M a r i a José Pa l l a
E x p o s i ç ã o d e Fotog r a f i a s 7 Dezembro d e 2 0 0 7
E x p o s i ç ã o d e Fotog r a f i a s 7 Dezembro d e 2 0 0 7
Auto-Retratos no Labirinto
Nuno Júdice
Nuno Júdice
HÁ UMA SUCESSÃO DE PORTAS DE VIDRO QUE ABREM PARA OUTRAS PORTAS DE VIDRO. Se nos aproximarmos, vemos que nem todas são iguais, embora o pareça. Há portas onde há corpos; e esses corpos talvez não estejam por trás das portas, mas apenas reflectidos nas portas. Digo "apenas" porque esta é a forma mais óbvia de dizer que estes corpos fazem parte dessas portas. Ao abrir o espelho, abrimos cada uma dessas figuras que as portas reflectem; e o que se encontra por trás, como nos espelhos paralelos, é o infinito que se abre, como um poço, ao desejo de saber o que está para além daquilo que se pode saber. Mas num espelho a sabedoria confunde-se com a visão; e se queremos ver o que queremos saber, teremos de saber o que queremos ver. Então, o caminho será outro. Ir de uma porta para outra porta não é o mesmo que ir de um espelho para outro espelho. Para entrar por uma porta teremos de bater à porta, e esperar que nos abram; e se não houver ninguém por trás da porta, ficaremos à espera, como se esse fosse o destino natural de quem quer entrar sem ter a chave de todas as portas. Do outro lado, porém, também pode haver quem queira fazer esperar; e enquanto se espera há tempo para fixar cada pormenor da porta, a não ser que essa porta seja um espelho. Então, o que se fixa é cada pormenor da imagem de quem está à espera reflectida nessa porta que é um espelho; e talvez que, no fim, quem esteja à espera descubra que, afinal, é ele mesmo quem está do outro lado do espelho, a fazê-lo esperar por si próprio. Os dois, porém, ele e ele mesmo, nunca se irão encontrar.
É ESTA ENGRENAGEM LABIRÍNTICA QUE A FOTOGRAFIA DE MARIA JOSÉ PALLA PÕE EM MOVIMENTO. Vai fazê-lo, porém, como uma encenação, quase um bailado, de onde surgem figuras e sombras que se interpõem entre a câmara e o olhar, desviando a atenção para outros espaços onde, por vezes, é possível sairmos da beleza vestida de angústia que alguns destes caminhos põem no palco que a sua objectiva enquadra para um desenho quase abstracto do mundo que se abre entre os corpos e os objectos. Vemos o trabalho; mas descobrimos também que ele resulta de um jogo formal que desemboca na luz e na cor, em contraponto ao negro de certas portas, de certos espelhos, de certos planos. Espaços sem tempo, mas em que o espaço vai desenhando uma constelação geométrica que se liberta dos actores, transformados em sombras ou reflexos fugitivos num fundo quase fantasmático. Finalmente, no centro – mas tão no centro que a sua presença se torna transparente, como essa objectiva que o olhar atravessa na transmutação da realidade em cena fotográfica - a autora vai tornar-nos cúmplices do seu projecto. Para onde olha? Olha-nos? No fundo, vê para ser olhada - e nesse olhar colectivo, que é o olhar de cada um de nós, que adivinhamos à sua frente, recomeça o jogo inúmero dos espelhos.