagem.
O suporte mais adequado para negativos fotográficos no século XIX seria o vidro. Os sais de prata não aderiam ao vidro por si só e seriam lavados na primeira imersão nas soluções de processamento. Seria necessário acrescentar mais qualquer coisa ao vidro, que permitisse segurar os sais de prata para produzir as fotografias.
O primeiro processo fotográfico que surgiu com suporte de vidro foi o negativo de albumina, na década de 1840, usando a clara do ovo, material transparente e de fácil aquisição, como meio de suporte da prata. Embora funcionasse bem, este processo não teve muitos adeptos, porque não permitia produzir chapas rápidas: eram necessários longos minutos de exposição para produzir uma fotografia e os retratos não eram possíveis. Foi usado moderadamente em fotografia de arquitectura e de paisagem no final da década de 1840.
Desde a sua descoberta que o colódio foi considerado uma possibilidade para a produção de negativos em vidro, mas porque seca rapidamente, não permite produzir imagens fotograficas: uma vez seco o colódio perde a sensibilidade à luz e deixa de ser permiavel aos banhos de processamento. Em 1849 surge a ideia de usar o colódio enquanto humido e realizar todo o processo num espaço de tempo curto. Enquanto o colódio se mantém húmido é uma substância porosa, permeável aos líquidos, que funciona bem como meio ligante da fotografia.
Esta descoberta, realizada por Frederick Scott Archer (1813-1857), revelou-se da maior importância para a fotografia e permitiu que toda a produção passasse do velho daguerreótipo para um suporte transparente (vidro), que permite imprimir muitas cópias em papel fotográfico a partir do mesmo original. Outra vantagem foi a maior sensibilidade à luz das placas de colódio húmido, permitiam produzir retratos com exposição mais curta (cinco, três ou mesmo apenas um segundo). Principal destino para as fotografias eram os retratos – era o negócio dos retratos de estúdio que movimentava mais clientes e trazia maiores rendimentos aos fotógrafos.

O processo fotográfico em vidro de colódio vingou e ultrapassou os outros processos em uso. A partir da década de 1850, os fotógrafos existentes e que usavam o daguerriótipo ou o negativo em papel, rapidamente converteram os seus estúdios ao processo do colódio húmido, passando a produzir retratos em papel de albumina impressos a partir de negativos em vidro de colódio e dos quais podiam tirar muitas cópias.O tempo de exposição passou a ser mais curto e tornou-se mais fácil fazer retratos de grupos ou de crianças.
O surgimento do processo do colódio trouxe para a fotografia mais adeptos. Os preços mais baixos e a possibilidade de imprimir muitas cópias chamavam cada vez mais publico para os estúdios de retrato. Assistiu-se a um desenvolvimento da fotografia sem precedentes, o que foi acentuado com a impressão em pequenos formatos, colados em cartão, chamados Carte de Visite e Cabinet. Também a possibilidade de imprimir muitas cópias facilitou a produção de edições de retratos de pessoas importantes, procurados por muitos e vendidos aos milhares, como a família real, artistas de teatro e ópera, escritores, poetas, etc. As vistas de monumentos e lugares distantes, conhecidos até então apenas por meio do desenho, despertaram grande interesse do publico mais culto e curioso. Surgiram álbuns à venda com fotografias de pirâmides do Egipto, Terra Santa, paisagens de cidades e campo.
A produção dos negativos de colódio húmido levantou novos problemas práticos, quando se tratava de fotografar fora do estúdio. Uma vez que este processo era obrigatoriamente executado em poucos minutos, antes do colódio secar, obrigava os fotógrafos em viagem a transportar consigo todo o material necessário para produção das fotografias: câmara fotográfica, tripé, objectiva, vidros em grande quantidade, as soluções de colódio, nitrato de prata, revelador e fixador para processar, uma câmara escura, contentores com água, toda uma parafernália de câmara escura. Para a produção de provas de grande formato muitos destes fotógrafos viajantes transportavam câmaras de grande formato e em madeira, para a produção de negativos até 40x50 cm ou 50x60 cm.
Mesmo com estas dificuldades práticas, o processo do colódio húmido foi o mais usado em todas as aplicações, durante cerca de trinta anos, desde 1850 até 1880 e marca profundamente a fotografia deste período inicial.
Os fotógrafos desta época fotografaram todo o planeta em negativos de colódio húmido: desde as pirâmides do Egipto a monumentos escondidos na areia, o topo de montanhas como o Monte Branco e os Himalaias, zonas inóspitas e longínquas no oeste americano, descobrindo belezas naturais até então desconhecidas. As populações e costumes do Extremo Oriente, como a China e o Japão, as guerras como a Guerra da Crimeia, a Guerra Civil dos Estados Unidos, a Comuna de Paris, foram fotografadas e reveladas ao mundo através de negativos de colódio húmido e das provas de albumina.
A observação simples de um negativo, visto sobre uma superfície preta, mostra-nos uma imagem positiva. Quando este suporte é um vidro, chama-se um ambrótipo. O inventor foi Adolphe Alexandre Martin (1824-1896), que apresentou em 1852 e 1853, duas soluções, uma imagem sobre vidro com fundo em cartolina preta e outra usando um suporte em ferro, pintado de preto. É este o processo que vamos aqui fazer.
Texto de Luís Pavão.
.
.
.
Operações na produção de Ambrótipos

1. Polir os vidros com carbonato de cálcio, álcool e água.
2. Soprar com pêra de sopro e pincel macio.
3. Aplicar a solução de colódio fotográfico sobre a chapa de vidro.
4. Espalhar e devolver o excedente ao frasco.
5. Deixar secar até se tornar pegajoso.
6. Colocar o vidro no suporte de acrílico.
7. Mergulhar na solução de nitrato de prata durante três a cinco minutos.
8. Retirar do suporte e enxugar as costas da chapa de vidro.
9. Colocar no chassis da câmara fotográfica.
10. Tirar a fotografia.
11. Revelar na solução de sulfato ferroso.
12. Lavar em água (pode acender a luz)
13. Fixar no banho de cianeto de potássio, a imagem converte-se em positivo numa tina preta.
14. Lavar em água corrente durante 10 minutos e secar ao ar.
15. Secar a placa na lamparina, até ficar quente.
16. Envernizar com goma de sandarac.
17. Secagem sobre a chama da lamparina.
18. O Ambrótipo deve ser visto sobre um fundo negro para aparecer como um positivo.
.




Soluções para a preparação de Ambrótipos

Banho de Colódio:
.Colódio USP
. Álcool.Éter etílico
. Brometo de cádmio
.Iodeto de potássio
. Água destilada

Banho sensibilizador de Nitrato de Prata:

. Nitrato de Prata 28g
. Água destilada 355 ml
.Acido nítrico ou acético

Banho de revelador:

.Sulfato ferroso 15g
. Água destilada 355 ml
. Ácido acético 14 ml
. Álcool 18 ml

Banho de fixador:

.Água destilada 946 ml
. Cianeto de potássio 14g

Para envernizar as chapas:

.Álcool 14 ml
.Goma de Sandarac 57 g
.Óleo de Lavanda 44 ml
.






.


.
.


A variante Ambrotipia, elaborada por Ascher com a colaboração de Peter Wickens Fry, consistia num positivo directo, obtido com a chapa de colódio. Branqueava-se um negativo sub-exposto de colódio, escurecia-se o dorso com um tecido preto ou um verniz escuro, dando assim a impressão de um positivo. Quando um negativo é colocado sobre um fundo escuro com o lado da emulsão para cima, surge uma imagem positiva graças à grande reflexão de luz da prata metálica. Dessa maneira o negativo não podia mais ser copiado, mas representava uma economia de tempo e dinheiro, pois eliminava-se a etapa de obtenção da cópia. O nome Ambrotipo foi sugerido por Marcos A. Root, um daguerreotipista da Filadélfia, sendo também usado este nome na Inglaterra. Na Europa era geralmente chamado de Melainotipo. Os retratos pequenos, feitos através deste processo, foram difundidos nos anos 50 até serem superados pela moda das fotografias tipo "carte-de-visite".Outra variação do processo colódio, o chamado Ferrótipo ou Tintipo, produzia uma fotografia acabada em menos tempo que o Ambrotipo. Há divergências entre os autores quanto ao criador do processo; para uns, o ferrótipo foi elaborado por Adolphe Alexandre Martin, um mestre francês em 1853, para outros foi Hannibal L. Smith, um professor de química da Universidade de Kenyon, quem introduziu o processo. Este processo era constituído por um negativo de chapa húmida de colódio com um fundo escuro para a formação do positivo; mas ao invés de usar verniz ou pano escuro, era utilizada uma filha de metal esmaltada de preto ou castanho escuro, como suporte do colódio. O baixo custo era devido aos materiais empregados e a sua rapidez decorria das novas soluções de processamento químico.O ferrótipo desfrutou de grande popularidade entre os fotógrafos nos Estados Unidos a partir de 1860, quando começaram a aparecer os especialistas fazendo fotos de crianças em praças públicas, famílias em piqueniques e recém-casados nas porta de igrejas.O inconveniente de todos os processos por colódio era a utilização obrigatória de placas húmidas. Idealizou-se várias maneiras de conservar o colódio em estado pegajoso e sensível durante dias e semanas, de forma que toda a manipulação química pudesse ser realizada no laboratório do fotógrafo em sua casa, mas logo apareceu o processo seco que substituiu o colódio rapidamente: a gelatina.
.


.
.
.